01 junho 2010

Ferreira Gullar























A poesia
quando chega
não respeita nada.
Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
de qualquer de seus abismos
desconhece o Estado e a Sociedade Civil
infringe o Código de Águas
relincha
como puta
nova
em frente ao Palácio da Alvorada.
E só depois
reconsidera: beija
nos olhos os que ganham mal
embala no colo
os que têm sede de felicidade
e de justiça
E promete incendiar o país
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Ferreira Gullar, poeta e dramaturgo, nascido em 1930 em S. Luis do Maranhão, ganhou o Prémio Camões 2010. Homem e cidadão integro, para quem nada é intocável ou indiscutível, manifestou-se felicíssimo com este Prémio.
Nós também. 

3 comentários:

Keila Costa disse...

Belíssima poesia, provocadora...
Obrigada Paulo!

Nina Blue disse...

Concordo com a Keila. Quantas vezes um escrito transforma, revigora, rebela,explode e é tão... Libertador, seria a palavra certa.

Paulo disse...

Keila, prémio justíssimo, sem dúvida. Ferreira Gullar é, pelo menos em Portugal, um poeta pouco conhecido. Esperemos que o prémio o traga para perto dos leitores e amantes de poesia.

Nina, também concordo. Há um poeta português (Ary dos Santos)que tem um poema "de combate"que termina assim:
..."Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!"

Abraço