25 fevereiro 2010

As memórias da Memória


O momento mais antigo que a minha memória recorda decorre aos três anos de idade, quando nasceu um bebé lá em casa.
Segundo vários investigadores, os adultos não conseguem recordar acontecimentos ocorridos antes dos três anos de idade. Este facto, chamado por alguns de amnésia infantil, é um fenómeno sentido por quase toda a gente. Por vezes surge alguma confusão entre o que realmente temos como memórias da infância e aquilo que sobre os acontecimentos foi sendo construído por relatos ouvidos mais tarde, na adolescência ou já na idade adulta.
Sabe-se, no entanto, que as crianças têm, até aos cinco ou seis anos, excelentes capacidades mnésicas. Para onde irão, então, essas recordações mais iniciais?
As teorias freudianas dão-nas como reprimidas no inconsciente e, embora podendo influenciar os comportamentos adultos, não serão nunca acessíveis a não ser por métodos regressivos especiais.
Outros tentam explicar esta incapacidade de lembrar com o tipo de codificação infantil usado no seu armazenamento que será o que as torna inacessíveis. Ou seja, as incapacidades cognitivas próprias da primeira infância originam registos ilegíveis (tal como o estudante que memoriza sem entender, esquece rapidamente o que memorizou).
Outras teses perspectivam a referida amnésia na imaturidade do sentido de si, próprio da criança. Segundo estas, a criança só guardará memórias autobiográficas na idade em que tenha um conjunto de referências que lhe possibilitem ver-se nos acontecimentos. Isto não é possível antes dos quatro, cinco anos, quando as suas capacidades cognitivas lho permitem.
É por isso, e antes que me escape, que guardo ciosamente e recordo com tanto prazer aquele dia de Agosto, quando nasceu um bebé lá em casa.


(leitura Aqui , Aqui, Aqui)

3 comentários:

Marta disse...

adorei ler, Paulo.

[a memória, é a menina dos meus olhos. acho que já disse isto. é verdade]

e a fotografia, vou ficar com ela:)

abraço

A disse...

Eu só me lembro de existir lá para os quatro anos de idade, curiosamente, quando nasceu a minha irmã mais nova. É, de facto, um mistério fascinante, esta coisa da memória. Porque guardamos umas e não outras?
Por outro lado, a memória é o que somos, a nossa identidade e assusta pensar que um acaso qualquer nos pode roubá-la...

Reflexão bem interessante com homenagem final de grande ternura.
Estou certa de que o «bébé» vai gostar de a ler. :)

Paulo disse...

Marta, a memória é uma área fascinante sem dúvida... partilhanmos este gosto.
A fotografia é fantástica e o autor tem um portofolio magnífico.

Austeriana, a chamada amnésia infantil é uma faceta da memória ainda pouco estudada pelas dificuldades óbvias, mas faz parte desse grande mistério que, aos poucos, vamos tentando entender. Obrigado pelas suas palavras. A bebé que, então nasceu, terá gostado tanto desse momento (de que não tem memória :):)) que fez disso vida: hoje ajuda os outros a vir ao mundo.