Sem ti, Inês (Ed. Caderno, LeYa, 2010) é uma narrativa profunda, dolorosa e sentida, escrita na primeira pessoa por uma mulher de 46 anos obrigada a viver e a sobreviver ao que todos mais tememos, a perda de um filho.
Um diário da mãe que diz que foi em luta e agora se sente em luto. Um diário onde Ana procura encontrar sentido para os dias seguintes na poesia, nas canções e nas viagens. Uma intensa e dolorosa reflexão sobre o que fazer da memória, onde encaixar esta perda absoluta no futuro dos que a ela sobrevivem.
Quando entrávamos numa loja de roupa entretinha-me
a adivinhar as peças que escolherias. O tempo
encarregava-se de me confirmar a minha pontaria certeira.
Sabes uma coisa, Inês? Não consigo abandonar esse velho hábito…
Em cada nova colecção continuo a antecipar
as tuas escolhas, e embora não as confirmes, tenho a certeza
de que continuam certeiras…
Sempre contrariaste a lógica uniformizadora dos adolescentes.
Lembro-me como ficavas irritada quando as tuas amigas teimosamente
te imitavam a forma de vestir. Gostavas de ser diferente
e procuravas lojas que satisfizessem essa necessidade de exclusividade.
Havia entre nós uma cumplicidade estética
(sensatamente contrariada pela diferença de idades) que não me deixava dispensar
os teus conselhos. Lembro-me de ti, ainda com 10/11 anos,
sentada no meu quarto enquanto eu desfilava as várias opções
até tomares a decisão final. Foi essa cumplicidade que alimentou a paixão
que ambas sentimos por “aqueles” sapatos verdes. Em conjunto,
tentamos encontrar pretextos (patetas) para os comprar,
que contrariassem os argumentos (lógicos) para o não fazer.
Ambas sabíamos que os saltos eram excessivamente altos para a tua pouca idade,
e o design demasiado ousado para a minha.
Quem me dera que a sensatez não tivesse levado a melhor…
Quem me dera que tivéssemos comprado “aqueles” sapatos verdes,
marca da nossa cumplicidade que já não podemos alimentar…
Quem me dera ter no meu quarto (ou no teu) “aqueles” sapatos verdes,
apenas como objecto de pura fruição estética… (quem disse que os sapatos são para usar?)
a adivinhar as peças que escolherias. O tempo
encarregava-se de me confirmar a minha pontaria certeira.
Sabes uma coisa, Inês? Não consigo abandonar esse velho hábito…
Em cada nova colecção continuo a antecipar
as tuas escolhas, e embora não as confirmes, tenho a certeza
de que continuam certeiras…
Sempre contrariaste a lógica uniformizadora dos adolescentes.
Lembro-me como ficavas irritada quando as tuas amigas teimosamente
te imitavam a forma de vestir. Gostavas de ser diferente
e procuravas lojas que satisfizessem essa necessidade de exclusividade.
Havia entre nós uma cumplicidade estética
(sensatamente contrariada pela diferença de idades) que não me deixava dispensar
os teus conselhos. Lembro-me de ti, ainda com 10/11 anos,
sentada no meu quarto enquanto eu desfilava as várias opções
até tomares a decisão final. Foi essa cumplicidade que alimentou a paixão
que ambas sentimos por “aqueles” sapatos verdes. Em conjunto,
tentamos encontrar pretextos (patetas) para os comprar,
que contrariassem os argumentos (lógicos) para o não fazer.
Ambas sabíamos que os saltos eram excessivamente altos para a tua pouca idade,
e o design demasiado ousado para a minha.
Quem me dera que a sensatez não tivesse levado a melhor…
Quem me dera que tivéssemos comprado “aqueles” sapatos verdes,
marca da nossa cumplicidade que já não podemos alimentar…
Quem me dera ter no meu quarto (ou no teu) “aqueles” sapatos verdes,
apenas como objecto de pura fruição estética… (quem disse que os sapatos são para usar?)
Foto: C.
1 comentário:
Boa tarde, estou a dedicar no meu
blogue http://intemporal-pippas.
blogspot.com o mês de Março à mulher ou a blogues no feminino,
referindo os mesmos e inserindo
algo deles, não tem que ser
relacionado com o dia internacional
da mulher, pode ser qualquer outra
coisa.Gostaria de saber se autoriza
em relação ao seu. Se sim, deixe um
comentário por favor, no meu blogue.
Saudações bloguistas
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