17 fevereiro 2009

Manuel António Pina

Manuel António Pina, como sabem, é escritor, poeta e cronista do quotidiano. Tem uma presença destacada na imprensa, onde trava um combate diário na defesa duma cidadania feita de dignidade, honra e aprumo.
É um prazer lê-lo e é uma honra fazer, aqui, a divulgação do que Manuel António Pina - Cidadão escreve.

Em defesa de Dias Loureiro

Dias Loureiro diz que "não se lembra" de ter assinado os contratos para a compra ruinosa de duas empresas tecnológicas em Porto Rico que o "Expresso" revelou, e que só porque, na altura,
não se lembrava, é que declarou na Comissão de Inquérito ao BPN que nunca tinha ouvido falar do Excellence Assets Fund, parceiro no negócio. Por isso está, obviamente, de "consciência tranquila". Compreendo-o perfeitamente; as pessoas esquecem-se, eu ainda ontem me esqueci de umas luvas (sem ironia) no café.
Diz William James que a memória é uma narrativa com que construímos o passado que, em cada momento, desejamos ou tememos; se alguém é culpado no caso, não é, pois, Dias Loureiro, é William James.
Marc Augé assegura, por seu lado, que uma má memória rejuvenesce, e toda a gente viu o ar fresco e jovial que Dias Loureiro exibia durante a audição parlamentar. Alguns poderão ter pensado que teria feito uma plástica, mas o esquecimento é mais eficaz que o botox para eliminar as rugas, as do rosto como as da consciência. Ora se os filósofos e os antropólogos absolvem Dias Loureiro, quem somos nós para o condenar?

Manuel António Pina, Por Outras Palavras, JN 17/02/2009

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