Janela, palavra linda
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à toa pintada,
Janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
as minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
clarabóia na minha alma,
olho no meu coração.
Adélia Prado, Poesia Reunida,1991
Adélia Prado, brasileira de 73 anos (n.1935). A sua poesia reflecte uma visão do quotidiano onde o Divino está no mais comum das coisas. Ninguém como ela o consegue.
Voltaremos à sua poesia.
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