12 agosto 2010

Josefa

Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar... Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?
Ferreira Fernandes, AQUI

2 comentários:

Nina Blue disse...

Talvez porque, não estejamos interessados como ela, a fazer a parte que nos cabe. Joseja era de verdade, uma linda menina.Imagine só, que maravilhosa mulher seria?

Paulo disse...

Nina Blue, há imensas Josefas de que ninguém dá conta entre nós- Ninguém os conhece porque não jogam futebol, não aparecem - com os seus amores e desamores - nas capas das revistas, não são "mediáticos". A sua imagem simplesmentee não vende... Assim, não se tornam exemplo nem modelo para os outros jovens. Apenas porque só "existem" quando fazem qualquer coisa "excepcional", como morrer ardendo no meio da floresta. Então, apenas por isso, tornam-se capa de revista...
Abraço.