31 agosto 2009
Uma insuportável aridez no conforto
30 agosto 2009
O PS, os problemas e anseios da juventude
29 agosto 2009
A cosmética da ética
Assim, se chegar ao Governo, a dra. Ferreira Leite extinguirá o pagamento especial por conta que a dra. Ferreira Leite criou em 2001; a primeira-ministra dra. Ferreira Leite alterará o regime do IVA, que a ministra das Finanças dra. Ferreira Leite, em 2002, aumentou de 17 para 19% ; promoverá a motivação e valorização dos funcionários públicos cujos salários a dra. Ferreira Leite congelou em 2003; consolidará efectiva, e não apenas aparentemente, o défice que a dra. Ferreira Leite maquilhou com receitas extraordinárias em 2002, 2003 e 2004; e levará a paz às escolas, onde o desagrado dos alunos com a ministra da Educação dra. Ferreira Leite chegou, em 1994, ao ponto de lhe exibirem os traseiros. No dia anterior, o delfim Paulo Rangel já tinha preparado os portugueses para o que aí vinha: "A política é autónoma da ética e a ética é autónoma da política". »
27 agosto 2009
Espelho meu, espelho meu...
/155/ Há muitos anos um oficial do exército de ocupação, em Moçambique, disse-me, na parada, enquanto eu, perfilado, tremia de medo: "você, nessa cabeça tem só merda!" Eu acreditei!
Quando poetas me dizem: "o teu lugar é aqui, entre nós", como se alguém estivesse a tirar-nos uma fotografia, acredito logo.
Porque não sei o que pensar de mim, se vocês me desprezarem, sentir-me-ei desprezível; se me estimarem, estimável. Sou quem os que amo (ou detesto) pensam de mim. Pouco mais. Sublinhei algumas palavras para que vocês notem que não há uma sinfonia, um poema, sequer "aquela cartinha" que escrevemos a alguém que não sejam conduzidas por qualquer ideia. Temática. Insistente. Obcecante.
Sebastião Alba, in Albas, Ed. Quasi, 2003
Foto: R.Misrach
Música: Kate Bush & Larry Adler
26 agosto 2009
algumas tristezas não são de espanar*
Nabices
25 agosto 2009
Outono
(foto:António Cruz)
24 agosto 2009
a ocasião
A chamada química do amor (ou a biologia das paixões) é um tema apaixonante. Propício à reflexão, quando o estio e o outono já se vão misturando ...
22 agosto 2009
Nenhuma ocasião vale o temor
Que o medo não te tolha a tua mão
Nenhuma ocasião vale o temor
Ergue a cabeça dignamente irmão
falo-te em nome seja de quem for
No princípio de tudo o coração
como o fogo alastrava em redor
Uma nuvem qualquer toldou então
céus de canção promessa e amor
Mas tudo é apenas o que é
levanta-te do chão põe-te de pé
lembro-te apenas o que te esqueceu
Não temas porque tudo recomeça
Nada se perde por mais que aconteça
uma vez que já tudo se perdeu
Ruy Belo
Foto Herby Crus
21 agosto 2009
"Nunca é tarde demais para amar"
19 agosto 2009
Frederico Garcia Lorca
Durante o governo republicano, Lorca, sem qualquer filiação partidária, teve uma actividade cultural militante, viajando com o teatro ambulante La Barraca por todo o país, levando peças a zonas que o desconheciam por completo.
Cancion Tonta
18 agosto 2009
Aquele Agosto
Agosto era o mês das festas, das feiras, do casamento das afilhadas e da animação à volta do coreto, quase em frente da igreja. Era o mês da doçaria nas bancadas da estrada - os sonhos, os beijinhos de mil cores, o doce da Teixeira de sabor a canela.
A tarde já ia a meio, pachorrenta e morna, com o sol por trás das casas, o carro dos bois chiando ao longe, as sombras acolhendo o mulherio à beira dos tanques, na sossega da lavoura.
Hoje, tudo parece ridículo – as danças ritmadas de cotovelo à cintura, o corpo bamboleante, as músicas meladas de olhares cruzados, desviados para o largo da igreja, ali em frente. O risinho miúdo das raparigas. As graçolas sonoras dos rapazes, folgazões.
O Poeta Em Lisboa
António José Forte
(in O Pó Da Escrita)
Imagem de autor desconhecido
17 agosto 2009
Um sinal apenas...
It's time to make a start
To get to know your heart
Time to show your face
Time to take your place
In every speck of dust
In every universe
When you feel most alone
You will not be alone
Just shine a light on me
Shine a light
I'll shine a light on you
Shine a light
And you will see my shadow
On every wall
And you will see my footprints
On every floor
It only takes a spark
To tear the world apart
These tiny little things
That make it all begin
Just shine a light on me
Shine a light
I'll shine a light on you
Shine a light
And you will see my shadow
On every wall
And you will see my reflection
In your freefall
Ooooooooh
Ooh ooh
Just shine a light on me
Shine a light
I'll shine a light on you
Shine a light
Cos when your back's against the wall
That's when you show no fear at all
And when you're running out of time
That's when you hitch your star to mine
We won't be leaving by the same road that we came by
...............
Os Keane, são uma Banda de Pop Rock Britânica, formada em 1995 por Tim Rice-Oxley (baixo, guitarra e vocal), Dominic Scott (guitarra e vocal) e Richard Hughes (bateria). Em 1997, Tom Chaplin (vocal e guitarra) passa a integrar a banda. Nessa altura, o grupo adopta também o teclado como um dos instrumentos. Em 2001 Dominic Scott deixa a Banda e a partir de 2002 o seu som destaca-se pela maior utilização do piano e pela original voz de Tom Chaplin.
Foto de Erwin Olaf. Um dos mais importantes fotógrafos europeus da actualidade. Em Montemor o Novo decorre até ao fim do mês uma exposição de trabalhos seus feitos a partir de obras de pintura de artistas espanhóis (El Greco, Picasso, Zurbáran)
14 agosto 2009
O dia vem com as sombras
Nesse tempo somos cegos
pelas manhãs e os sonhos
tão suaves como amoras
_______leva-me a ver a lua
o que é um homem na noite
no silêncio, quando chora?
Nesse tempo somos cegos
e em tudo a vida demora
o tempo – uma rosa a arder
Nesse tempo
___________________
um dia descubro
que a casa sou eu
* The Cinematic Orchestra - To build a home
13 agosto 2009
12 agosto 2009
Luz
Era assim a inocência feita de luz
11 agosto 2009
Silêncios
Cheguei a ter medo
Cheguei a ter medo de te perder,
tu não chegaste sequer a ter medo.
Este silêncio de já não termos palavras
ouve-se nas outras palavras que trocamos.
Miserável mundo nosso e alheio,
igual ao que todos disseram da sua época,
e pior, porque este vivemos nós
e conhecemos nós, cada um conforme pode.
Já morrerem os ídolos todos da infância
e os da adolescência vão a caminho,
sobrevivente é o teu olhar cego
(hoje há já só um dos Righteous Brothers).
Na feira de velharias uma caixa
para tabaco com uma rosa verde.
Tem o preço ainda em escudos, uma falha
num dos cantos, uma pequena cruz de cal.
Permaneces aí, à lareira, lendo livros vivos
e o seu turbilhão de palavras profundas.
Nunca mais chega o medo de nos perdermos,
eco um do outro em ricochete de silêncios.
Helder Moura Pereira, Mútuo Consentimento, Assírio & Alvim, Lisboa, 2005
Foto daqui
* Gary Moore – Still Got the Blues
10 agosto 2009
Visita de médico
Ao entrar no quarto do doente, não se deve apresentar nem exuberante nem contido. Deve cumprimentar os que se levantam à sua chegada e sentar-se junto ao doente.
Virando-se para o doente, deve perguntar-lhe como vai, segurando-lhe delicadamente no braço. A princípio pode haver diferenças de pulsação. A do doente pode estar acelerada pela excitação da chegada do médico ou pelo susto do preço da consulta
O médico deve prometer sempre ao doente que, com a ajuda de Deus, o vai curar. À saída, o médico deve dizer à criadagem que ele está muito mal, porque, se houver recuperação, isso dar-lhe-á muito crédito e se morrer confirmarão que o médico o tinha previsto desde o início.
Entretanto, o médico é aconselhado a não demorar o olhar na esposa, na filha ou nas criadas do doente."
09 agosto 2009
A terceira mãe
Tive de ser eu a fazer as perguntas todas e a encontrar respostas. Encontrá-las no mínimo som de uma porta a fechar-se. Havia as tardes do estrondo e as tardes do sussurro, as tardes da pressa e as da hesitação. E através dos movimentos da porta, das vozes e não-vozes atrás dela, dos diálogos entre as mãos à mesa, dos recantos interiores e exteriores aos corpos, fui formulando as perguntas e capturando respostas à socapa.
A vontade nunca foi o teu forte, muito menos o de clarificar as coisas. O teu forte é a humildade, é a paciência, são os ombros tantas vezes encolhidos que se tornaram covas e engoliram a alegria, a tua e a dos teus, de tanto lhes quereres bem. Mereces ser condecorada no treze de Maio, Grã-Cruz da Ordem da Renúncia. Melhor ainda, a beatificação em vida, na próxima visita do Papa ao nosso queridíssimo Santuário.
Mas para isso era preciso fazeres milagres, e não consegues. Está provado que não consegues. Tentaste tanto. Querias curar-me as dores de barriga com a mão e conseguias acalmar-me o choro, mas depois ias a correr chamar o médico. Com o pai a mesma coisa. Passavas-lhe a mão pela testa suada, entravas em tudo quanto fosse ervanária à procura de chás, xaropes, poções.
E depois foi o que se viu. Até desistires sem sequer chorar.
Eu não desisto. Sou uma Fúria desintegrada da tragédia. Rasgo as vestes, choro prantos de sangue, firo o corpo nas lages do chão. Mas nunca mais de meia hora. A decisão sacode-me, grito por uma caneta.
Julieta Monginho, A Terceira Mãe, Campo das Letras, 2008.
Pintura de Paula Rego, Prey, 1986
* Nick Cave & The Bad Seeds, People Ain't No Good
08 agosto 2009
Olhando
07 agosto 2009
Lubna Hussein
06 agosto 2009
Stieg Larsson
A sua Trilogia Milénio, constituída pelos três volumes "Os Homens Que Odeiam As Mulheres", "A Rapariga Que Sonhava Com Uma Lata De Gasolina E Um Fósforo" e "A Rainha no Palácio das Correntes de Ar", centram-se em crimes económicos e de sangue, antecipando, surpreendentemente, o que se viria a passar, recentemente, com célebre caso Madoff.
O estilo é de thriller, policial, mas vai muito além disso, descreve-nos até quase ao tempo real, todo o mistério de uma sociedade corrupta, quer mergulhando nos segredos de uma família poderosa da alta finança, Os Vangler, quer das instituições em que, incautos, confiamos.
A hacker Lisbet Salander e o jornalista Mikael Blomvist são os heróis da sua narrativa. O mundo da informática é desvendado de um modo minucioso, fazendo-nos pensar que é quase impossível, actualmente, preservar a privacidade.
Uma boa leitura de férias. Atenção, é viciante e pode ser pandémico.
Hiroshima
Alfred Eisenstaedt
Uma chuva preta, oleosa e pesada, caiu ao longo do dia. Essa chuva continha grande quantidade de poeira radioactiva, contaminando áreas mais distantes do centro. Peixes morreram em lagos e rios.
05 agosto 2009
Fariseias
Gostam de ser cumprimentadas
nas praças
e de ter o primeiro lugar
à mesa dos banquetes
são calculistas
formigas carreiristas
cheias de sucesso
e tudo usam e tudo gastam
indistintamente
porque são altas as suas entropias
e depois não sabem dar
os bons-dias às mulheres-a-dias
Adília Lopes, in Caras Baratas, Relógio D'Água, 2004
Foto: Julia Fullerton-Batten
04 agosto 2009
Poesia
03 agosto 2009
Ver, Olhar e Sentir com Evgen Bavcar
É um artista de fotografia e é cego. Chama-se Evgen Bavcar .
Nasceu em 1946 na Eslovénia e deixou de ver aos 12 anos, depois de dois acidentes sucessivos.
Bavcar estudou História e Filosofia na Universidade de Ljubljana e Filosofia na Sorbonne.
Em Paris, iniciou uma carreira académica e intensificou a sua actividade fotográfica. Em 1988 foi nomeado Fotógrafo Oficial do Mês da Cidade Luz e a partir daí o seu trabalho tem tido grande divulgação, sobretudo na Europa.
O trabalho de Bavcar relaciona a visão, a cegueira e a invisibilidade: O meu objectivo é juntar o visível e o invisível, fotografar permite-me subverter a estabelecida divisão entre os que vêem e os que não vêem.
02 agosto 2009
Cantigas do Maio em Agosto
Zeca Afonso poeta, cantor andarilho e cidadão, faria hoje 80 anos. Para uma geração que se habituou a ouvi-lo como o porta-voz da esperança, a sua ausência é ainda mais significativa. A sua voz, embora seja agora uma voz de saudade, traz sempre, à mistura, "qualquer coisa de verdade". Ainda. E é isto também o que faz a eternidade de qualquer ser.
Sobre o Zeca, ler actualidades aqui, mas também aqui e aqui. Para haver memória.