04 março 2010

Leandro

Agora sabemos todos.
Leandro, o menino feito saco de pancada pelos colegas.

"Humilde, tão humilde", conta a avó Zélia, "todos os dias vinha saber de mim".
Não custa imaginar Leandro, o quarto frio e o choro escondido nas noites sem fim. A busca diária do calor morno da avó.
Não custa imaginar o desespero do menino, sistematicamente insultado e ferido, a correr até ao rio gelado à procura do alívio para aquela dor sem nome. Sozinho.
Também não custa sentir, com orgulho, a coragem de Christian, o amigo, que se despiu indiferente ao frio e ao medo, e mergulhou no escuro em busca de Leandro. O que guarda dele é uma ténue presença no afago do canito.
Até já nem custa sentir que há um País esvaziado, frívolo e castrado, que assiste a tudo isto e deixa Leandro mergulhar, não tendo vergonha de que apenas Christian o queira salvar.
O que custa mesmo, é saber que no dia seguinte a Escola destes meninos abriu as portas como se não tivesse havido um crime.

Reportagem exemplar de Helena Teixeira da Silva Aqui
Foto: C.

8 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

... è pois , muito difícil saber tudo isto sem que a raiva , a fúria não tome conta de nós...
È difícil saber que a escola abriu normalmente como se nada fosse, tão longe do mundo do seu mundo... Abraço
______ JRMARTo

A disse...

É revoltante. Acabo de ler a crónica de MN Pina no JN, sobre mais esta vergonha do «eduquês».

CNS disse...

E a pergunta que fica: para onde caminhamos? Até onde nos leva esta indiferença?

RC disse...

É triste! Muito, mesmo.

Paulo disse...

José Marto, a Escola tinha de ter tido uma atitude diferente. Como a Associação de Pais local, os pais dos outros meninos, os bombeiros e a Câmara Municipal, o Governo Civil, os jornais e a Fátima Campos Pinheiro.

Austeriana, acho que a vergonha é de todos nós. Pela indiferença cumplice.

CNS, justamente, esta indiferença leva-nos à cumplicidade. Somos parte do problema, todos.

relogio.de.corda,deixe que insista, mais do que triste é um espelho em que todos nos (re) vimos.
Obrigado

Ana Paula Sena disse...

São factos dilacerantes no seu desespero existencial.

Alguma coisa tem que mudar e urgentemente. O mundo, o nosso, está em crise de valores. E a negligência grassa...

Ana Paula Sena disse...

Os meus parabéns à C., pela excelente foto!

Olga disse...

Triste, muito triste.