A nova geração tem necessidade de comunhão, de partilha, de êxtase, como sempre aconteceu.
A nova religião constrói-se, não nas igrejas, como antigamente, mas em torno dos festivais de verão.
E vão em romaria. Mochilas às costas, ténis ou sandálias nos pés, umas gangas esfarrapadas e umas t-shirts sugestivas e eloquentes. Às vezes, os mais devotos chegam às pinturas faciais, lenços na cabeça e gorros internacionais.
Tribalismo? Julgo que não, tribalismo é no futebol, com gritos de guerra e exércitos ferozes.
Nos festivais é partilha, companheirismo, fé, sacrifício, esperança. Ritualismo sazonal e festivo, como recompensa das agruras , como prece: face aos deuses tão inacessíveis, em cima do palco, deuses pagãos e plurais, envoltos em fumo e luzes, eles comungam, imploram, choram, aplaudem.
E voltarão, no ano seguinte, como promessa, como procura do lugar inicial e fantástico.
12 comentários:
Com o filme "Jesus Cristo Super Star" e a introdução de sons de guitarra nas missas, ainda se tentou salvar a 'honra' do Convento!
Mas, estes, e os peregrinos da 'Bola', são de facto os novos professos - ou possessos -, correndo atrás de gurus e bezerros de ouro que, quando caem, são de barro mais fatela do que o que serviu para corpo de Adão!
Pois, César, os estádios de futebol, que me perdoem os aficcionados, fazem-me lembrar os circos romanos, onde se glorifica o vencedor e se amesquinha o vencido. Está ali o pior do ser humano, mas se for para substituir as guerras,menos mal. É a pura catarse.
Os nossos filhos e netos, quando vão aos festivais, vão em paz e união-é o oposto.
Um fenómeno interessante, gosto de observar e pensar nisso.
Um abraço.
Pois eu gosto de ver aquela malta partir para os festivais de verão. Regressam sujos,cansados e com mil histórias para contar.
No meu tempo não havia destes festivais...não é justo!
mmanuel
Muito bom, Paulo. E também, muito bem observado, Clara!
Pois este fim-de-semana, sofri na pele o sentido da expressão"filhos criados, trabalhos dobrados". A cachopa cá de casa foi a um desses festivais. Regressou sã e salva, após uma noite enfiada em transportes... eu é que não estive um minuto descansada no dia de Sábado.
Seja lá o motivo que os move, esta gente mais jovem parece gostar do pó, do barulho, da confusão. Mas, acho também, que nesta altura do ano há um exagero destes acontecimentos. Um país tão pequeno, não tem necessidade de tanto festival.
Maria Manuel, Nina e Relógio:
Os festivais começaram em Vilar de Mouros, há tantas luas. Hoje é uma indústria, um negócio, mas também gera imenso emprego. Por exemplo, o Prince,que veio agora cá: a quantidade de gente que ele trazia atrás, seguranças, banda, técnicos. Todas essas pessoas consumiram, os hotéis ganharam, os restaurantes encheram-se. A cultura, hoje em dia, gera muito dinheiro. Quando um artista nosso sai do país para actuar. está a exportar, o país ganha.
O que deviam fazer, quanto aos festivais, era organizar as infra-estruturas e não desmontar no fim, poupava-se esforço e material.
Nessa perspectiva, concordo. Os festivais geram emprego e "vendem" a imagem de um país. No entanto, o comércio feito à custa dos festivais acaba por virar o feitiço contra o feiticeiro. Fazem-se festivais, num descampado qualquer, mas depois faltam as infra-estruturas, como diz e as pessoas reclamam (com razão).
Vendem-se bilhetes a mais e cede-se espaço a menos; daí aquela confusão no dia em que actuou o Prince...
E mais; conheço algumas pessoas que se propõem como voluntárias para trabalharem nestes acontecimentos;o que me leva a crer que quem fica a lucrar com tudo isto são as grandes marcas e empresas. Seja como for, e, apesar de quarentona, gostava de ir também a um festival de música(desde que não seja Tony Carreira, ou cantor dentro do estilo, cabeça de cartaz) :)
Relógio:
O festival de que fala correu menos bem, como assumiu Luis Montez, o organizador, diz ele por ser o primeiro ano que foi feito no Meco: gente a mais, pó e acessos complicados. Diz que vai melhorar.
O Rock in Rio, por exemplo, é perfeito, em organização, limpeza, segurança, tudo, mas, surpreendentemente, falta-lhe"je ne sais quoi"- é demasiado certinho, careta e a programação muito previsível.
Assim, os jovens não aderem da mesma forma.
Julgo que as cidades deviam apostar em espaços aprazíveis, organizados,com lavabos, segurança, postos médicos e, assim, tornarem-se competitivas.
Em vez dos famosos estádios de futebol, às moscas, deviam ter pensado no futuro e este passa por aí.
Claro que há gente a ganhar euros com estas actividades, mas cabe aos pais fazerem a triagem. Não podem ir a todos.
E por que não um festival para séniores?
...Festival para séniores?! Não vejo nada contra e, aliás, não percebo por que carga de água não fazem destas coisas para outras faixas etárias! Não é nada justo, deixarem os mais velhos de fora.
Deixe-me cá pensar...um festival para séniores e "cotas" como eu... que artistas nacionais e estrangeiros poderíamos nós ter para deleite dos nossos tímpanos?! Eu hoje e amanhã e depois de amanhã, tenho todo o tempo do mundo para comentários!!! Azar o da Clara e sorte a minha. :)
Não existem deuses perfeitos
nem peregrinos absolutos
No relativo de tudo
cada um é livre
até os que parecem
isto é todos nós romeiros
porque os verdadeiros deuses estão no palco a fingir ao gosto da plateia
Seja como for gosto de deuses
de carne e osso
mesmo com uma guitarra nas mãos
São esses Deuses de carne e osso mesmo com uma guitarra na mão que nos vão dando música, essa é que é a verdade,e eu, também gosto desses Deuses, apesar de tudo.
ò Mar, ó Relógio, eu gosto de filosofar, sabem. Acho que tens razão, Mar, já sabes como eu sou uma sonhadora.
Também sei que, às vezes, é mentira, mas não pode ser sempre, porque o público descobre.
Relógio, um festival sénior era fixe, mas não saudosista. Assim uma de jazz, coisas mais calminhas, mas actuais, nada de antiguidades.Para isso, bastamos nós!
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