23 outubro 2012

No rasto da tristeza


Há coisas tristíssimas
Um pássaro num ramo seco de árvore
O ramo sem peso
O homem pobre passa  e sopra
Diz
 - o  cabrão  fugiu –

 As  coisas  tristes voam sem grau
 O  tempo não tem distinção
 Chove na luz  do lodão
 Um outono fraco e vil de ruído

 Há uma dor tão fina
 Sem  saudação e olhos  
 Como o pássaro  sem peso  
 No sopro do homem à passagem

 Hoje à  tarde não esperei a folha caída da árvore
 O  homem adiante caminha desde ontem  
 Vai  a  soprar  o ar da fome escondida
  E  diz em frente da  loja do chinês
  Aqui  há de tudo

 Já  cortaram o ramo seco do lodão sem o pássaro
 E  o homem  vai  lá  a frente  e diz
 _o  cabrão  fugiu - 

1 comentário:

C. disse...

Que bom rever-te aqui! Sobretudo o prazer dos versos teus. Fabuloso este: "as coisas tristes voam sem grau".
Valeu a pena esperar por ele.

Abraço grande.