25 novembro 2012

Melancolia... em dia de chuva

Um beijinho para C.
                                                 Do filme "Melody" - "First of May" (Bee Gees)

13 novembro 2012

post 1000






Alguns sons
são tão suaves
que parecem a vibração do silêncio

Pintura: Arshile Gorky; Música de Mahler; Poema: de António Ramos Rosa.

Foi assim o marcas d' água nos seus 1000 post.

Aqui celebrámos as cores, os sons e as palavras, em tudo o que fazem tornando sublimes os  dias e a Vida.

08 novembro 2012

Ondjaki, o mágico

(    ....  )    -  ainda me diz qual e a cor desse fogo

o Cego falou em direcção á mão do miúdo que lhe segurava o corpo pelo braço, os dois num medo de estarem quietos para não serem engolidos pelas enormes línguas de fogo que saiam do chão a perseguir o céu de Luanda

- se eu soubesse explicar a cor do fogo, mais-velho, eu era um poeta desses de falar poemas.
    com voz hipnotizada o VendedorDeConchas acompanhava as tendências da temperatura e guiava o Cego por entre caminhos mais ou menos seguros onde a agua jorrante dos canos rebentados fazia corredor para quem se atrevia a circular por entre a selva de labaredas que o vento açoitava

-  te peço, vê você que tens vistas abertas, eu estou sentir na pele, mas quero ainda imaginar na cor desse fogo
     O Cego parecia implorar numa voz habituada a dar mais ordens que caricias, o VendedorDeConchas sentiu que era falta de respeito não responder áquela duvida tão concreta que pedia, numa voz de carinho, uma simples informação cromática,
   embora difícil e talvez impossível 
  O miúdo puxou de dentro de si umas lagrimas quentes que o levassem até á infância porque era aí , nesse reino desprevenido de pensamentos, que uma resposta florida podia nascer, viva e fiel ao que via

- não me deixe morrer sem saber a cor dessa luz quente...
as labaredas gritavam com  força e mesmo quem fosse cego de ver devia sentir uma sensação amarela de invocar memórias, peixe grelhado com feijão de óleo de palma, um sol quente de praia ao meio dia, ou o dia em que o ácido da bateria lhe roubou a animação de ver o mundo

-   mais-velho, estou a esperar um voz de criança para lhe dar uma resposta  (.....) 

Ondjaki, Os Transparentes , Ed. Caminho, 2012

07 novembro 2012

Em viagem ...

(If only - Dave Matthews Band)
Gostei de ouvir... e ainda mais quando vi a letra. Assim, sempre posso fazer um karaoke doméstico!

05 novembro 2012

Geração dos "...ados"


Não sou muito pró-Miguel Sousa Tavares. Pronto, já arranjei mais um/muitos "inimigo(s)"!
Contudo, hoje ao ouvi-lo falar no "Jornal da Noite" (SIC) sobre a geração dos "...ados", i.e. desempregados, emigrados e reformados, vi-me a engordar a lista de muitos outros "...ados":
- complicados
- desesperados
- extenuados
- desmotivados
- exasperados
- atafulhados
- anquilosados
- desfasados
... / ...
E a lista poderia ir por aí fora, não é? Apesar dos pesares, também os há:
- empenhados
- emancipados
- desapegados
- aperaltados
- alcandorados
... / ...
Quem me acaba este rol de "...ados", para que a nossa/vossa geração possa realmente ver a tal "luz ao fundo do túnel" que não seja outro comboio?

04 novembro 2012


.....Vitória era uma mulher tão poderosa como se um dia tivesse encontrado uma chave. Cuja porta, é verdade, havia anos se perdera. Mas, quando precisava, ela podia se pôr instantaneamente em contato com o velho poder. Já sem nomeá-lo, ela por dentro chamava de chave aquilo que sabia. Não se indagava mais o que tanto soubera; mas vivia disso.

Foi, pois, procurando o auxílio de tudo o que sabia que ela mais tarde olhou absorta o prato de comida que o homem esvaziara na cozinha. Tentou também imaginá-lo a instalar a porta do depósito de lenha. Ela lhe dera a porta do depósito, grande e estranho objeto a se dar. Como a vinda totalmente imprevisível do homem já tinha quebrado um certo círculo de ordem em que ela se movia como dentro de uma lei, com relutância foi obrigada pelo menos a reconhecer que alguma coisa sucedera, embora não soubesse dizer o quê. Então pensou, um pouco constrangida com seu próprio ato livre, e de algum modo curiosa: “é a primeira vez que dou uma porta a alguém”. O que a enraizou numa sensação sem saída. Era a segunda vez que o homem a perturbava....

(Clarice Lispector, A Maçã no Escuro)
Pintura Fernando Botero