17 setembro 2009

Transa Atlântica


"Transa Atlântica", de Mónica Marques, portuguesa, nascida em 1970, a viver e a trabalhar como jornalista no Brasil, é, seguramente, o livro mais desconcertante que já li.
A cidade, percorrida pela narradora, entra-nos pelas páginas dentro, acutilante, inesperada, brutalmente intrigante.
Impressões, sentimentos, coisas do Brasil, coisas de mulheres, de homens, da natureza humana, são-nos atirados, num arremesso ousadíssimo, completa e politicamente incorrecto.
Fez-me lembrar Almodovar, nos primeiros filmes, quando misturaca rosa vivo com verde alface, quando desnudava a caricatura de nós.
Mónica está completamente impregnada pela cultura brasileira, mas não deixa de ser portuguesa, no espanto pelas coisas, no desencanto.
Ela não o diz, mas é um livro sem esperança, com muita verdade, muita força, humor, mas sem saída, como o filme de Tarantino "Sacanas Sem Lei", de que não gostei, embora compreenda as alusões ao cinema, a sua força.
Mónica também desmonta a escrita, dialoga constantemente connosco, põe a nú os efeitos literários, os truques dos editores.
O livro é para adultos. Não dá para ler ao pôr do sol, nem num jardim romântico. Tem a força de um grafitti, numa parede suburbana.

1 comentário:

Marta disse...

já tinha ouvido falar e, agora, fiquei mega ciuriosa! obg pela dica,Clara.