07 julho 2010

... pelo que me tenho rodeado de silêncios


«Já reparaste que tens o mundo inteiro
dentro da tua cabeça
e esse mundo em brutal compressão dentro da tua cabeça
é o teu mundo
e já reparaste que eu tenho o mundo inteiro
dentro da minha cabeça
e esse mundo em brutal compressão dentro da minha cabeça
é o meu mundo
o qual neste momento não te está a entrar pelos olhos
mas através dos nomes
pois o que tu tens dentro da tua cabeça
e o que eu tenho dentro da minha cabeça
são os nomes do mundo em brutal compressão
como um filtro ou coador
de forma que nem és tu que conheces o mundo
nem sou eu que conheço o mundo
mas os nomes que tu conheces é que conhecem o mundo
e os nomes que eu conheço é que conhecem o mundo
o qual entra em ti e o qual entra em mim
através dos nomes que já tem...»

«a manifestação estética integral terá que ocorrer no domínio do silêncio, porque para aquém ou além dele é tudo em última análise compromisso».

Alberto Pimenta, O Silêncio dos Poetas, 1978. (Livros Cotovia, 2004)
O mundo todo na cabeça (de C.)

6 comentários:

Anónimo disse...

Fizeste-me bem e mal ao recordar Alberto Pimenta...e beijo para ti C.
mmanuel

Ana Paula Sena disse...

O quanto isto me toca, C.! É que o silêncio é um dos temas (e dos actos) que mais me interpelam, um dos que mais aprecio.

Obrigada pela boa leitura.

Beijinhos :)

C. disse...

mmanuel:

viva! ainda que faça mal, que seja pelas melhores razões. Alberto Pimenta escreve com uma lucidez estonteante e um humor cáustico, imprescindível nos tempos que aí estão. Por isso aprecio tanto o que ele escreve.

Um beijinho de saudades
volta sempre

C. disse...

Ana Paula,

penso que, no limite, tudo se destina ao silêncio. E não é por estar de acordo com o Wittgenstein, mas nesta vozearia infernal de vuvuzelas e políticas/políticos de péssima oratória, cada vez mais me apetece o recolhimento, me apetece o gesto sem alarde, a música, enfim.
Deve ser também do cansaço...:-)
Foi um ano esgotante.

Obrigada pela sua presença - aqui e no Catharsis, que leio diariamente com imenso gosto.

Anónimo disse...

Este texto é simplesmente lindíssimo.
relogio.de.corda

C. disse...

relógio-de-corda,

que bom que tenha gostado, há afinidades que nos sabem bem. Volte sempre.
Abraço