12 janeiro 2010

A modernidade e os equívocos

... Aceder assim a tão poderoso e antigo edifício simbólico (o casamento) pode parecer uma revolução, mas é uma revolução conservadora. Todos nos devemos regozijar com a resolução de problemas práticos e legais. Mas é preciso não esquecer que integrar a ordem do discurso a que pertencem as representações sociais do casamento significa uma submissão à linguagem que sempre procedeu pela violência e pelo poder discursivo de impor uma definição de homossexual.

António Guerreiro, in Actual, suplemento do Expresso, 09/01/2010

6 comentários:

clara disse...

Concordo, obviovsky.
O que está por detrás dessa pretensão, os assuntos práticos da vida em comum, poderiam muito bem ser resolvidos com uma actualização legal da união de facto.
É uma questão de afirmação social e nem sequer se irão efectuar muitos casamentos, a não ser para resolver legalização de estrangeiros,conforme referiu um elemento da Opus-Gay.

A disse...

Voilà!
É exactamente o que penso a este respeito. Grande «Marcas».

César Ramos disse...

Aqui fica a m/ nota de concordância com a Clara e a Austeriana.

César

Paulo disse...

Clara, quanto a mim, sejam poucos, sejam muitos, a questão que tenho é o do princípio da "coisa".

Austeriana, pertenço a uma geração que se tornou adulta contestando o casamento como instituição vazia de sentido, geralmente simbolo de poder de um sobre o outro e, no final, como alguém já disse, um verdadeiro cemitério de afectos.A vida comprovou-nos isso mesmo.
Por isso esta dificuldade em entender como é que defender isto pode ser um sinal de modernidade. Porque não é. Independentemente de que todos possam aceder em igualdade aos direitos sociais e cívicos, é uma reivindicação conservadora e, mesmo, reaccionária.Obrigado

César Ramos, há, de facto, muita gente sensata, aberta e tolerante que está de acordo com o que disse. Abraço.

Vasco disse...

O que está em causa não é a modernidade da decisão, nem o conservadorismo do casamento. É tão somente deixarmos que sejam as pessoas, independentemente, da sua orientação sexual, a decidir se se querem, ou não, casar.

Vasco

Paulo disse...

Vasco, o texto diz (e eu concordo)"Todos nos devemos regozijar com a resolução de problemas práticos e legais"; no comentário que faço acima escrevo
"Independentemente de que todos possam aceder em igualdade aos direitos sociais e cívicos"; ou seja, para mim,isso é pacífico. O que me surpreende é que "casar" no sentido que lhe têm dado os seus mais públicos defensores (aos quais não contesto a legitimidade)possa ser considerada uma ideia moderna.É uma forma das pessoas se ligarem, estimável e que toda a gente deve ter o direito de praticar, mas está longe de ser uma estrutura moderna nas relações afectivas.