30 setembro 2009
"Notas & Neurónios" ou o poder da escala pentatónica
País
Anda um rato no meu computador.
29 setembro 2009
Há dias assim...
Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo nos cai
em cima. Depois
ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam.
Não lhes sei o nome. Uma
ou outra parece-se comigo.
Quero eu dizer: com o que fui
quando cheguei a ser
luminosa presença
da graça,
ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
num verão antigo.
E dura, dura ainda.
Eugénio de Andrade, Os Lugares do Lume, Fundação Eugénio de Andrade, 2ª ed, 1998
28 setembro 2009
Esta gente não aprende
27 setembro 2009
Sonho (de silêncio)
Fazendo pirraça pra sobreviver
No novo tempo apesar dos castigos
Estamos crescidos, estamos atentos
Estamos mais vivos pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da forma mais bruta, da noite que assusta
Estamos na luta pra sobreviver
Pra que nossa esperança
Seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho
Que se deixa de herança
No novo tempo, apesar dos castigos
De toda fadiga, de toda injustiça
Estamos na briga pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
De todos pecados, de todos enganos
Estamos marcados pra sobreviver
No novo tempo, apesar dos castigos
Estamos em cena, estamos nas ruas
Quebrando as algemas pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
A gente se encontra cantando na praça
Fazendo pirraça pra sobreviver
26 setembro 2009
Escolher é sempre excluir
At night, when all the worlds asleep,
The questions run so deep
For such a simple man.
( ... )
Won't you please, please tell me what we've learned
25 setembro 2009
Vamos lá!
...golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado, feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...
Alexandre O'Neil, Portugal (fragmento), in Feira Cabisbaixa, 1965
24 setembro 2009
Ah... e tal, queria assistir a uma sessão e calhou entrar.
....
Foto: Diane Arbus
23 setembro 2009
Histograma pré-eleitoral
a quanto se vendem quantos? - uns quantos se vendem a quanto.
um vale quanto? - quanto vale um.
quanto vale cada um? - em média, a média.
[Roubado (a)o lado esquerdo da amizade. Ele sabe que não é furto, mas fruto. Da cumplicidade.]
Entre nós e as palavras há metal fundente
Não, não me devias ter mentido acerca do mundo – (e eu, que só queria acreditar em tudo o que dizias.)
Devias ter-me ensinado a inclinação perfeita do gume, ter-me treinado no golpe contido e certeiro nas asas das vespas (os brinquedos eram de madeira, seriam perfeitos).
Devias ter insistido comigo no ajuste das receitas: metade mel, metade cicuta. Aprenderia a arder um fósforo na falange, sem gemidos, sem vacilação das pálpebras, sem paixão.
Em vez da lógica de todas as demências, em vez da geografia dos êxitos, em vez da fuga aprazada, ensinaste-me a dormir sobre a consolção da alma, esse interstício insaciavelmente obscuro.
Devias ter-me dito a verdade acerca do choro dos homens e do riso das bestas. Sempre achei incrível como os cães podiam sorrir às ameaças dos donos. Nunca acreditaste que isso era possível. E ensinaste-me que nunca se jura sobre o que não se sabe. Mas juravas pelos anjos e arcanjos das pagelas e santinhos que havia uma bondade natural no coração dos homens.
Não, não me devias ter mentido sobre o mundo. Eu teria aprendido a desconfiar da minha própria condição de humano e não seria incauto viajante ou obstinado pescador de estrelas. Devias ter-me dito a verdade: que ninguém escapa, ninguém escapa à sedução da posse da palavra soberana. Que ninguém avisa da vilania e que ninguém... ninguém tem o coração puro.
Devias ter-me dito: a alma é um intestino que se enche - nuns dias frango gourmet noutros paté e vinho maduro; e o mais é trabalho de fotógrafo em dias de feira. Devias ter-me dito, eu ia perceber tudo. Eu tinha os olhos sempre acesos noite dentro, como se ela trouxesse a verdade insofismável da brancura.
O que me devias ter ensinado – hoje sei – é do silêncio dos livros e do labor das rosas.
E eu apenas venho aprendendo a morrer esse amor.
21 setembro 2009
assessor (ias)
(latim assessor, -oris, ajudante, auxiliar)
adj. s. m.
1. Que ou quem assiste ou assessora.
s. m.
2. Pessoa que tem como função profissional auxiliar um cargo superior nas suas funções.
(Foto Aqui)
Sobre a alternância (na hora das escolhas)
O "efeito de alteração máxima" é um conhecido princípio que rege o processo de discriminação na aprendizagem dos animais. Por exemplo, se ensinarmos um rato a distinguir um quadrado de um rectângulo, e se o premiarmos ao reconhecer o rectângulo, ele aprenderá muito rapidamente a reagir aos quadrados. Mais ainda, se treinarmos o rato com um protótipo de rectângulo de determinadas dimensões, o rato reagirá ainda mais positivamente se lhe for mostrada uma figura ainda mais fina e comprida. Este curioso resultado implica que o que o rato aprende a valorizar, na realidade, não é um rectângulo em particular, mas sim uma norma: neste caso que os rectângulos são melhores do que os quadrados. Quanto maior for a proporção entre os lados curtos e os compridos, isto é, quanto menos aspecto de quadrado tiver, "melhor" rectângulo parecerá ao rato.
É o chamado peak shift effect
Eduardo Punset,Viagem à Felicidade, Dom Quixote 2007
Fotografia Diane Arbus
20 setembro 2009
Ton Sur Ton
Na brancura intemporal
19 setembro 2009
O rapaz, o comboio e o tango
Foram conhecidos em Portugal através da Sons em Trânsito e são um fantástico grupo de tango electrónico.
18 setembro 2009
Uma flor para Fawziya
Fawziya Abdullah Youssef, uma menina de 12 anos, morreu no Iemen depois de três dias em trabalho de parto. O seu bébé morreu também.
Fawziya Abdullah Youssef sangrou até morrer na sexta-feira, num hospital em Al-Zahra, cerca de 200 quilometros da capital, disse a Organização Iemenita para a Protecção da Infância (Seyaj).
Segundo ONG, Fawziya foi forçada pela família a abandonar a escola e a casar quanto tinha 11 anos. O casamento teria sido forçado pela família para, com o dote obtido, fazer face a extremas dificuldades económicas.
A ONG refere que quase a metade das meninas na zona rural no Iemen têm de casar antes dos 15 anos de idade.
A brutalidade que tudo isto representa exige que, pelo menos, saibamos que este horror existe.E nos indignemos.
17 setembro 2009
Respostas a Marta (e ganhámos outro selo)
Aqui vão, cara Marta, as minhas respostas ao inquérito:
1- O livro que estou a ler é "Transa Atlântica",de Mónica Marques;
2-O meu livro preferido é "Amores No Tempo Da Cólera", de Gabriel Garcia Marquez;
3-Geralmente, escolho os livros por recomendação, ou por instinto;
4-Acho que terminei sempre os livros, até para não gostar é preciso ler;
5-Os livros que tenho, agora, na mesa de cabeceira são: "Férias De Agosto",de Cesare Pavese;"Boquitas Pintadas",de Manuel Puig;"O Violencelo De Sarajevo", de Steven Galloway.
6-Camões, Eça, Aquilino,Agustina, Sophia, Derrida, Tolstoi, tantos!
7- Recomendo, neste momento, "Trilogia Milenium"e "As Benevolentes".
8-Não sou capaz de responder, custa-me.
Transa Atlântica
"Transa Atlântica", de Mónica Marques, portuguesa, nascida em 1970, a viver e a trabalhar como jornalista no Brasil, é, seguramente, o livro mais desconcertante que já li.
15 setembro 2009
Do contentamento dos loucos
E não ter dinheiro é isso: é ser mais natureza, estar mais dependente da falta de legislação que há na música e nos bichos: as coisas escuras amedrontam, tornam-te cobarde, escondes os teus filhos atrás do teu corpo, mas sabes que a bala virá por trás.
Dizem que Lúcifer caiu durante nove dias, mas tal viagem não amedronta ninguém. Não foi uma queda, foi um passeio. Porque nove dias são nove dias, por isso o diabo caiu tão bem, com a roupa direita, engravatado, sem uma dorzinha. Percorre as ruas e parece aos outros o corpo de quem subiu até aqui, e não de quem desceu tanto: nove dias, dizem, foram os dias que demorou Lúcifer a cair.
A maldade não se distingue; como as meninas gémeas que vão para o colégio de mãos dadas, com a vestimenta azul, igual. A maldade não tem uma marca na testa como as vacas que têm doenças e foram marcadas na testa pelo dono.
- Esta é para ser morta, não é para ser vendida.
A doença tem marcas, a pobreza tem marcas, mas a maldade não tem marcas. Os feios têm marcas.
Um vagabundo pedia esmola num semáforo. Passou de um carro para outro, depois para outro. Um deles abriu o vidro da sua porta só uns centímetros e deixou cair uma moeda valiosa ao chão, depois arrancou porque o semáforo estava verde. O pedinte baixou-se para apanhar a moeda e veio um carro que só viu o semáforo verde e atropelou-o. Apanhou-o em cheio, partiu-lhe os ossos da anca.
Já numa maca, em cima do passeio, o dedo esticado do vagabundo não era compreendido por ninguém porque ele não conseguia falar.
- Alguém conhece este homem? Sabem se já não falava antes?
Ele apontava para a moeda no meio da estrada, mas ninguém percebia. E foi levado.
( A química não estuda aquilo que muda na matéria quando a matéria é o nosso corpo e alguém o abraça no momento exacto.)
Três meses depois, quando saiu do hospital, ele coxeava e não falava. Ninguém sabe se foi do acidente ou se antes já ele era mudo e com olhos de louco, porque ninguém o conhecia. (Ninguém podia confirmar se ele já era louco antes. Mas agora era louco.) Nesse mesmo dia ele foi ao sítio do acidente e no meio da estrada perigosa ainda estava a moeda. Meteu-a no bolso. Um carro aproximou-se e ele correu para o passeio. Ficou em segurança e acariciou a moeda com os dedos.
Do carro, que novamente quase o atropelara, uma mulher chamou-lhe maluco. Mas ele, o louco, estava contente.
Gonçalo M.Tavares, in Água, Cão, Cavalo, Cabeça, Ed. Caminho, 2006
14 setembro 2009
Middle sex
… Enquanto Miss Grotowski escreve as suas equações no quadro, todos os colegas à minha voltam começam a transformar-se. As coxas de Jane Blunt, por exemplo, todas as semanas parecem crescer mais um bocadinho. A sua camisola vai inflando à frente. Um belo dia, Berveley Maas, que se senta mesmo ao meu lado, põe o dedo no ar e eu vejo uma mancha escura pela sua manga acima: um tufo de pelos castanho- claros. (…..)
A voz de Peter Quail é agora duas oitavas mais baixa do que o mês passado, sem que ele dê por isso. E porquê? Está a voar demasiado depressa. Os rapazes começam a ganhar uma penugem de pêssego por cima dos lábios. As testas e os narizes começam-lhes a rebentar. Mais espectacularmente ainda, as raparigas começam a tornar-se mulheres. (….)
Só Calliope, na segunda fila, permanece imutável, como que paralisada na sua secretária, de modo que é ela a única a reconhecer a verdadeira amplitude das metamorfoses em curso à sua volta. Enquanto resolve os problemas, está ciente da carteira de Tricia Lamb no chão na mesa ao lado, e do tampão que lobrigou lá nessa manhã – e como é que isso se usa ao certo?- e a quem perguntar? Embora ainda seja bonita, Calliope não tarda a tornar-se a rapariga mais baixa da turma. Deixa cair a borracha, mas já ninguém lha vem apanhar. Na peça de Natal da escola, já não é escolhida para fazer de Maria, como nos últimos anos, mas sim de elfo…Mas ainda há esperança, não haverá? ( ....) os alunos voam vertiginosamente através do tempo, de tal modo que um dia, ao levantar os olhos do seu papel manchado de tinta, Callie vê que é Primavera, as flores a desabrochar, forsítias em flor, ulmeiros verdejantes; no recreio, meninos e meninas de mãos dadas, beijando-se por vezes atrás das árvores, e Calliope sente-se enganada, traída. “Então e eu?”, diz ela à natureza. Estou à espera. Ainda aqui estou”.
Jeffrey Eugenides, Middlesex, D. Quixote, 2oo4
Fotografia Diana Arbus
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O fascinante Middlesex de Jeffrey Eugenides (acima citado) começa assim: nasci duas vezes: primeiro como menina bébé, num dia invulgarmente limpo na cidade de Detroit, em Janeiro de 1960. Depois outra vez, como rapaz adolescente, numa sala de urgências perto de Petoskey, Michigan, em Agosto de 1974. O narrador e figura central do livro é Calliope / Cal , um intersexo.
13 setembro 2009
A distância entre as coisas
Não fia o fio
Não espera
Por nenhum Ulisses
Às portas do sangue
O herói adormecido
Agora está deitado
Ao Polifemo abraçado
Seu próprio satélite forçado
Há um intervalo nímio
Nas coisas
Que entre si independem.
Ana Hatherly, A Neo Penélope, &etc 2007
Debates
O vazio que fica disto tudo. Será que alguém poderá mudar o sentido de voto depois desta política espectáculo?
O nosso pequeno mundo fica ainda mais restrito.
As divergências, as gaffes, o inefável Alberto João, o Francisco, o Jerónimo, o Paulo, o José, a Manuela.
E o povo, pá?
As casas deles, os filmes em que choram, ou não, a retórica, ou não, os momentos, as feiras, os programas, a asfixia democrática, ou não, os jornais, os comentadores, a liberdade, o défice, a crise, as piadas, os cenários, as sondagens, os cenários, as sondagens, pá, a ideologia, pá, a esquerda, pá, o país, pá , direita, pá,quem ganhou, é provável,jamais, pá, Uff!
E a democracia? O país, pá,o desemprego, pá, as campanhas, a violência, a rua, o despesismo, pá, a rentrée, a gripe, as vacinas, o spread, e tudo, pá?
E tudo, pá?
12 setembro 2009
Um desafio "major" para Obama
11 setembro 2009
Bem vindo, Jorge de Sena
We are the Web
Via: dennishollingsworth.us, blogue onde o autor mantém, desde 2003, não só uma espécie de sketchbook das suas obras, mas também reflexões sobre o quotidiano - aspectos do seu percurso de pintor, as galerias, artigos sobre as várias manifestações tecnológicas e artísticas no mundo contemporâneo .
Comecem por descobrir a originalíssima Timeline bio do autor, ou a entrada About this blog. Conheci-o através de uma amiga ligada às artes plásticas (obrigada Lurdes!) que mo aconselhou vivamente. Está feita , também, a minha partilha “em rede”. Espero que vos interesse.
Quanto ao vídeo ali em cima... pois... cada vez mais somos “feitos” da linguagem que nos diz: We are the web, afirma Dennis H.. Estou em crer que somos mais qualquer coisa, sei lá... mas como dizê-lo?
10 setembro 2009
Apetites na revolução
Uma das causas da Revolução Francesa foi a irritação dos camponeses porque não se lhes permitia caçar, e por isso um dos primeiros privilégios que os nobres se viram obrigados a abandonar foi este.
Em todas as revoluções, a primeira coisa que fez sempre "o povo" foi saltar as cercas das coutadas e demoli-las, e em nome da justiça social perseguir a lebre e a perdiz.
José Ortega y Gasset, Sobre a Caça e os Touros, Ed. Cotovia 2009
09 setembro 2009
Ganhar vícios!
Estamos muito gratos ao Há vida em Marta, ao Bicho Carpinteiro e ao Catharsis pela atribuição deste selo distintivo (com a devida vénia, cumprimentamos três dos blogues que mais gostamos de visitar e onde lemos/aprendemos imensas coisas interessantes).
Segundo as indicações, após a atribuição temos de assumir três compromissos para o futuro (Paulo, Clara, não percam a vossa vez, ouviram?)
(ai, isto hoje está a dar uma trabalheira!!!) Da minha parte, os meus compromissos são:
1º - Tentar ser mais disciplinada.
2º - Cuidar melhor de mim, da minha saúde física (no seguimento do compromisso anterior, não me desculpar com a falta de tempo e dosear o trabalho, estabelecer limites).
3º - Estar mais atenta aos amigos e à família - que tanto bem me fazem.
Para concluir, devo agora apresentar também uma lista de dez blogues viciantes a quem devo passar o prémio. Dos blogues que visito assiduamente, e pelas mais variadas razões, os que nomeio são:
Vá Andando - pelos belíssimos poemas que já aqui encontrei. Deles me chega uma voz singular, muito musical, de que, seguramente, ainda ouviremos falar.
Há Vida Em Marta - pela variedade de temas/textos e pela energia realmente contagiante.
Bicho Carpinteiro - pela qualidade e originalidade dos temas que partilha. Pela elegância nas intervenções.
Catharsis - pelo tom humanista, delicado e reflexivo com que apresenta as ideias/textos. Também pelas escolhas musicais.
Vida Abstracta - pela genuinidade na procura do sentido das coisas e pela forma natural como as apresenta. Vou continuar atenta.
Da Janela - imperdível o trabalho destes dois fotógrafos. Aconselho vivamente.
A Natureza do Mal - pela acutilância e lucidez dos textos, que são magnificamente ilustrados.
Paços d'Água - uma escrita rente às vozes mais profundas do ser.
A Matriz dos Sonhos – Conheci o blogue através do "Vá Andando". Acho-o de uma imensa beleza gráfica, de muito bom gosto. A acrescentar, visitem a página web da autora.
Menina Idalina - pela mordacidade da escrita e o laborioso trabalho das imagens. O que eu já me ri com aquelas coisas sérias!
Com renovados agradecimentos aos três blogues acima referidos.
(Austeriana, já viajei pelo Abencerragem. Estou fã. Obrigada pela dica)
08 setembro 2009
Cartões Vermelhos
Fomos desafiados, pelo Bicho Carpinteiro, a atribuir cartão vermelho a dez atitudes, pessoas ou factos que nos incomodassem. Ora, como vivem nesta casa vários inquilinos, se calhar temos de fasear a arbitragem. Começo eu? Então, aí vai cartão vermelho para:
1. Toda e qualquer atitude de prepotência ou despotismo. Fico logo com brotoeja.
2. O exercício obscuro e moroso da justiça em Portugal (e no mundo, em geral). Uma mão lava sempre a outra e etc e tal... e não se encontra nunca os verdadeiros responsáveis.
3. As famílias que não cuidam dos seus idosos. Sei de casos em que as pessoas são literalmente abandonadas nos hospitais, após o internamento, por exemplo.
4. As chamadas de call centers para oferecer, questionar sobre, propagandear produtos e serviços. Já me aconteceu ter chamadas dessas de madrugada...
5. Os homens (nunca me apercebi disto nas mulheres... mas eu sou distraída) que escarram para o chão. E aquela tossezinha ruidosa no fim... a arranhar a traqueia. Nhaaque!
6. Os encontrões (reais e simbólicos) infligidos por todo o xico-esperto que "tem de chegar primeiro" a todo o lado. Basta ver a condução nas auto-estradas ou as filas de espera onde não há senhas de prioridade.
7. As pessoas que passam a vida a dizer: “olha que não fui eu quem disse, eu até concordo contigo”, e blá, blá, blá. E ainda fazem menção de nos tocar no ombro a sublinhar a verdade da afirmação. Que arrepio!
8. A nossa proverbial queda lusitana para acreditar num D. Sebastião que nos há-de valer, quer seja ele o pai, a mãe, o estado ou a divina providência.
9. O lixo nas ruas, a céu aberto.
10. A arrogância, acompanhada, não raramente, por um excessivo culto de uma imagem de juventude a qualquer preço.
E, seguindo as regras do jogo, aqui fica o desafio para cinco outros blogues:
Vá andando
Há vida em Marta
Vida Abstracta
Paços d'Água
Da janela
Fim do primeiro jogo amigável da Liga Bloguista!
Outro exemplo de "bom governo"
Em 2008, ambas as empresas apresentaram prejuízos elevados: o Metro do Porto contabilizou um resultado líquido negativo de 148,6 milhões de euros e o seu homólogo de Lisboa registou um prejuízo de 126,7 milhões de euros.
O Metro do Porto gastou, em 2008, com as remunerações dos seus 12 administradores executivos e não-executivos, segundo as informações da página da internet da empresa, um total de 545 186 euros. Só a comissão executiva, constituída por três membros, absorveu 66 por cento daquele total, correspondente a 362 628 euros.
Até ao final de Março de 2008, Valentim Loureiro, Rui Rio e Mário Almeida, presidentes das autarquias de Gondomar, Porto e Vila do Conde, e Narciso Miranda, ex-autarca de Matosinhos, eram administradores não-executivos. Rui Rio e Mário Almeida mantêm o cargo e Marco António Costa, autarca de Vila Nova de Gaia, substituiu então Narciso Miranda. Em 2008, segundo o site da empresa na internet, foram pagas remunerações-base de 3708 euros a Valentim Loureiro,21 918 euros a Rui Rio, 16 834 euros a Marco António Costa,14 310 euros a Mário Almeida e 9750 euros a Narciso Miranda.
No final de Março de 2008, a comissão executiva de Manuel Oliveira Marques foi substituída pela equipa de Ricardo Fonseca. Ontem, Ricardo Fonseca confirmou ao CM que o seu vencimento-base "é basicamente o mesmo" daquele que foi atribuído a Oliveira Marques, que está fixado no estatuto remuneratório, mas frisou que abdicou do cartão de crédito.
Face às diferenças salariais entre as duas empresas, Ricardo Fonseca afirmou: "São as remunerações fixadas no Metro do Porto quando para lá fui". E comentou ainda que "o salário é também em função da dificuldade de gestão [nas empresas]".
Fonte: Aqui
07 setembro 2009
Viajando pelas mulheres
Só lamento que as estradas sejam tão velozes nesta província. Sugerem-se uns dias parados na Curia ou no Luso e ver o deslizar das lentas bicicletas ao entardecer. Regressam a casa deixando um rasto de luxuriosa santidade. Cresce então a lua insubmissa sobre os viçosos vales do litoral."
Manuel Hermínio Monteiro, Revista K,nº19, Abril 1992
Fotografia Rodrigo Budag
Um belíssmo texto carregado de luz, cheiros e poesia, numa viagem com um intenso e original roteiro.
06 setembro 2009
03 setembro 2009
Coisas poucas
Quando analiso
a conquistada fama dos heróis
e as vitórias dos grandes generais,
não sinto inveja desses generais
nem do presidente na presidência
nem do rico na sua vistosa mansão;
mas quando eu ouço falar
do entendimento fraterno entre dois amantes,
de como tudo se passou com eles,
de como juntos passaram a vida
através do perigo, do ódio, sem mudança
por longo e longo tempo atravessando
a juventude e a meia-idade e a velhice
sem titubeios, de como leais
e afeiçoados se mantiveram
— aí então é que eu me ponho pensativo
e saio de perto à pressa
com a mais amarga inveja.
Walt Whitman, Folhas de Erva (Edição bilingue, 2 vols.), Tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D'Água, Lisboa, 2002
* Karunesh - Call of the Tribes
Foto de Lourdes Castro, Sombras
02 setembro 2009
como que uma cadeira sentada
era como que uma cadeira sentada sem
um não falar de coisa alguma com a palavra por baixo
nada faria prever que o vento fosse de azul para cima
e que a pose uma nostalgia de movimento deambulante
era-se como se tudo por cima duma vontade de fazer uma asa
nós não movimentamos o espaço mas a vida erege a cifra
constrói por dentro um vocábulo sem se saber
como o que será
era um sinal que vinha duma atmosfera simplificante
silêncio como um pássaro caído a falar do comprimento.
(António Gancho )