Sabe-se desde Durkheim que o casamento prejudica as mulheres e beneficia os homens. Um século mais tarde, devemos acrescentar alguns matizes a esta afirmação, mas a injustiça doméstica subsiste: a vida conjugal tem sempre um custo social e cultural para as mulheres, tanto na partilha das tarefas domésticas e na educação das crianças, como na evolução das suas carreiras profissionais e na remuneração. Hoje, mais do que o casamento, que perdeu o seu carácter de necessidade, é a vida a dois e sobretudo o nascimento da criança que pesa sobre as mulheres. A união de facto, muito vulgarizada, não pôs fim à desigualdade doméstica ainda que os inquéritos demonstrem que é mais favorável ao casamento. Pelo menos no início da vida a dois, porque a chegada de um filho aumenta muito as horas domésticas da mulher, enquanto o homem, como pai, se dedica mais à profissão. Segundo F. de Singly. " a dimensão do trabalho doméstico - e a sua justificação - resulta menos das necessidades dos homens do que das exigências, supostas ou não, das crianças. A saída de casa dos filhos demonstra de modo quase experimental que o custo da vida conjugal deriva em grande parte do custo dos filhos".
É verdade que quanto mais qualificadas são as mulheres, menos trabalhos domésticos fazem e mais trabalho profissional têm, sem que por isso o companheiro trabalhe mais em casa.
O capital escolar da mulher, nota François de Singly, serve antes de mais para recorrer a serviços exteriores à família, situação a que não se podem permitir as mães menos dotadas que têm uma actividade profissional. Daí, esta observação do sociólogo que não deixa de ter reflexos sobre a maternidade: " A revolução dos costumes aproximou os homens e as mulheres mais qualificados ao mesmo tempo que afastou estas mulheres das ooutras menos qualificadas". Enquanto as primeiras tendem a investir mais no seu trabalho, ao ponto de por vezes renunciarem à maternidade, as segundas fazem a escolha contrária sobretudo quando o trabalho é raro e mal pago! A desigualdade social que se junta à dos géneros tem uma influência enorme no desejo de ter filhos.
Elizabeth Badinter, O Conflito a Mulher e a Mãe, Relógio D'Água, 2010
Pintura Jusepe de Ribera
2 comentários:
A pintura é bastante sugestiva e o artigo é muito interessante.
A ideia de que o casamento prejudica as mulheres e beneficia os homens, é em parte verdade mas também é bastante discutível... também existe o inverso :), em situações excepcionais, prejudica os homens e beneficia as mulheres e isto, é igualmente discutível.
Acho que, aquilo que é posto em causa neste texto, é um pouco a questão da mentalidade e uma evolução do papel social da mulher... Enfim, temas que dariam muito pano para mangas.
Boa semana!
relogio de corda, o interessante na reflexão de E. Badinter é a questão de que, aparentemente, algumas conquistas sociais das mulheres (licença de parto alargada, licença de aleitamento, p.ex), ao confinarem-nas por um tempo muito dilatado a tarefas "domésticas" vêm resultar num retrocesso pois retiram-lhes, de facto, capacidade competitiva no trabalho e acentuam a falta de paridade na maioria das relações conjugais. São conceitos polémicos e que merecem reflexão. Obrigado
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