29 abril 2010

A dupla maravilha no país da treta


Esta semana, quem tivesse tempo e disposição teria assistido a mais um original contributo da lusa Pátria  para a resolução da grave situação financeira decorrente do criminoso ataque dos especuladores internacionais.
Os maiores responsáveis internos pela crise, acolitados por uma comunicação social sempre veneranda e disponível, encenam uma espécie de concílio a dois de onde afirmam poder sair a salvação milagrosa e a tranquilidade "dos mercados".
No fim de tão magno ajuntamento, tudo simples afinal: a dupla, em nome do "interesse nacional" (o que quer que isso seja) está unida e tira a solução da cartola.
Partilha de sacrifícios? Ataque ao desperdício? Mobilização para a produção de bens que façam entrar divisas?... Eh pá, não! As duas cabeças propõem, com o ar sério dos grandes momentos e o tom circunspecto que têm aprendido com o tempo, a solução milagrosa: atacar os que mais têm sofrido com a crise - os desempregados (tenham paciência, estão a gastar em excesso). O País jornalístico, dito mediático, suspirou aliviado.
Agora, quem ainda tiver estômago para ouvir os vários Foruns, Antena Aberta e  quejandos que, na rádio, dão microfone a toda a espécie de gente que se ocupa a bolsar ódio e alarvidades, verá, objectivamente, o caldo em que se movem aqueles dois, qual a sua base de apoio, para quem falam e governam. E sentirá o nojo em que nos estamos a tornar como País.
De resto, um sítio cada vez menos recomendável. 

Foto Julia Fullerton -  Batten

2 comentários:

A disse...

É mais uma versão de Dupond e Dupond...
A moda dos rankings pegou e com ela instalou-se a ideia de que mesmo que um país não esteja na mó de baixo, se der jeito que pareça estar, toca a fazer com que pareça: é a sociedade do simulacro.
Em relação aos ditos "foruns", o que é verdadeiramente espantoso é que as pessoas ainda não perceberam que ao participarem nas "antenas abertas" estão a dar uma pipa de massa às televisões e às radios e, claro, à PT!

Paulo disse...

Austeriana, a sociedade e o tempo do faz de conta, sem dúvida. A manipulação e condução das escolhas e das consciências até um impensável limite. Há que resistir, pois. Abraço