31 março 2010

O presságio dos noitibós


Toda a noite os noitibós chiaram lá para os lados da ribeira, e eu, que agora estou aqui sentada ao pé do lume, sei que nada de bom está para acontecer.
A minha mãe contava-me que, quando o meu pai saiu de casa para ir viver com uma mulher que conheceu numa feira, também os noitibós não se calaram toda a noite.
Não sei o que me espera, mas o meu homem saiu de manhã, dizendo que ia fazer o avio à vila, e já o sol se pôs, já a lua vai alta e ele não aparece. Por duas vezes os cães soaram lá fora a ladrar, enfurecidos. Até parecia que alguém andava a rondar o monte. E eu aqui sozinha, à espera que ele volte. Já pensei em tanta coisa: a ribeira vai cheia e pode ter caído à água ao passar o açude do moinho; podem tê-lo morto em alguma taberna; ou estar caído de bêbado aí numa vereda da serra.
Logo aquele homem se havia de lembrar de fazer o avio hoje, que eu estava de amassadura e não podia deixar o monte para ir com ele, como sempre faço.
Fiquei cabeceando de sono à volta do lume, pensando que ainda tinha de passajar as calças do homem, para ele levar à feira no outro dia.
Levantei-me, fui ao quarto de dormir, abri a arca e nem uma peça de roupa do meu homem lá estava.
A minha mãe dizia-me que, quando os noitibós chiam à noite, anunciam sempre alguma desgraça. E olhem que ela tinha razão.

Joaquim Mestre, Breviário das Almas, Oficina Do Livro,2009
Imagem: Karl Addison

29 março 2010

Em tempo de crise

Não esquecemos o Goofus Bird, pássaro que constrói o ninho ao contrário e voa para trás, porque não lhe interessa para onde vai, mas onde já esteve.

Jorge Luis Borges, O Livro dos Seres Imaginários, Ed. Teorema

28 março 2010

Texto Privado


«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

José Saramago - Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148

cámone man, dá-me um travão (ou give me a break)



roubado(stolen) aqui(here)

27 março 2010

Para os que gostam de jazz e boa literatura (e para os outros, claro)

Sugestão: Leia o texto, veja e ouça o videoclip e leia de novo
(depois, volte a ouvir e a ler as vezes que apetecer).


...Quando Thelonious se senta ao piano, toda a sala se senta com ele e produz um murmúrio colectivo do tamanho exacto do alívio, porque o percurso tangencial de Thelonious pelo palco tem qualquer coisa de rigorosa cabotagem fenícia com prováveis encalhamentos nas Sirtes, e quando a nave de mel obscuro e capitão barbudo chega ao porto, é recebida pelo cais maçónico do Victória Hall com um suspiro como que de alas apaziguadas, de cais alcançado. Então é o Pannonica ou o Blue Monk, três sombras como espigas rodeiam o urso entretido a investigar as colmeias do teclado, as garras toscas e bondosas vão e vêm por entre abelhas desconcertadas e hexágonos de sustenido, passou apenas um minuto e já estamos na noite fora do tempo, a noite primitiva e delicada de Thelonious Monk.(...)Depois, quando Charles Rouse dá um passo na direcção do microfone e o seu saxo desenha imperiosamente as razões pelas quais ali está, Thelonious deixa cair as mãos, ouve por um instante, pousa ainda um leve acorde com a esquerda, e o urso levanta-se e abana-se, farto de mel ou à procura de um musgo propício para a modorra, sai do tamborete e apoia-se na ponta do piano, marcando o ritmo com um sapato e o barrete (...) dando imperceptivelmente início a um safari de dedos pela borda da caixa do piano enquanto se balança cadenciadamente porque Rouse, o contrabaixista e o percussionista estão enredados no próprio mistério da sua trindade, enquanto Thelonious viaja vertiginoso sem se mover (...) Charles Rouse está a deixar as últimas, veementes, largas e admiráveis pinceladas de roxo e vermelho, sentimos o vazio de Thelonious,(...) a interminável diástole de um só coração imenso onde latem todas as nossas dores, e é exactamente nesse momento que a sua outra mão se apropria do piano, regressa nuvem a nuvem até ao teclado, passeia os dedos indecisos pelo ar, deixa-os cair e estamos salvos, temos Thelonious capitão, há rumo para um bom bocado, e o gesto de Rouse ao recuar, enquanto desprende o saxo do suporte, tem algo de entrega de poderes, de legado que devolve ao Doge as chaves da sereníssima.

Julio Cortázar, A Volta ao Piano de Thelonious Monk

A fantástica descrição de J. Cortázar do Concerto de Telonious Monk no Victória Hall de Genebra (Março de 1966), de que transcrevi um fragmento, é uma peça literária que mostra e sublinha o valor de um dos maiores escritores do século XX. Aqui

24 março 2010

O genocídio de uma geração

Argentina, 24 de Março de 1976, faz hoje 34 anos. Uma Junta Militar composta pelos comandantes dos três ramos das Forças Armadas - o general Jorge Rafael Videla, o almirante Emílio Eduardo Massera e o brigadeiro Orlando Ramón Agosti – desencadeia um golpe militar, toma o poder e dissolve o Congresso.
Inicia-se nesse dia a ditadura militar mais violenta da história da Argentina,
a chamada guerra sucia, em que uma brutal maquina repressiva estatal, impôs um verdadeiro genocídio.
Entre 1976 e 1979, foram dadas como desaparecidas cerca de 9 mil pessoas identificadas pela Comisión Nacional sobre la Desaparición de Personas. Outras fontes apontam até 30 mil desaparecidos. Nesse período ainda, foram criados mais de 350 campos de concentração.
De todas as atrocidades cometidas pela ditadura, o assassínio das jovens mulheres que davam à luz, com a entrega dos filhos aos seus torturadores ficará para a história da Humanidade como uma das suas mais horrorosas perversidades.
Nestes dias de 2010, continua a exemplar acção das Avós da Praça de Maio na recuperação destas vítimas. O neto 101: Francisco Madariaga Quintela, filho de Silvia, jovem médica presa em 17 de Janeiro de 1977 grávida de 4 meses, foi finalmente "descoberto". Viveu 32 anos com o militar responsável pelo assassínio da mãe.
Anos con un vacío adentro inexplicable, disse.

Ler também Aqui

23 março 2010

Marcelas Owens, um herói do nosso tempo



Esteve, por direito próprio, ao lado de Barack Obama no momento da assinatura da Lei que consagrou o acesso a cuidados médicos para 36 milhões de americanos.
Marcelas Owens, o menino de 11 anos, foi um dos rostos visíveis do combate para aprovação da Lei.
Enfrentou com exemplar coragem uma miserável campanha de calúnias e provocações, apenas por querer que mais ninguém tivesse o destino de sua mãe, falecida aos 27 anos sem poder ser tratada por não ter dinheiro.

21 março 2010

amor de palavras


Tenho por ti um amor como palavras
de lugares guardados e suspensos
um amor de renúncia de cuidados
fechado em cada pedra de caminho
Sinto por ti um amor 
como dizer
um amor descontinuado
solitário
e no entanto
nele tropeço e me magoo
nele renasço e me suplico
me divino
e me liberto.

Dia Mundial da Poesia



queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma!
(Mário Cesariny )

20 março 2010

(Re) começos




Equinócio significa, a partir do latim, "noites iguais". Os Equinócios acontecem em Março e Setembro, nas duas ocasiões em que o dia e a noite tem duração igual. No hemisfério Norte, em Março, Equinócio de Primavera (chamado de Verão ou Vernal), e em Setembro, o Equinócio de Outono.
O "nosso"Equinócio de Primavera (hemisfério Norte) ocorre nos dias 20 ou 21 de Março e o de Outono em 22 ou 23 de Setembro. A data varia devido aos anos bissextos, que deslocam o calendário das estações em um dia.
A partir de hoje, façam como os passaritos, sintam, sorriam e cantem, mesmo que não vejam o sol... É Primavera, ele está lá.
* Nigel Kennedy, Primavera I, Vivaldi

18 março 2010

Para chinês ver

**

Dados mais relevantes da Expo 2010 Shanghai:

• Recinto de exposição: 528 ha
• Países participantes esperados: 192
• Organizações internacionais: 50
• Duração da exposição: 184 dias – de 1 de Maio a 31 de Outubro de 2010
• Previsão de visitantes: 70 milhões
• Área do pavilhão de Portugal: 2.000m2
• Previsão de visitantes do Pavilhão de Portugal: 3 milhões

O Pavilhão de Portugal, com uma área de 2.000 m2, está em construção e estará terminado até dia 15 de Abril, duas semanas antes do arranque oficial da Expo 2010 Shanghai, a 1 de Maio de 2010. Este Pavilhão apresenta uma fachada revestida de cortiça, material nacional, reciclável e ecológico. Trata-se de um exemplo de inovação e de boas práticas ambientais que potenciam a imagem de Portugal na maior Exposição Universal alguma vez realizada. Reflecte o conceito de sustentabilidade dos edifícios das cidades contemporâneas e realça-o como elemento-chave das políticas nacionais em termos económicos e ambientais.

Portugal terá investido 10 milhões de euros - dos quais três são aplicados nas obras do interior do pavilhão - para se promover na principal montra do mundo, que a China pretende transformar na "maior e melhor" de toda a História, e "potenciar a actividade económica" com o gigante asiático, considerado pela AICEP um "mercado estratégico e prioritário" para diversificar as exportações.
Com base no lema da Expo 2010 "Melhor Cidade, Melhor Qualidade de Vida", Portugal vai apresentar-se como "uma praça para o mundo"e "um mundo de energias", e irá, por isso, dispor de uma recriação da Praça do Comércio no interior do pavilhão como "lugar central da vida e actividades urbanas, de memórias e mudanças". Mais aqui.

** Asseguraram-me que a tradução do ideograma em cima é: "crise". É formado pelos ideogramas : risco (perigo) e oportunidade.

(vou ali perguntar à Catarina se ela quer aprender a lengalenga: ...shangai-xeque/xeque-mate/mate quem?/mate o senhor/senhor-dos-passos/paços-do-concelho/conselho-de-guerra/guerra da china/china- shangai/shangai-xeque......acho que era assim.)

15 março 2010

O PEC, a crise e o túnel sem luz ao fundo


...O grande raciocínio que sustenta a actual estratégia económica é importado da caça: o importante é não afugentar. Não convém taxar os lucros dos bancos e das grandes empresas para não afugentar o investimento. É desaconselhável taxar as transacções da bolsa para não afugentar o capital. Quem sobra? Os trabalhadores - que, além de serem muitos, são gente que não se deixa afugentar, porque precisa mesmo do emprego. Um trabalhador por conta de outrem trabalha, na verdade, por conta de dois, digamos, outrens: por conta do empregador e por conta do Estado. São os trabalhadores, e não as empresas e os bancos, os grandes "criadores de riqueza". Criam a riqueza dos patrões e a do Estado, que depois toma essa parte da riqueza e a devolve às empresas e aos bancos, sob a forma de nacionalização do que der prejuízo e privatização do que der lucro. Nota-se muito que estou a assobiar a Internacional enquanto escrevo isto?

A política fiscal é igualmente clara: as pessoas que ganham menos do que eu pagam menos impostos do que eu; a generalidade das que ganham mais também paga menos impostos do que eu. O governo alega que irá aumentar a taxa de impostos a quem ganha mais de 150 mil euros por ano, o que seria uma excelente medida, mas não é exactamente verdadeiro. O governo vai aumentar a taxa de impostos a quem declara mais de 150 mil euros por ano, o que é ligeiramente diferente. Não há assim tantos contribuintes nessas condições...

Ricardo Araújo Pereira (Aqui)

13 março 2010

Refazer o puzzle

Ana, a mãe, fala-nos de si e da sua batalha contra essa indescritível dor de perder Inês, a filha,antes de completar os 16 anos.
Sem ti, Inês (Ed. Caderno, LeYa, 2010) é uma narrativa profunda, dolorosa e sentida, escrita na primeira pessoa por uma mulher de 46 anos obrigada a viver e a sobreviver ao que todos mais tememos, a perda de um filho.
Um diário da mãe que diz que foi em luta e agora se sente em luto. Um diário onde Ana procura encontrar sentido para os dias seguintes na poesia, nas canções e nas viagens. Uma intensa e dolorosa reflexão sobre o que fazer da memória, onde encaixar esta perda absoluta no futuro dos que a ela sobrevivem.

Quando entrávamos numa loja de roupa entretinha-me
a adivinhar as peças que escolherias. O tempo
encarregava-se de me confirmar a minha pontaria certeira.
Sabes uma coisa, Inês? Não consigo abandonar esse velho hábito…
Em cada nova colecção continuo a antecipar
as tuas escolhas, e embora não as confirmes, tenho a certeza
de que continuam certeiras…
Sempre contrariaste a lógica uniformizadora dos adolescentes.
Lembro-me como ficavas irritada quando as tuas amigas teimosamente
te imitavam a forma de vestir. Gostavas de ser diferente
e procuravas lojas que satisfizessem essa necessidade de exclusividade.
Havia entre nós uma cumplicidade estética
(sensatamente contrariada pela diferença de idades) que não me deixava dispensar
os teus conselhos. Lembro-me de ti, ainda com 10/11 anos,
sentada no meu quarto enquanto eu desfilava as várias opções
até tomares a decisão final. Foi essa cumplicidade que alimentou a paixão
que ambas sentimos por “aqueles” sapatos verdes. Em conjunto,
tentamos encontrar pretextos (patetas) para os comprar,
que contrariassem os argumentos (lógicos) para o não fazer.
Ambas sabíamos que os saltos eram excessivamente altos para a tua pouca idade,
e o design demasiado ousado para a minha.
Quem me dera que a sensatez não tivesse levado a melhor…
Quem me dera que tivéssemos comprado “aqueles” sapatos verdes,
marca da nossa cumplicidade que já não podemos alimentar…
Quem me dera ter no meu quarto (ou no teu) “aqueles” sapatos verdes,
apenas como objecto de pura fruição estética… (quem disse que os sapatos são para usar?)

Foto: C.

11 março 2010

Sinto-me um idiota

Hoje em dia tenho a certeza de que não ser idiota é das coisas mais importantes na vida de um homem, até que pouco a pouco o vou esquecendo, porque o pior é que no final me esqueço; por exemplo, acabo de ver um pato que nadava num dos lagos do Bois de Boulogne, e ele era de uma beleza tão maravilhosa que não pude evitar agachar-me junto ao lago e deixar-me ficar não sei quanto tempo a observar a sua formosura, a alegria petulante dos seus olhos, aquela dupla linha delicada que corta o seu peito na água do lago e se vai abrindo até se perder com a distância. O meu entusiasmo não nasce apenas com o pato, trata-se antes de qualquer coisa que o pato cristaliza num dado momento, porque às vezes pode ser uma folha seca que se balança na ponta de um banco, ou uma grua alaranjada, enorme e delicada contra o céu azul da tarde, ou o cheiro de um vagão de comboio quando uma pessoa entra e se tem um bilhete para uma viagem de muitas horas e tudo se vai sucedendo prodigiosamente (....) e tudo me preenche como uma espécie de salgueiro interior, de uma verde chuva de delícia que nunca mais devia terminar. Porém, já muita gente me disse que o meu entusiasmo é uma prova de imaturidade (de idiotice, querem eles dizer, mas escolhem as palavras) e que não nos podemos entusiasmar assim por causa de uma teia de aranha que brilha ao sol, uma vez que se uma pessoa incorre em semelhantes excessos por causa de uma teia de aranha cheia de orvalho, o que é que vai guardar para a noite em que houver o King Lear? A mim isso surpreende-me um pouco, porque na verdade o entusiasmo não é uma coisa que se gaste quando se é realmente idiota, gasta-se quando uma pessoa é inteligente e tem a noção dos valores e da historicidade das coisas, e é por isso que mesmo que eu ande a correr de um lado para o outro no Bois de Boulogne para ver melhor o pato, isso não me vai impedir de nessa mesma noite dar saltos enormes de entusiasmo se gostar da forma como Fisher Dieskau canta. Agora que penso nesse assunto, a idiotice deve ser isso: o poder entusiasmar-se a toda a hora com qualquer coisa de que uma pessoa goste, sem que um desenhito numa parede tenha de se ver diminuído pela memória dos frescos de Giotto em Pádua. A idiotice deve ser uma espécie de presença ou de recomeço constante: agora gosto desta pedrinha amarela, agora gosto de L'année dernière à Marienbad, agora gosto de ti, ratita, agora gosto dessa locomotora incrível a bufar na Gare de Lyon, agora gosto desse cartaz arrancado e sujo. Agora gosto, gosto tanto, agora sou eu, um eu reincidente, idiota perfeito na sua idiotice que não sabe que é idiota e desfruta perdido no seu prazer, até que a primeira frase inteligente o devolva à consciência da sua idiotice e o faça procurar apressadamente um cigarro com as mãos desajeitadas, olhando para o chão compreendendo e às vezes aceitando porque um idiota também tem de viver, claro que até que outro pato ou outro cartaz, e assim sempre.

Julio Cortazar, A Volta ao Dia em 80 Mundos, Cavalo de Ferro, 2009
Foto: C.

09 março 2010

O perigo da história única e dos machos alfa

Confesso que os chamados "dias internacionais de" [qualquer coisa] não me empolgam por aí além. De resto, muitas dessas datas comemorativas trazem acoplada uma série de técnicas de marketing que apelam ao consumo de ocasião e me fazem descrer da eficácia "da coisa". Bem sei que por um dia, por um diazito apenas, a nossa atenção é canalizada especialmente para o tema em celebração. Mas quanto do conteúdo se dilui na superficialidade dos celofanes e laços com que se embrulha o presente?

Vem isto a propósito de eu ter recebido hoje, via email, num dia que já não é especificamente o da mulher, a indicação destes vídeos. Talvez por este facto eles tenham ainda mais força e sentido. Por serem vistos num dia qualquer.
São as palavras de duas mulheres que partilham, se não outras qualidades, pelo menos uma inteligência sensível, uma fina ironia e uma inegável paixão pela vida. São duas mulheres lindíssimas. Ambas escritoras. E só pelo facto de serem "contadas" é que as suas histórias ficam a dever à realidade.

Adorei esta bonita homenagem. Feita por um homem que, contrariamente ao que afirma, parece ligar, afinal, a estas comemorações. Obrigada, Paulo Mendes.

[Em baixo, à esquerda, podem facilmente accionar as legendas.]


06 março 2010

Yo Leo en el Bar


Amo desparramarme en la mesa de un bar, bien típico de Buenos Aires, y quedarme leyendo horas junto a un café con leche. Esto sólo se puede hacer en algunos bares, los de mesa de fórmica, mozos de más de 40, dueño generalmente gallego, AM de fondo -a veces muy fuerte-. Allí donde pasan con dos jarras metálicas, en una leche, en otra café, y te lo sirven frente a tus ojos. (Recomiendo la esquina de Azcuenaga y Paraguay, el bar del gallego. Pedir un café con leche con un CAMPERO, si les preguntan… Sí! con huevo, completo)
Me dejé llevar, perdón. El Gobierno de la Ciudad lanzó el programa “Yo leo en el bar” una propuesta que incluye la instalación, en 15 bares, de bibliotecas con la obra completa del Jorge Luis Borges.
Algunos de los libros que se podrán leer son: El Aleph, Atlas, El libro de arena, El libro de los seres imaginarios, Fervor de Buenos Aires, Los mejores cuentos policiales y las Obras Completas I, II, III y IV, donados por la editorial Planeta.
Los 15 bares son:
TORTONI, Av. De Mayo 825, 4342-4328
EL GATO NEGRO, Av. Corrientes 1669, 4371-6942
EL PROGRESO, Av. Montes de Oca 1700, 4301-0671
MAR AZUL, Tucumán 1700, 4374-0307
CONFITERIA SAINT MORITZ, Esmeralda 894, 4311-7311
MARGOT, Boedo 857, 4957-0001
36 BILLARES, Av. De Mayo 1048, 4381-5696
BAR HOTEL CASTELAR, Av. de Mayo, 1152, 4383-5001/9
BARoBAR, Tres Sargentos 415, 4311-6856
LA GIRALDA, Av. Corrientes 1453, 4371-3846
LOS LAURELES, Av. Iriarte 2290, 4303-3393
LA POESÍA Chile 502, 4300-7340
IBERIA Av. de Mayo 1196, 4381 6300
EL FEDERAL, Carlos Calvo 395 / 99, 4300 4313
EL QUERANDI, Perú 302, 4345-1770
Texto "roubado" AQUI
Buenos Aires continua a exercer o seu fascínio. O Ministério da Cultura lança na cidade o projecto Yo Leo en el Bar, que consiste na instalação de Bibliotecas com obras de Jorge Luis Borges em cafés e bares da cidade. A proposta foi anunciada ontem e tem a adesão da maioria dos cafés com tradição nas tertúlias culturais da cidade.
É seguramente uma das melhores homenagens que poderia ser feita ao escritor, à leitura e ao livro.
E mais uma (boa) razão para ir ou voltar a Buenos Aires: são tantos os cafés para visitar.
Ler também AQUI e AQUI

04 março 2010

Leandro

Agora sabemos todos.
Leandro, o menino feito saco de pancada pelos colegas.

"Humilde, tão humilde", conta a avó Zélia, "todos os dias vinha saber de mim".
Não custa imaginar Leandro, o quarto frio e o choro escondido nas noites sem fim. A busca diária do calor morno da avó.
Não custa imaginar o desespero do menino, sistematicamente insultado e ferido, a correr até ao rio gelado à procura do alívio para aquela dor sem nome. Sozinho.
Também não custa sentir, com orgulho, a coragem de Christian, o amigo, que se despiu indiferente ao frio e ao medo, e mergulhou no escuro em busca de Leandro. O que guarda dele é uma ténue presença no afago do canito.
Até já nem custa sentir que há um País esvaziado, frívolo e castrado, que assiste a tudo isto e deixa Leandro mergulhar, não tendo vergonha de que apenas Christian o queira salvar.
O que custa mesmo, é saber que no dia seguinte a Escola destes meninos abriu as portas como se não tivesse havido um crime.

Reportagem exemplar de Helena Teixeira da Silva Aqui
Foto: C.

03 março 2010

Isto é do melhor que tenho ouvido

Com um repertório essencialmente constituído por clássicos de sempre e pérolas perdidas da música portuguesa o Real Combo Lisbonense é uma formação que recupera, sob uma perspectiva actual, o espírito e o repertório das orquestras e conjuntos de baile dos anos 50 e 60.
Apesar do seu código genético revelar marcas vincadas de raiz popular, a morfologia do RCL incorpora múltiplas componentes de modernidade, instrumentais e cénicas, que estabelecem a ponte entre o passado e o presente. A sua música aspira, dessa forma, a ser congregadora, transgeracional, transsocial e transcultural.

Novos e menos novos, ricos, pobres e remediados – a todos, com um piscar de olho, o Real Combo Lisbonense convida para a dança!
(Aqui)

01 março 2010

Recado a Miguel



Acabei de ver o seu programa "Sinais de Fogo".
A primeira parte, constituída por duas reportagens e posteriores e avisados comentários, pareceu-me interessante, bem trabalhada, certeira e digna de um jornalismo moderno e inteligente.
Na segunda parte, propunha-se entrevistar o inspector Gonçalo Amaral, o autor do livro apreendido,"A verdade da Mentira".
Não tenho nenhuma simpatia especial pelo inspector, não o conheço. Não sei se a menina inglesa morreu ou foi raptada, não sei quem mente ou fala verdade, não sei.
E fiquei sem saber, não percebi nada, rigorosamente, das respostas que ele, o inspector, quis dar e não deu. Porquê? Porque o jornalista, você, pura e simplesmente não deixou falar o entrevistado.
Nunca vi nada assim . Vi parecido. Como é que se faz televisão deste modo? Como se chama alguém a um estúdio e não se permite a essa pessoa que se defenda, se expresse, contraponha?
Sinceramente, gostava que me explicasse. É essa a noção que tem de liberdade?
É só isso, lamento. 
Gostei do seu livro "No Teu Deserto". Apreciei a sua sensibilidade e escrita no feminino, a visão do mundo, dos sentimentos, da mulher, do homem.
Nada disso condiz com o jornalista que hoje, em" Sinais De Fogo", com um só tiro, trucidou o seu convidado.