25 fevereiro 2009

Mundos perfeitos



Quiseram para os filhos tudo o que lhes faltou ou tiveram de menos, e tarde.
Quiseram para eles caminhos de algodão e seda. Quiseram-nos imunes à dor e à contrariedade. Desfizeram-se em ternuras de fim-de-semana, apressadas e distantes, cheias de culpa pela ausência. Chamaram a isso mimos e carinho, pintando os gestos de afecto com as cores de Barbies, Nintendos e Playstations.
No sossego das casas vazias à chegada da escola, os filhos passaram a imitar-lhes os tiques, os gestos e as raivas de quem se vê a crescer sem interlocutor.
Adivinharam os seus desejos enquanto dormiam e, olhando-os amorosamente, fizeram de todos eles seus desejos também. E chamaram a isso o melhor dos bens, a melhor face do amor.
Sem se aperceberem, foram pequenos tiranos o que criaram. Têm-nos agora a exigir o que nunca será possível dar-lhes – um mundo sem lágrimas, sem esforço, sem morte.
Mas nem virtualmente – saberão as crianças isso? – o mundo é perfeito.

2 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

.. e o tirano fez dos olhos do tirano a sua fonte , o seu desejo , tudo estava no roer silencioso dos dias , sem falhas nem contra tempos
Abraço
______________ JRMARTO

clara disse...

Este post está excelente.Parabéns.