10 fevereiro 2009

Romance do Terceiro Oficial de Finanças



Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!

As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!...
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe os segredos dos grandes silêncios
— os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!...

(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia nomarar-te...)

Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada na vida!...
Da vida é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!
— isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro oficial de finanças da Câmara Municipal

Manuel da Fonseca

1 comentário:

Anónimo disse...

Ser esposa de um oficial de finanças até nem é muito mau, né, nos tempos que correm.
O que é mesmo mau é ser esposa triste, porque a tristeza, enfim é assim amode que...triste.
Mas o pior mesmo é ser esposa, porque se regressa sempre ao lugar donde nunca se partiu.
Clara