12 outubro 2010

Palavras


Um bando de palavras agrediu-me.
Primeiro, de soslaio, temerosas, ao de leve.
Depois, aos safanões, bruscamente.
Seguiu-se o rodopio de bofetadas, o caos, o desesperante muro de silêncio partilhado.
Atordoada, infeliz, miserável, as mãos na cabeça, a tentar defender-me das bicadas dos rês e dos vês, a torturante veemência dos tês, a sibilância dos sês, a vulgaridade de um mê ou a secura final do nê de Não.
Despojada, envolta em farrapos de mim, jazia, inerte. As dores atormentavam-me  frases por dizer.
Finalmente o silêncio na planura.
O bando de palavras dispersou, extenuado. Algumas ficaram suspensas nas árvores, outras caíram ao rio e afogaram-se.

Deste lado, do silêncio, sairão borboletas azuis pinceladas a ouro.

3 comentários:

Mar Arável disse...

Nos ciclos das marés

há palavras que voam

outras que se conquistam

clara disse...

Mar, pois é, tantas palavras inúteis, outras que ficam por dizer.
Obrigada, um abraço.

Paulo disse...

... e sairão de cá também palavras que envolvem, comfortam e dão combate à outras.
Beijo