...Vivíamos então em Esposende numa pequena casa de praia que comprámos à senhoria, uma senhora não sei se dinamarquesa. Foram quatro anos em que escrevi muito e conheci dias bons com o mundo e comigo mesma. Minha filha estava no colégio interna, meu marido advogava no Porto e saía de tarde, voltando à noite, ficando eu e os gatos numa espécie de encantamento, a ouvir o suspiro do mar. Vinha à porta o carrinho da fruta, e a mulher que vendia dizia: " não sei como se dá nesta pasmaceira". Para ela toda a boa fruta era do Douro, inclusive as bananas. Não passava ninguém na rua, os tamarindos vergavam com o vento. A peixeira Cravelha ensinou-me a tirar a pele às azevias...
Agustina Bessa-Luis, O Livro de Agustina Bressa-Luis, Guerra e Paz, 2007
Música: Erik Satie, Gnossienne nº5 (Reinbert De Leeuw)
Foto: C.
Foto: C.
5 comentários:
Grato por mais uma magnífica sugestão de leitura.
E parabéns à C., que já nos habituou à qualidade das suas fotos.
Um abraço
João Morais
"Ouvir o suspiro do mar" ou ficar numa espécie de encantamento tendo por companhia os gatos, pode até ser uma "pasmaceira" mas é uma pasmaceira que me agrada.
Uma boa semana!
Esplêndida foto de C.!
Uma excelente sugestão de leitura - aprecio imenso a Agustina Bessa-Luís.
Abraços.
João Morais, Agustina escreve duma forma soberba. Este livro tem momentos fantásticos. Boa leitura.
relogio,é a doce pasmaceira que nos reconcilia com o mundo. Obrigado.
Ana Paula, obrigado (s). Beijinho
maravilha...
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