...Perante a revelação da minha verdadeira identidade, tive de aprender pouco a pouco a aceitar uma nova história, uma nova família e novas origens. E durante essa aprendizagem, senti-me muitas vezes paralizada, forçando-me a rejeitar subitamente uma parte das minhas ideias e da minha própria pessoa. Este processo alcançou o seu ponto culminante em 2007 e acabou por me permitir resolver as minhas contradições e aceitar todo o meu percurso passado: o bem e o mal, a verdade e a mentira. Sou um produto da ditadura, mas sou também o produto do carinho que Raúl e Gaciela me souberam dar. Reconheço-me neles tanto como em Cori e no "Cabo", os quais sinto que amo, apesar de nunca os ter conhecido. Não sou menos a sobrinha do antigo chefe dos serviços de informação da ESMA, o assassino do seu irmão e da sua cunhada, do que a adolescente extasiada diante dos Caballeros de la Quema. Assim, não sou menos Analía do que Victória..
Victoria Donda, O Meu Nome é Victoria, Editorial Bizâncio, 2011
Victoria Donda é hoje a mais jovem deputada da Argentina. Nasceu durante a ditadura militar, em 1977, em Buenos Aires no centro de detenção clandestino da Escola Superior de Mecânica da Marinha (ESMA).
Como outras centenas de bébés, Victória foi retirada à mãe pouco depois de nascer.
A mãe, Cori, antes da filha lhe ser roubada, coseu-lhe dois fios azuis nas orelhas para que pudesse ser identificada como a sua filha. Este gesto foi, depois, essencial para a descoberta do percurso seguido pela menina.
Cori foi mais tarde lançada (viva) de um avião com outros companheiros no rio de La Plata. O pai teve o mesmo destino, ambos denunciados e, provavelmente, executados sob responsabilidade de um seu irmão.
Aos 27 anos, Victoria descobre, através da organização das Avós da Praça de Maio, que Analía é o nome que a família a quem foi entregue lhe deu na sequência do assassínio da mãe. Raúl, o "pai", é um torcionário da polícia.
O livro, é um relato intenso do colapso brutal da vida de Victória / Analía e da necessidade de reconstruir toda a sua história e identidade. Escrito com uma autenticidade e uma maturidade que impressiona pela lucidez, Victoria Donda elabora uma narrativa que nos agarra na primeira página e onde está presente a história da Argentina desde os anos 70 até aos nossos dias. Nele estão retratados os actores essenciais do seu percurso pessoal e, de forma mais ampla, os responsáveis pelos caminhos do país nos últimos 30 anos.
Um livro que nos revela o combate heróico duma geração torturada e assassinada, e nos ensina como o ódio e a indignidade em que se alicerçam as ditaduras existe e germina dentro de gente capaz de tudo no combate aos seus adversários.
Victoria Donda, O Meu Nome é Victoria, Editorial Bizâncio, 2011
Victoria Donda é hoje a mais jovem deputada da Argentina. Nasceu durante a ditadura militar, em 1977, em Buenos Aires no centro de detenção clandestino da Escola Superior de Mecânica da Marinha (ESMA).
Como outras centenas de bébés, Victória foi retirada à mãe pouco depois de nascer.
A mãe, Cori, antes da filha lhe ser roubada, coseu-lhe dois fios azuis nas orelhas para que pudesse ser identificada como a sua filha. Este gesto foi, depois, essencial para a descoberta do percurso seguido pela menina.
Cori foi mais tarde lançada (viva) de um avião com outros companheiros no rio de La Plata. O pai teve o mesmo destino, ambos denunciados e, provavelmente, executados sob responsabilidade de um seu irmão.
Aos 27 anos, Victoria descobre, através da organização das Avós da Praça de Maio, que Analía é o nome que a família a quem foi entregue lhe deu na sequência do assassínio da mãe. Raúl, o "pai", é um torcionário da polícia.
O livro, é um relato intenso do colapso brutal da vida de Victória / Analía e da necessidade de reconstruir toda a sua história e identidade. Escrito com uma autenticidade e uma maturidade que impressiona pela lucidez, Victoria Donda elabora uma narrativa que nos agarra na primeira página e onde está presente a história da Argentina desde os anos 70 até aos nossos dias. Nele estão retratados os actores essenciais do seu percurso pessoal e, de forma mais ampla, os responsáveis pelos caminhos do país nos últimos 30 anos.
Um livro que nos revela o combate heróico duma geração torturada e assassinada, e nos ensina como o ódio e a indignidade em que se alicerçam as ditaduras existe e germina dentro de gente capaz de tudo no combate aos seus adversários.
2 comentários:
Realmente, a história de Victoria é comovente...Muito bom Paulo!
Nina Blue, história de vida comovente e duma dignidade exemplar. Um ser de excepção.
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