Nada fazia prever - principalmente porque Pegeen Mike Stapleford vivia como lésbica desde os vinte e três anos - que quando ela tivesse quarenta anos e Axler sessenta e cinco se tornassem amantes que se telefonariam todas as manhãs ao acordar e sofregamente passariam juntos o tempo livre em casa dele, onde, para gáudio dele, ela se apropriou de dois compartimentos para seu uso, um dos três quartos de dormir no primeiro andar para as roupas e o escritório do rés-do-chão, ao lado da sala de estar, para o portátil. Havia lareiras em todos os compartimentos do rés-do-chão, mesmo na cozinha, e quando Pegeen estava a trabalhar no escritório tinha sempre a lareira acesa. Vivia a pouco mais de uma hora de distância dali, percorrendo estradas de montanha sinuosas e onduladas, por entre campos de cultivo, que a traziam até à propriedade dele, vinte e dois hectares de campo aberto e uma grande e antiga casa de campo branca com portadas pretas, emoldurada por plátanos antigos e grandes freixos, e muros altos de pedra tosca. Não vivia ninguém, além deles, nas redondezas. Durante os primeiros meses raramente saíam da cama antes do meio-dia. Não conseguiam estar um sem o outro.
E no entanto, antes de ela chegar, ele tinha a certeza de estar acabado: acabado para o teatro, acabado para as mulheres, para as pessoas, definitivamente acabado para a felicidade. Estava há mais de um ano com graves problemas físicos, mal conseguindo dar dois passos ou estar muito tempo de pé ou sentado, por causa das dores da coluna que tinha conseguido suportar durante toda a idade adulta mas cuja evolução debilitante se tinha acelerado com a idade - e portanto tinha a certeza de que estava arrumado em todos os aspectos.
Philip Roth, A Humilhação, Ed. Dom Quixote, 2011
Pintura: Eric Fischl
Philip Roth, A Humilhação, Ed. Dom Quixote, 2011
Pintura: Eric Fischl
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