.....Mais ou menos a meio de Fevereiro de 1988, respondendo aos seus apelos implorantes, apanhei um avião para Munique onde ele por acaso estava por um período curto. Encontrei-o no átrio do Opera Hotel, sentado num cadeirão de vime entre ramos de orquídeas brancas e violeta, que caíam, em cascata, de jarras gigantescas. Quando me viu no átrio, levantou-se, avançámos na direcção um do outro como se estivéssemos num palco, cobrindo ao mesmo tempo uma distância muito superior à daqueles poucos passos. Íamos passar dois dias fechados num quarto de hotel, não nos tocaríamos, diríamos apenas as palavras mais essenciais. Ele olharia fixa e aborrecidamente para a televisão, sem perceber alemão, e eu iria de tempos a tempos para a varanda esfregar os meus dedos nervosos na pequena placa na balaustrada que, por uma razão qualquer, tinha gravado o número treze ( o secreto cenógrafo da vida arranjara aquela coincidência “kitsch”). Eu tomaria frequentes duches longos para ele não me ouvir chorar. Debaixo da água quente, sentiria uma agradável languidez molhada misturada com uma poderosa sensação de perda. Tomei várias vezes a decisão me levantar, chamar um táxi, pegar na mala, bater a porta e deixá-lo para sempre, mas fiquei, presa por um inultrapassável sentimento agridoce de infelicidade....
Dubravka Ugresic, O Museu da Rendição Incondicional, Cavalo de Ferro Editores 2011
Foto: Gregory Crewdson
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