27 dezembro 2010

Um dia, a luz do sol afagou pela última vez as roseiras


... Esta conta não pagarás:
- ficará sob uma cinza que não sabes.
Sob a cinza que ainda não sabes
ficará teu filho por nascer
e também os meninos que já sabiam desenhar nos muros.


Ficarão os figos que ontem puseste na cesta.
Ficarão as pinturas da tua sala
e as plantas do teu jardim, de estátuas felizes,
sob a cinza que não sabes.


Os gladiadores anunciados não lutarão
e amanhã não verás, próximo às termas,
a mulher que desejavas...

Tu ficarás com a chave da tua porta na mão;

tu, com o rosto da amada no peito;
amo e servo se unirão, no mesmo grito;
os cães se debaterão com mordaças de lava;
a mão não poderá encontrar a parede;
os olhos não poderão ver a rua.


As cinzas que não sabes voarão sobre Apolo e Ísis.
É uma noite ardente, a que se prepara,
enquanto a luz contorna a coluna e o jato d’água:
- a luz do sol que afaga pela última vez as roseiras verdes.



Cecília Meireles, Presença em Pompeia
Foto: C.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para Clara Sacramento.
Desculpa a maneira de entrar em contacto contigo.
Conheces o Carlos Soares ? Diz qualquer coisa. meu email é carlos.amaral.soares@gmail.com

Paulo disse...

Carlos,experimente no Facebook!
Abraço.