16 maio 2010

A indomável paciência da Mestre


EXPEDITO, tímido, fala às vezes o que não quer:
"Você tem umas pernas tão bonitas, boas pra gente bater um papo".
Ai, que susto, Expedito, paradão.Você bem que quer, hein? Te falta é jeito, te falta é, em pequeno, ter tido coragem de desejar não ter mãe.
"Vão tomar banho comigo, gente?" 
É o que você disse com modos de quem pede licença pra fechar a porta, eh Expedito, com a sala cheia de moças! Se aproveita para falar  o que você pensa, ou você não pensa, Expedito, fica só sentindo, inocente e aceso?
Parece seminarista, parece regente de meninos cantores, parece um que confundiu a religião com o modo. Se eu bato palmas, você se assusta, você fica corado, você baixa os olhos.
Eu deixo você sem fala: te chamo de Dito, bebo o resto de seu café, na sua presença, passo os dedos da mão entre os dedos do pé, como se o que eu sentisse fosse coceira só. 
Você fica atônito, esquece de ir-se embora, me empalha, me deixa sem banho, sem comida, sem ar. Mas eu gosto de proteger o sexo forte.
Melhor estará comigo, que sei o que estou fazendo. Eu tenho paciência com você.
Eu não te largo, Expedito, até você virar expert. Dito? 

Adélia Prado,  Aluno e Mestre

2 comentários:

Marta disse...

de li ci o so .

di vi no.

íssimo :)

César Ramos disse...

Olá Marcas,

Sem prejuízo de voltar para comentar mais este v/ magnífico post, passei por aqui para dizer que decidi partilhar convosco o Selo «Prémio Dardos», que está à v/disposição no M/blog Alfobre de Letras.

Têm o livre arbítrio de apenas o colocaram na v/"lapela"!

Esta designação "Dardos", assenta em quem tão bem exalta nos seus textos, padrões de humanidade e de justiça!

Bem hajam

Um abraço
César