01 fevereiro 2010

Mário Crespo, querem silenciar uma voz livre


O jornalista Mário Crespo vai abandonar a sua colaboração como colunista no Jornal de Notícias, depois de ter sido informado que a sua coluna semanal de opinião – onde revelava conversas hostis de membros do Governo - não ia ser hoje publicada no jornal.
O artigo em causa descreve conversas mantidas entre José Sócrates, o ministro da presidência, Silva Pereira, o ministro dos assuntos parlamentares, Jorge Lacão, e um executivo de media, onde os membros do governo se referiram a Mário Crespo como “mais um problema a resolver”. Em declarações ao Negócios, o jornalista revela que foi informado à meia-noite de hoje, por José Leite Pereira, director do título, de que o artigo não ia ser publicado.
“Ficou assente a não publicação do artigo e que eu não voltaria a escrever num jornal sob a direcção dele [José Leite Pereira]”, diz Mário Crespo. Até ao momento, não foi possível entrar em contacto com o director do jornal da Controlinveste...
Filipe Pacheco, Jornal de Negócios

Lemos, relemos e já nem náusea se sente. Parece tudo aceitável, toda a indignidade possível, toda a prepotência natural. E, no entanto, paulatinamente vão construindo o medo, calando as vozes livres, excluindo a dignidade da cidade onde cada vez mais impera a maldade e o nojo.

4 comentários:

clara disse...

O poder. O poder. Inaceitável.
Já vi essa causa no facebook.

A disse...

O que acho verdadeiramennte inacreditável é José Sócrates, S. Pereira, Lacão e o tal administrador acharem que podem dar-se ao luxo de sofrer de incontinência verbal num restaurante e que aquilo que dizem aparece num meio de comunicação qualquer. Mesmo que Mário Crespo não tivesse escrito sobre o assunto, outro orgão de informação fá-lo-ia.
Por outro lado, também me parece bacoca a justificação dada pelo director do JN. Então se o artigo era de opinião, para que é que eram necessárias fontes? Pacheco Pereira, os Pedros da TSF, Marcelo R. de Sousa, M. Sousa Tavares ganham a vida a comentar e ninguém lhes exige fontes!
Nada faz sentido.

César Ramos disse...

O Fim da Linha, por Mário Crespo

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Hoje às 13:18
Terça-feira dia 26 de Janeiro.
Dia de Orçamento.
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicacado hoje (1/2/2010) na imprensa.

experimental disse...

Eu também publiquei a crónica do Mário Crespo, num outro blogue. Esta situação é surrealista, pelo à vontade da conversa ter ocorrido num lugar público!...
Crespo foi muito corajoso!...
Nela