Um bando de palavras agrediu-me.
Primeiro, de soslaio, temerosas, ao de leve.
Depois, aos safanões, bruscamente.
Seguiu-se o rodopio de bofetadas, o caos, o desesperante muro de silêncio partilhado.
Atordoada, infeliz, miserável, as mãos na cabeça, a tentar defender-me das bicadas dos rês e dos vês, a torturante veemência dos tês, a sibilância dos sês, a vulgaridade de um mê ou a secura final do nê de Não.
Despojada, envolta em farrapos de mim, jazia, inerte. As dores atormentavam-me frases por dizer.
Finalmente o silêncio na planura.
O bando de palavras dispersou, extenuado. Algumas ficaram suspensas nas árvores, outras caíram ao rio e afogaram-se.
Deste lado, do silêncio, sairão borboletas azuis pinceladas a ouro.
3 comentários:
Nos ciclos das marés
há palavras que voam
outras que se conquistam
Mar, pois é, tantas palavras inúteis, outras que ficam por dizer.
Obrigada, um abraço.
... e sairão de cá também palavras que envolvem, comfortam e dão combate à outras.
Beijo
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