Posso dizer que acho a prosa de Agustina, no que diz respeito à crónica de costumes e contornos psicológicos, absolutamente saborosa e certeira. Juntamente com Camilo e o nosso Aquilino, será quem melhor conhece o nosso país, num tempo datado, é certo, mas a que voltamos sempre.
28 fevereiro 2009
Agustina
Posso dizer que acho a prosa de Agustina, no que diz respeito à crónica de costumes e contornos psicológicos, absolutamente saborosa e certeira. Juntamente com Camilo e o nosso Aquilino, será quem melhor conhece o nosso país, num tempo datado, é certo, mas a que voltamos sempre.
Descoberta
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade iria ser sempre clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
27 fevereiro 2009
À entrada de Março
pôr a música a tocar em preto-e-branco, criar a sintaxe do dia.
entrar pelo avesso numa velha camisola, e aquecer-se
à luz diagonal e extensa de uma janela comovida.
na melodia, fazer-se em novelo, embrulhar-se em rebuçado,
o queixo sobre os joelhos, o livro fechado.
toda a carícia devia ser
qualquer coisa como isto.
C.
Aprendizagem dos afectos
De início pensei que o rapaz segredara à rapariga qualquer coisa que a deliciou. Mas não. O gesto dela foi largo na tentativa de afastar o amigo – Está quieto, Mateus, não vês que me aleijas?!
O jovem insistia, impaciente, tentando beijá-la, tocar-lhe os seios, enfiando a mão desajeitada pelo decote da T-Shirt com uma falsa ternura que começava a incomodar quem parava à porta da pastelaria. A jovem, de braços cruzados sob o queixo, segurava com cada uma das mãos a alça contrária da mochila. – Vá lá, Soninha, não me curtes? – e roçava a face, ainda imberbe, nos cabelos dela, na testa dela, lutando contra o desaconchego dela. – Anda daí, tá? Não vês que tou cheio de tusa?A garota sacudiu-o, acossada na sua aparente fragilidade, e num gesto brutal lançou as mãos ao peito do rapaz, projectando-o contra a parede do edifício. – Pára lá com isso, pá, és mesmo bruto! Vai mas é curtir a bezana pra casa. Valia mais era ter ido à merda da aula.E desandou para o passeio contrário da estrada, em direcção à tabacaria, onde comprou uma caixa de Trident Ice azul, de mentol. Também reparei nisso.
O mancebo ainda a chamou, em gargalhada desafiadora: – Ó Sónia, dá aí uma pastilha!
Acabei o meu cigarro e entrei na pastelaria. Antes que me confundissem com algum figurante dos Morangos com Açúcar.
C.
26 fevereiro 2009
Piaf
Esta voz que sabia fazer-se canalha e rouca
ou docemente lírica e sentimental,
ou tumultuosamente gritada para as fúrias santas do «ça ira»,
ou apenas recitar meditativa, entoada, dos sonhos perdidos,
dos amores de uma noite que deixam uma memória gloriosa,
e dos que só deixam, anos seguidos, amargura e um vazio ao lado
nas noites desesperadas da carne saudosa que se não conforma
de não ter tido plenamente a carne que a traiu,
esta voz persiste graciosa e sinistra, depois da morte,
como exactamente a vida que os outros continuam vivendo
ante os olhos que se fazem garganta e palavras
para dizerem não do que sempre viram mas do que adivinham
nesta sombra que se estende luminosa por dentro
das multidões solitárias que teimam em resistir
como melodias valsando suburbanas
nas vielas do amor e do mundo
Quem tinha assim a morte na sua voz
e na vida. Quem como ela perdeu
toda a alegria e toda a esperança
é que pode cantar com esta ciência
do desespero de ser-se um ser humano
entre os humanos que o são tão pouco.
Jorge de Sena, Poesia III
Edições 70,1989
25 fevereiro 2009
Fahrenheit 451
Em escuta...
Inesperadamente, o modo aleatório em que escutava o Media Player trouxe-me isto. Partilho-o convosco.
Kate Walsh (não a actriz de Anatomia de Grey, mas a cantautora britânica) lançou o seu primeiro álbum – Clocktower Park – aos vinte anos de idade.
Nascida em Burnham-on-Crouch, Essex, foi buscar ao parque principal da sua vila o nome para o seu primeiro trabalho discográfico, por considerar que este ponto de encontro reflectia as suas experiências enquanto jovem preocupada com o mundo e as emoções circundantes.
Lembro-me de a ter escutado, em Julho de 2004, num registo inicialmente mais acústico, na Ler Devagar, ainda no Bairro Alto, por altura da digressão promocional desse disco de estreia.
A voz doce, o ar de menina determinada e meia dúzia de canções melódicas eram o seu cartão de visita. Os temas It's Never Over, Animals on Fire ou Impressionable revelavam uma autenticidade e um descomprometimento de quem canta por prazer e fascínio pela poesia.
De resto, Clocktower Park é isso mesmo: um disco de poemas cantados.
Admiradora de Joni Mitchell, Jeff Buckley ou Aimee Mann, a cantora reconhece que foi sobretudo o talento de Tori Amos para a composição o que a levou a seguir o rumo musical.
Kate Walsh, com uma guitarra na mão e a juventude toda no sorriso, partilha as suas histórias com quem esteja disposto a ouvi-las, partilha as memórias dos tempos passados no largo de Burnham-On-Crouch e traz-nos até aos dias de hoje, por entre referências a quem mais admira na música, experiências e motivações. Sempre com um olhar sobre o futuro.
(mais aqui)
Mundos perfeitos
Quiseram para eles caminhos de algodão e seda. Quiseram-nos imunes à dor e à contrariedade. Desfizeram-se em ternuras de fim-de-semana, apressadas e distantes, cheias de culpa pela ausência. Chamaram a isso mimos e carinho, pintando os gestos de afecto com as cores de Barbies, Nintendos e Playstations.
No sossego das casas vazias à chegada da escola, os filhos passaram a imitar-lhes os tiques, os gestos e as raivas de quem se vê a crescer sem interlocutor.
Adivinharam os seus desejos enquanto dormiam e, olhando-os amorosamente, fizeram de todos eles seus desejos também. E chamaram a isso o melhor dos bens, a melhor face do amor.
Sem se aperceberem, foram pequenos tiranos o que criaram. Têm-nos agora a exigir o que nunca será possível dar-lhes – um mundo sem lágrimas, sem esforço, sem morte.
Mas nem virtualmente – saberão as crianças isso? – o mundo é perfeito.
Amar por amor
por amor. Nunca penses: “Ela agrada
Se, por te ter, já não souber chorar.
24 fevereiro 2009
Nela
Josefov
23 fevereiro 2009
Lagoa Henriques
Jan Saudek
22 fevereiro 2009
Mucha
Estudou pintura em Praga, Viena, Paris e é aqui que o seu trabalho ganha visibilidade ao trabalhar como ilustrador em várias revistas de prestígio. Convive com Gaugin e participa activamente no movimento Modernista.
21 fevereiro 2009
O "outro"
20 fevereiro 2009
A Catedral
O importante
com o que posso
para
a lixeira cultural
não é muito eu sei
outros dão muito mais
eu não passo de um amador
enfim
o importante
é cada um dar o seu melhor
como dizem os irresponsáveis
Alberto Pimenta
Peace through music
19 fevereiro 2009
AVÓS
Discípulos
Sebastião Alba, in Albas
18 fevereiro 2009
SE FOR A PRAGA
Os olhos do coração
17 fevereiro 2009
Micro-ficções
A Música e a Escrita
A mim, essa impotência nunca me escandalizou. Quando ouço música, pergunto-me sempre: "mas donde vem isto? O que é isto?".
E sinto que a minha iconoclastia não esboroou todos os deuses, deixou um qualquer de pé e estou a ser imolado. Acabo de ouvir o 1º movimento do Concerto nº 20 de Mozart; lendo este rascunho, vejo que até a caligrafia se ressente.
Sebastião Alba
in Ventos da Minha Alma
Manuel António Pina
Em defesa de Dias Loureiro
Manuel António Pina, Por Outras Palavras, JN 17/02/2009
OVELHA NEGRA
N'écoutant que ton coeur…
As memórias ... são cintilações. Chegam-nos, por vezes, à revelia de toda a vontade. São, talvez, aquilo a que Teolinda Gersão, noutro contexto, chama “o inconsciente em relâmpagos."
Mas ao rever o episódio, achei interessante que fosse a inteligência sensível de Marion des Neiges a descodificar eficazmente a maior parte dos enigmas durante a busca do suposto ouro dos templários, também supostamente escondido no castelo sem nome.
En n’écoutant que (son) coeur, com a palma da mão.
Ora espreitem lá, ao minuto 6:20...
16 fevereiro 2009
Para sair da Crise...
Nos termos do disposto no artigo 248º do Código dos Valores Mobiliários, a Caixa Geral deDepósitos, SA informa que adquiriu à Investifino – Investimentos e Participações, SGPS, S.A.("Investifino"), através de transacção efectuada fora de mercado regulamentado, em 16 deFevereiro de 2009, 64.406.000 acções da sociedade CIMPOR-CIMENTOS DE PORTUGAL, SGPS,S.A. ("CIMPOR"), correspondentes a 9,584% do capital e direitos de voto da referida sociedade CIMPOR.
Após a referida aquisição, a Caixa Geral de Depósitos passou a deter 64.825.894 acções da CIMPOR e os correspondentes direitos de voto.
Mais se informa que o contrato de compra e venda de acções pelo qual a Caixa Geral de Depósitos adquiriu as acções acima indicadas também confere à Investifino uma opção de recompra das mesmas acções, que pode ser exercida durante o prazo de 3 anos a contar da data d a referida operação de venda.
O negócio foi feito ao valor de 4,75 euros por acção, envolvendo um montante global de quase 306 milhões de euros, sendo que os títulos da cimenteira fecharam hoje nos 3,79 euros por acção.
Manuel Fino vendeu ao banco público metade dos 20% que detinha na Cimpor, como forma de saldar parte das dívidas perante a Caixa, segundo noticiou hoje o Jornal de Negócios. Manuel Fino fica, ainda assim, com o direito de recomprar esta posição nos próximos três anos."
AS MANIAS DE D: SEBASTIÃO
Ainda Ana Goês...
num poema que integra a antologia 366 Poemas que Falam de Amor
CONVIDA-ME SÓ PARA JANTAR
E não queiras depois fazer amor.
Convida-me só para jantar
num restaurante sossegado
numa mesa de canto
e fala devagar
e fala devagar
eu quero comer uma sopa quente
não quero comer mariscos
os mariscos atravancam-me o prato
e estou cansada para os afastar
fala assim devagar
devagar
não é preciso dizeres que sou bonita
mas não me fales de economia e de política
fala assim devagar
devagar
deita-me o vinho devagar
quando o meu copo estiver vazio.
Estou convalescente
sou convalescente
não é preciso que o percebas
mas por favor não faças força em mim.
Fala, estás-me a dar de jantar
estás-me a pôr recostada à almofada
estás-me a fazer sorrir ao longe
fala assim devagar
devagar
devagar
Ana Goês
In 366 Poemas que Falam de Amor
Antologia organizada por Vasco Graça Moura, Quetzal, 2003
(Co) incidências
(...) Estes enunciados orais são habitualmente compreendidos devido à entoação e às pausas, feitas pelo locutor quando produz as frases, ou devido ao contexto em que as frases são produzidas.
As frases homófonas foram escolhidas em Goês, A. (2003), Aliás voltas sempre / Ali às voltas sempre – Jogos com a Língua Portuguesa. Lisboa: Ed. Replicação. Trata-se de pares de frases que se comportam como as palavras homófonas: são pronunciadas da mesma maneira, mas têm grafias e significados distintos. Funcionam também como jogos fonológicos e sintácticos com implicações directas na alteração do valor referencial das palavras, portanto das classes a que pertencem, e no plano da semântica da frase.
Valha-nos o facto de não ter sido este (abaixo) o exemplo de exercício escolhido para a referida página ministerial.
Corrijo, sempre é melhor.
Cu rijo sempre é melhor…
Coxeio, dói-me!
Cu cheio dói-me…
Ecológico
É cú, lógico!
Ela nem sequer o comove…
Ela nem sequer o cu move!
Mas que cozinho, lá isso é verdade…
Mas que cuzinho, lá isso é verdade!
No cume cheira.
No cu me cheira!
Nunca o coagiu assim…
Nunca o cu agiu assim!
Nunca tive comadre…
Nunca tive cu, Madre!
O meu corresponde mal…
O meu cu responde mal!
Quando o comanda…
Quando o cu manda…
in Aliás voltas sempre - Ali às voltas sempre, de Ana Goês, Ed. Replicação
Mas que a autora está atenta, e maneja bem as virtualidades da língua portuguesa, lá isso é verdade, e o livro vale a pena. A começar pelo título.
Portugal de Sucesso
Cecília
Carlos Paredes
15 fevereiro 2009
Como Foi Possível?
"O leitor sai de "As Benevolentes", romance de Jonathan Littel, que acaba de ganhar o prémio Goncourt, em França, onde teve um sucesso de público sem precedentes, asfixiado, desmoralizado e ao mesmo tempo estupefacto diante dessa viagem através do horror e a oceânica investigação que tornou possível esse livro. Não me recordo de ter lido um romance que documente com tanta minúcia e profundidade os pavorosos extremos de crueldade e estupidez a que chegou o nazismo no seu afã de exterminar os judeus e outras "raças inferiores" durante a sua curta, mas apocalíptica trajectória"
Mário Vargas Llosa
Quem seria o banqueiro,segundo Agustina?Quem Será?
Na "Corte Do Norte", a nossa Agustina conta uma história, localizada na Madeira, que pode ou não ser ficção:
"Há milionários por dinastia, e há outros por revelação. Era mais que certo que ele descobrira a maneira de ganhar ao jogo(...).Apurava todos os sentidos para chegar a essa informação e, sempre que chegava ao casino (...) era para prestar uma atenção desmesurada ao ruído dos mecanismos da roleta. Sabia imediatamente se estava viciada e como era possível desfrutar disso. (...). Lembrou-se de negociar os seus conhecimentos e então, porque os registara num livro, pagaram-lhe fabulosamente para não o publicar.(...) obtinha uma renda dos casinos mais famosos, incluindo Montecarlo e Deauville (...)
-in "Corte do Norte"
E assim esta personagem da nossa sábia escritora, passou a receber 1% dos lucros de todos os casinos do Mundo!
Quotidiano
SLN comprou terrenos perto do futuro aeroporto de Alcochete
Empresas ligadas ao BPN são donas de quase seis mil hectares dos terrenos onde vai ser construído o novo aeroporto de Alcochete.
De acordo com o jornal Sol, os terrenos foram comprados em 2006, poucos meses antes de o Governo ter decidido a localização do novo aeroporto.
Tonel (Antonio Eligio Fernández) ASUArtMuseum
14 fevereiro 2009
E puor si muove
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar- que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação-
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos."
Claridades
era azul o campo
Ai
tão longe
o futuro era longe
tão alto
Ai
Mas Agora
pensando bem
agora é sépia
o campo é sépia
e o pássaro ouro
Só a madrugada
não mudou
continua linda
e fresca
lá no alto
Tão alto
clara s.
obrigado, clara, pelo contributo.
O amor é...
O primeiro poema do livro, escrito por um menino de 9 anos, fala assim:
é um pássaro verde
num campo azul
no alto da madrugada»
Era das edições ITAU, lembro-me bem.
O que é o Amor?
"Quando a minha avó ficou com artrite e deixou de poder dobrar-se para pintar as unhas dos pés, o meu avô passou a pintar as unhas dela, apesar de ele também ter muita artrite."
Rebecca, 8 anos.
"Quando alguém te ama, a forma de dizer o teu nome é diferente..."
Billy, 4 anos.
Portugal
Dias Loureiro mentiu à Comissão de Inquérito
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado, feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós..."
Alexandre O'Neil (1965)
... actual como nunca, O'Neil!
Urbanidades
Efemérides
Em 14 de Fevereiro de 1956 Khrushchev faz, no XX Congresso do PCUS a denúncia dos crimes de Estaline.
Em 14 de Fevereiro de 1989 Khomeini profere a fatawa contra Salman Rushdie.
Em 14 de Fevereiro de 2003 a ovelha Dolly é sacrificada aos 6 anos de idade por sofrer duma doença incurável.
... faites la liaison
13 fevereiro 2009
Boletim Meteorológico 13/02/09
No Porto há nevoeiro e estão 8 graus.
Em Cabanões há nebelina, ouvem-se os galos desde cedo, não se espera chuva e a temperatura é de 6 graus.
Aveiro acordou com vontade de Costa Nova e Barra.
Na Mealhada e Anadia faz sol e em Coimbra há conhecimento.
Na Figueira da Foz o mar brilha, magnífico.
Em Lisboa não há vento e o céu está limpo. Temperatura 1o graus e junto ao Tejo está-se bem.
Em Évora há sol , a temperatura é de 12 graus e é bom sair da cama.
Em Faro o céu está azul, mas não há calor.
Na Madeira e nos Açores não sabemos.
12 fevereiro 2009
São jovens... e pensam!
11 fevereiro 2009
O Brincador
Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor. Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for. Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for. Quando for grande quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer. Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador...
A minha mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida,. E depois acrescenta, a suspirar: "é assim a vida". Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser um brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta. Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever "Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras".
Alvaro Magalhães, O Brincador, Ed. ASA, 2005
Aguarela :Joaquin Sorolla
Verão Novo
10 fevereiro 2009
Romance do Terceiro Oficial de Finanças
Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!
As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!...
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe os segredos dos grandes silêncios
— os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!...
(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia nomarar-te...)
Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada na vida!...
Da vida é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!
— isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal
Manuel da Fonseca