11 fevereiro 2009

O Brincador


Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou professor. Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for. Quero brincar de manhã à noite, seja com o que for. Quando for grande quero ser um brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um médico, um engenheiro ou um professor.Tenho mais em que pensar e muito mais que fazer. Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um imaginador...
A minha mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente crescida,. E depois acrescenta, a suspirar: "é assim a vida". Custa tanto a acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes, mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande, quero ser um brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater à minha porta. Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever "Aqui jaz um brincador. Era um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs para ir brincar com as palavras".

Alvaro Magalhães, O Brincador, Ed. ASA, 2005

Aguarela :Joaquin Sorolla




2 comentários:

Anónimo disse...

Alvaro,não é que tinhas razão?A tua vida é mesmo mesmo assim e os teus livros são páginas e páginas de rebuçados embrulhados em núvens.
Só não sabes que não morres, porque só morre quem nunca foi amado.
Clara

Zé Mário disse...

Quiséramos ser brincadores nestes tempos cinzentos e bassos em que o com que brincar se esconde...