Poema de amor
Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno
E quase ia morrendo com o receio de que ele
não te coubesse no dedo.
Jorge de Sousa Braga, in O Poeta Nu
*
São os rios
São os rios
Somos o tempo, somos a famosa
parábola de Heraclito, o Obscuro.
Somos a água, não diamante duro
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos esse rio
a olhar-se no rio. A sua imagem
muda na água do espelho entre as margens,
no rio que varia, fogo cego.
Somos o rio vão, predestinado
runo ao seu mar. De fogo está cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha moeda lesta.
E no entanto há algo que ainda resta
e no entanto ainda há algo que se queixa.
Jorge Luís Borges, in Os Conjurados
* Léo Ferré, Avec le Temps
Foto da NASA
3 comentários:
Somos essa passagem que fazemos pelo universo, numa constante expectativa de que algo nos singularize. Mas não serão muitos aqueles a quem o Universo tem dificuldade em dizer adeus, pois ao comum dos mortais o adeus só custa àqueles para quem fomos únicos.
É verdade, Pas[ç]sos (complicado escrever nas teclas este nome:)))!
Mas cá pra mim, são aqueles para quem formos únicos, o único universo que importa. O resto é como dizia Camões: "vaidade a que chamamos fama". Irresistível e perigosa se, no desejo de nos transcendermos, deixamos de nos ver mortais e simples.
Beijito grande
Beijinho pela ideia.
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