03 setembro 2009

Coisas poucas





Quando analiso a conquistada fama

Quando analiso
a conquistada fama dos heróis
e as vitórias dos grandes generais,
não sinto inveja desses generais
nem do presidente na presidência
nem do rico na sua vistosa mansão;
mas quando eu ouço falar
do entendimento fraterno entre dois amantes,
de como tudo se passou com eles,
de como juntos passaram a vida
através do perigo, do ódio, sem mudança
por longo e longo tempo atravessando
a juventude e a meia-idade e a velhice
sem titubeios, de como leais
e afeiçoados se mantiveram
— aí então é que eu me ponho pensativo
e saio de perto à pressa
com a mais amarga inveja.

Walt Whitman, Folhas de Erva (Edição bilingue, 2 vols.), Tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Relógio D'Água, Lisboa, 2002
*
Karunesh - Call of the Tribes
Foto de Lourdes Castro, Sombras

8 comentários:

Teresa Santos disse...

É!
O mundo dos afectos, em qualquer idade, é aquele que, de facto, é relevante. São eles, os afectos, que nos tornam gente de verdade, genuína, autêntica, que dão sentido à vida. Tudo o resto, são ninharias, fogos-fátuos que podem alimentar o ego dos pobres de espírito, mais nada.
Pobres deles...

Abraço.

Anónimo disse...

http://www.beiramar.pt/scid/webscbm/defaultArticleViewOne.asp?articleID=270&categoryID=774

A disse...

Oh, o grande "Captain, My Captain!" Uma ternura estes versos. Adorei recordá-los!
Belíssimo post.

Marta disse...

é por estas e por outras que este é um dos meus melhores vícios :)

delicíoso, C. TÃO, TANTO, TUDO.

beijo

e, se vos apetecer, levantem o selo

porque eu
já me confessei viciada no MARCAS

Anónimo disse...

Adorei a mensagem dos versos... Encanta pela sensibilidade, pela simplicidade e pela estranha forma de nos fazer sentir próximos dos valores essenciais à vida...
CM

Violeta disse...

pois é, coisas poucas essas mas que fazem avida dos simples. Como as adoro.

Ana Paula Sena disse...

Maravilhoso, C.! Um poeta magnífico, que muito admiro. Aqui nos fala do que conta de verdade no nosso íntimo profundo, do que verdadeiramente pode realizar-nos ou inquietar-nos, do que nos interpela de facto. Essa rara capacidade de construir afectos, de dar real substância ao amor...

- Uma poesia que sentimos tão terna quanto nossa.

Deixo um beijinho :)

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Poucas coisas afinal !
Leio e rendo-me !
Abraço
_______ JRMarto