27 maio 2010

Shìjiè bùnéng bǎocún, gāi ànjiàn kěnéng shì yóu wéiguī *

O nosso olhar não o vê à primeira vista. A atenção do fotógrafo parece estar no grupo de homens que brigam na rua. Mas olhemos melhor no lado direito. O menino: franzino, assustado, imóvel. Olha, mas noutra direcção. Parece desfocado.
Não deixa de ser estranho que a briga decorra nas suas costas - envolvendo o pai, segundo a notícia - e o menino não lhe dê atenção. Não observa, não toma nenhuma atitude. Porque não quer? Porque tem medo? Mas se tem medo, porque não foge, porque não corre a esconder-se ou a procurar refúgio em qualquer buraco? E porque não vai em busca de ajuda para o pai?
Olhe-se então melhor, que para isso as fotografias são boas, param o tempo, fixam-no para sempre. E o tempo deste menino de oito anos parou. Porque se os nossos olhos se fixarem nas costas do menino veremos, sem dificuldade mas com horror, que ele não se mexe porque não pode. Não pode porque o braço direito está ligado ao esquerdo por um cabo que o fixa ao poste. O menino está preso ao poste, exposto com um cartaz que diz apenas "ofertas abertas", para que alguém o leve dali pelo melhor preço que pagar ao pai. O cartaz, diz a notícia, acrescenta que o menino é "capaz de executar trabalhos árduos"...
Viver, claro.

(*) O mundo só poderá ser salvo, caso o possa ser, pelos insubmissos - André Gide (traduçao romanizada)

Notícia AQUI

6 comentários:

clara disse...

Horror!

César Ramos disse...

Boa noite,

Tinha escrito um comentário à medida do que está à vista, mas era amargo e apaguei(...)

Fico-me por aqui... como a Clara diz:
"HORROR"!

Sinto-me, não sei porquê, responsável por estas coisas!

Dá-me a sensação de que não andei por cá a fazer nada!
É demais!
Está cada vez mais... tudo por fazer!
É desesperante e sinto vergonha por isto!

Abraços
César

Teresa Oliveira disse...

É mesmo o horror. Já hoje tinha lido outra notícia (penso que no i) sobre uma criança de dois anos que fuma 40 cigarros por dia, e os pais acham bem. Os valores não são os mesmos por esse mundo fora?

Paulo disse...

Clara, horror e nojo. Absolutos.

César, claro que nos sentimos, pelo menos, participantes nesta indignidade. Não creio que haja nenhuma espécie animal que tenha este tipo de comportamento... Abraço

Teresa, é, de facto, chocante. repugna e indigna. Pelo menos.

A disse...

O mundo anda às avessas.

Paulo disse...

Austeriana, o mundo às avessas e isto é o avesso da humanidade.
Abraço