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Cheguei a ter medo
Cheguei a ter medo de te perder,
tu não chegaste sequer a ter medo.
Este silêncio de já não termos palavras
ouve-se nas outras palavras que trocamos.
Miserável mundo nosso e alheio,
igual ao que todos disseram da sua época,
e pior, porque este vivemos nós
e conhecemos nós, cada um conforme pode.
Já morrerem os ídolos todos da infância
e os da adolescência vão a caminho,
sobrevivente é o teu olhar cego
(hoje há já só um dos Righteous Brothers).
Na feira de velharias uma caixa
para tabaco com uma rosa verde.
Tem o preço ainda em escudos, uma falha
num dos cantos, uma pequena cruz de cal.
Permaneces aí, à lareira, lendo livros vivos
e o seu turbilhão de palavras profundas.
Nunca mais chega o medo de nos perdermos,
eco um do outro em ricochete de silêncios.
Helder Moura Pereira, Mútuo Consentimento, Assírio & Alvim, Lisboa, 2005
Foto daqui
* Gary Moore – Still Got the Blues
4 comentários:
amei, amei, amei. mil vezes amei...
não conhecia! obrigada. muito.
beijo
Não conheço nada deste autor, mas conseguiste suscitar a minha curiosidade.Vou tentar ler mais algumas coisas dele.
Abraço
muito lindo...
gostei de estar aqui voltarei.
abç
voltarei á lágrima do poeta de Setúbal !
um gosto , lê-lo aqui !
Abraço
_____ JRMARTO
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