10 fevereiro 2010

Quadros urbanos

Título: Interacções verbais e o significado pragmático -------- dos enunciados
Série: Quadros urbanos
Técnica mista - 25x20cm
2010

1.  

2.

Há poucos dias, pelo fim da tarde e à saída da escola, no calor da discussão um dos dois jovens vira-se para o colega e dispara, aguerrido:
- Olha lá, mas porque é que estás a falar assim pra mim, pá? Pensas que estás a falar com um professor, ou quê?

 (Desculpem lá.  Sei que a ministra mudou, e parece dialogante. Mas eu tenho andado com pouca imaginação para escrever sobre as moscas.)

13 comentários:

Aprendiz disse...

Existiu exagero no tratamento de professores? Existiu, é verdade. Mas é inegável que a qualidade do nosso ensino precisa de ser reformulada. Não falo apenas da avaliação dos professores, mas sim de melhores infraestruturas, de uma modernização do ensino e quem sabe até de uma reforma do modelo de ensino e de uma reorganização das turmas de alunos.

A escola também deveria começar a ser usada para albergar outro tipo de eventos, sejam eles desportivos, lúdicos, culturais ou familiares de outro tipo, de modo a ganhar uma nova conotação que agrade mais aos alunos.

Grande Abraço

C. disse...

Caro Aprendiz

Obrigada por ter participado com o seu comentário.

A razão deste post não é regressar à discussão sobre os professores, sobre a avaliação, ou o ECD. É mais do que isso, se reparar.
Não acredito que seja a falta de prazer em estar na escola ou as condições físicas do edifício (ou seja o que for que “não agrade”na escola) o que levou este adolescente imberbe a desferir aquela pergunta, que eu considero retórica, e cujo conteúdo é, sem dúvida, uma evidência para ele. Isto foi real e traduz a importância que teve, nas massas, o discurso reiterado de alguns iluminados cessantes do ME. O mesmo se passa com muitos pais e gente anónima, cujos comentários são de um absoluto desconhecimento do que é, na realidade, (repito: na realidade) a tarefa de ser professor, hoje. Há rasgões, em todo este “tecido verbal”, difíceis de cerzir no futuro.

Quanto à abertura das escolas…. tanto quanto sei, até já cedem espaço para filmagens dos “Morangos com Açúcar”, alugam salões para colóquios e eventos não directamente ligados à actividade escolar, o que não é mau, pois colhem-se dividendos que podem ajudar a suportar gastos internos.

O facto é que muita gente ainda espera que a escola seja um local onde “aprender” TEM de rimar sempre com “prazer”, “prosa” com “goza” e “esforço” com (nêspera sem) “caroço”, para exercitar as irregularidades métricas.
Por causa dos traumas!

Estou em absoluta sintonia consigo, quando diz que é necessária “uma modernização do ensino e quem sabe até de uma reforma do modelo de ensino.”

Um abraço e volte sempre.

Anónimo disse...

Li este post e veio-me à memória todas as tontarias proferidas por esses tais governantes cessantes. Basta lermos as notícias sobre professores/escola/educação e depois lermos os comentários...dá que pensar o porquê de tanto ódio à classe profissional docente.
A escola, os alunos, os pais dos alunos, a sociedade em geral, está em crise. Não há como dar a volta, acho que seria necessário mudar mentalidades, educar os adultos primeiro!!!

12 de Fevereiro de 2010 00:03

Anónimo disse...

Li este post e veio-me à memória todas as tontarias proferidas por esses tais governantes cessantes. Basta lermos as notícias sobre professores/escola/educação e depois lermos os comentários...dá que pensar o porquê de tanto ódio à classe profissional docente.
A escola, os alunos, os pais dos alunos, a sociedade em geral, está em crise. Não há como dar a volta, acho que seria necessário mudar mentalidades, educar os adultos primeiro!!!

12 de Fevereiro de 2010 00:03

Aprendiz disse...

Caro C.,

Concordo que me desviei do assunto. Em relação ao cerne da questão, deixe-me dizer-lhe que concordo consigo quando diz que existe falta de educação perante os professores por parte dos alunos. Sem dúvida! Será que isso se deve ao discurso dos governantes? Já tenho as minhas dúvidas. Porventura poderá ter contribuído mas eu lembro-me da minha passagem pelo ensino secundário (ainda não se sentia um ambiente muito pesado entre ME e professores) e esses comportamentos já eram comuns, daí acreditar que a solução talvez passe pela reforma do modelo de ensino e pela própria avaliação dos professores. Eu explico.

Na verdade, em relação às razões que poderão conduzir a essa falta de respeito, penso que para além do ambiente familiar e amistoso que rodeia a socialização do aluno, alguns professores também terão culpas no cartório. Eu lembro-me, por exemplo, de professores que leccionavam sem qualquer prazer pela actividade que ainda exercem, sem tentar motivar os alunos ou captar modos de os estimular...Por isso acredito nas supracitadas soluções que lhe apresentei de modo a atenuar este desrespeito perante os professores.

Devo dizer, porém, que guardo excelentes recordações de alguns professores que, por coincidência, eram os mais dinâmicos e humanos com os alunos.

Um grande abraço

clara disse...

De certo modo, a escola reflecte o que se passa no mundo, reproduz o ambiente geral.
Os professores, médicos,juízes são os que apanham o maior impacto. No caso dos professores é pior, porque lidam com adolescentes.
A televisão teve e tem um papel determinante nestes comportamentos, fomenta a agressividade, a má educação.
Estes meninos já são filhos dos filhos da televisão..
Os políticos também são da mesma geração dos pais deles, agressivos, pragmáticos, sem ideal.
Julgo que é por aí, mais coisa menos coisa.
O desafio é enorme.

Aprendiz disse...

Sim, devo concordar que a profissão de professor é de uma enorme nobreza. A transmissão de conhecimentos que faz uma cultura prosperar deve-se à classe profissional em questão.

Realmente é pena que os professores muitas vezes tenham de lidar com alunos cujos problemas residem em casa, principalmente neste contexto de uma grave crise económica. Para além disso, deixe-me dizer-lhe Clara que partilho a sua opinião de que a classe política não dá um exemplo positivo a esta juventude. Aliás esses senhores não lêem Kant mas sim Maquiavel.

Cumprimentos

A disse...

Se antes dos governos PS (o da maioria e o da minoria), a educação já se encontrava num estado lastimável, a partir de Maria de Lurdes Rodrigues e "Dupond et Dupond", o desnorte instalou-se. Os professores passaram a ser uma espécie de gente com peçonha, o alvo do tiro, o bode "respiratório" do ministério da educação.
Quem insulta assim os docentes, além de revelar uma profunda falta de educação, também indicia problemas do foro psicanalítico. Alías, estive a consultar uma obras de Freud e está lá a explicação.

C. disse...

Clara, Austeriana:

está tudo aí, no que disseram - o que vem, ou devia vir de casa e o que vem "de cima" (onde incluo a TV e os órgãos de comunicação em geral)e que, indubitavelmente, enforma os raciocínios e forma a opinião geral sobre quase tudo. E a isso se deve o poder e o valor das mensagens subliminares que os discursos fazem passar. Para este jovem, era perfeitamente concebível que o colega falasse estupidamente para um professor, mas nunca para ele. E é isto que é chocante.

Um abraço

Caro Anónimo,

obrigada por contribuir com o seu ponto de vista. Venha sempre.

C. disse...

Caro Anónimo,

provavelmente aconteceu-lhe o mesmo que a mim, uma vez - ao tentar assinar o comentário, o post ficou repetido. Se foi esse o caso, o melhor será escrever o nome (ou o que entender como identificação) logo a seguir ao texto. Cumprimentos

RC disse...

Clara
O anónimo neste caso, é o relogio.de.corda, que por falta de experiência nestas coisas, comete estes pequenos lapsos. Peço desculpa, foi mesmo sem querer.

relogio.de.corda disse...

C. e não Clara...mais um lapso!

Ana Paula Sena disse...

Agradeço a reflexão sobre este tema, C. É um tema dos mais importantes.

Subscrevo o que acrescentou nos seus comentários. Também me parece muito importante o que foi assinalado pela Clara.

Um abraço :)