...Outro dia caiu-me nas mãos um velho exemplar do "Diário de Notícias", também ele cheio de nomes de gente importante (ministros, deputados, militares, comerciantes), de tragédias, de "fait divers". E, todavia, o único acontecimento que, em todo o jornal, me dizia ainda alguma coisa, umas poucas dezenas de anos depois, era uma pequena nota de duas ou três linhas numa página interior: um certo "sr. Mário de Sá-Carneiro" tinha publicado um livro de versos!
Daqui a 50 ou 100 anos, o mais que algum rato de Universidade conseguirá provavelmente sobre Cavaco Silva, depois de ter vasculhado em todos os arquivos, é que foi um primeiro-ministro do tempo de Eugénio de Andrade...
(Manuel A. Pina, JN, 2/9/92)
Manuel António Pina foi um Poeta maior.
Foi-o, igualmente, na escrita diária, sofrida, exigente e comprometida das Crónicas.
Dizia ele que as crónicas de jornal duram um dia e morrem. Enganou-se.
Porque, como também escreveu: Às vezes, no fundo das páginas onde jazem e amarelecem, algo parecido com uma réstea de vida (será alguma misteriosa forma de alma, terão as crónicas alma?) nelas continua a pulsar.
Aqui no Marcas faremos prova disso. Durante as próximas semanas tentaremos, diariamente, dar a conhecer a alma e o pulsar das Crónicas do Poeta.
Vai fazer-nos bem a todos.
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