01 agosto 2010

Canino, como submissão, obediência ou dente

Num tempo que pode ser qualquer tempo, um pai, uma mãe e três filhos adolescentes - um rapaz e duas raparigas - vivem numa casa cercada por uma vedação. Nunca nenhum dos filhos ousou sair daquele espaço e todo o conhecimento que têm da vida foi-lhes transmitido pelos pais, que empregam a mentira, a manipulação e a violência  para formar a consciência dos filhos. O pai é o único a sair do espaço fechado, para trabalhar e comprar o que é necessário para uma vida "normal". Para "resolver"os ímpetos sexuais do filho, compra também, de tempo a tempo, Cristina, uma sua conhecida, que se encarrega do rapaz. Um dia Cristina quebra as regras e mostra a uma das raparigas algo que ela nunca deveria chegar a conhecer...
Todo o filme é uma intensa alegoria sobre as sociedades de pensamento único. Tanto as que durante todo o século XX foram sendo erguidas e derrubadas, como as que hoje florescem com novas roupagens, outra cosmética, mas a mesma construção ideológica de intolerância e submissão, assentes na  inquestionável afirmação de que os detentores do poder são quem sabe o que interessa a todos. 
Denso, inquietante e perturbador, tem lá tudo: a manipulação, a censura, a elaboração da realidade assente no desconhecimento, no medo e na obediência cega.
Um verdadeiro murro no estômago do espectador.

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