corto uma fatia da tarde e dou-me ao luxo da preguiça.
curiosa dessas portas meio abertas, navego, mas todo o jogo de reflexos é próximo da miragem: há muito que não me encontro com as leituras de auster, e cansada dos trabalhos de babel, vou adiando a catharsis dos meus dramas filosóficos.
abro a janela. por ela entram ainda paisagens salvíficas para o meu olhar breve que, enublado de teimosa melancolia, viaja no tempo, caminha por entre abencerragens, falcoeiros e castelos mouriscos, como quem limpa o pó aos livros ou refaz a trama de um velho agasalho .
regresso à natureza do meu mal: dou corda a um relógio parado no tempo de vermeer; limpo do texto os excessos e risco símbolos, ruídos de horas extraordinárias que ensurdecem qualquer pensamento musical. desço por vezes à matriz de outros sonhos, descubro outros lugares, novos mundos povoados de fantasmas ou barcos com flores, perfeitos para as minhas provas de contacto com a realidade que me importa.
Tornei-me desgraçadamente sensível à anarquia do riso por entre todas as dúvidas metódicas. dizem-me alguns que há vida noutros planetas, mas eu descubro nessa ronda dos astros a irónica comédia de todos os cais de partida em amsterdam.
[devaneio estranho, este, pois o que interessa mesmo é irmos andando, num thriller de mortos-vivos e salmos de david.
com ou sem arrastão, e a jugular exposta ao golpe, sentar-nos-emos à direita de deus pátria, sem meditação à esquerda que nos reflicta, ou brumas de avalon que nos encantem.]
com ou sem arrastão, e a jugular exposta ao golpe, sentar-nos-emos à direita de deus pátria, sem meditação à esquerda que nos reflicta, ou brumas de avalon que nos encantem.]
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14 comentários:
lindo, digo eu!
É lindo! Parabéns pela originalidade, pela criatividade, pela lembrança de nos ter colocado no meio de tanta beleza.Obrigada.
Bem giro!
um abraço
... autêntico solfejo de palavras!
Comecei a ler, até que identifiquei a genialidade desta soldadura literária, contas de um rosário de sãs e belas cumplicidades.
Parabéns, por este post inédito.
Abraço
César
Querida C.,
Belíssima reflexão sobre um estado de alma que partilho... Tenho dado por mim sem tempo para nada de jeito e acabo por me ir encontrando de fugida com alguns amigos da blogosfera no Facebook, lugar mais imediato...
Até na blogosfera a crise se reflecte...
Grande abraço.
Texto saboroso
num péssimo tempo
para agricultura
Que bem me soube ler este belissimo texto!
Obrigada.
Abraço grande.
Eu é que agradeço a vossa generosidade e a vossa presença nessas esquinas onde me ponho a vadiar.
:-)
Abraço a todos
Bem bonito! Obrigada por fazer parte da deambulação.
Belíssimo!
sempre criativa e original, querida C. :)
uma honra constar neste périplo!
beijinho e obg.
Linda deambulação encontrei neste luxo de palavras .
Um abraço
________ zé
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