24 agosto 2012

Paisagem


Vejo as cabras carregadas de calor
Por entre as pedras e os matos
Esfíngicas dobram as tardes
Pertencem à luz  e ao azul

Deitadas nas sombras
Clareiam a praia
Estão lá  em cima
Carregam a existência pobre  
Magras são sinais de companhia  viva
São ágeis são amadas
Na fertilidade do amor nos olhos da mulher  
Creio que  são tão azuis o  mar e o céu 
Como suas línguas saltitantes e vivas

Tudo é longe
Como o barco de fome do pescador
Que ali tem a casa e a mulher
E o neto que afirma ter cabeça de andorinha
Quando o deitam a voar
Diz  isto para que exista e o vejam
 
E a mulher do pescador que tem os brincos  limpos
Como o ouro  de um sol diferente de há muitos anos
Diz   das cabras  a beleza   
Como quem está certa de um  amor sempre  nascente 


Passam os carros  sujos  por areias e  caminhos  pobres
Exibem  presunção de viagem  e sol posto
São o  poder  móvel  a incerteza  e  o recreio
Na paisagem  
A par das cabras do pescador ausente
Da mulher  e  do neto  
Estive eu  mediterrânico  como um  destino
De olhos  levados  nas tardes

2 comentários:

C. disse...

"Esfíngicas dobram as tardes", "mediterrânico como um destino" - lindos esses versos, Zé.
Abraço

Anónimo disse...

Gosto muito, Zé!

maria manuel