31 outubro 2009
Com um nó na garganta
30 outubro 2009
estórias de Portugal
- A Polícia Judiciária desencadeou em 27 de Outubro a operação Face Oculta, em ligação com corrupção, tráfico de influências e branqueamento de capitais. Realizaram buscas a escritórios e instalações de empresas em Aveiro, Ovar, Lisboa, Oeiras, Sines, Santa Maria da Feira, Alcochete, Faro, Ponte de Sôr e Viseu. Manuel Godinho, dono de empresas fornecedoras da REFER e das siderurgias espanholas, foi preso. Os outros doze arguidos continuam em liberdade.
Armando Vara é um deles, foi apanhado em escutas telefónicas com o empresário Manuel Godinho. Na conversa com Godinho – preso ontem pela PJ de Aveiro – Vara pede pelo menos dez mil euros "pelas diligências por si encetadas".
(dos Jornais)
- Entretanto, em comunicado, a Polícia Judiciária (PJ) precisou que a "investigação em curso tem como objecto a actividade de um grupo empresarial, da zona de Aveiro, que, através de um esquema organizado, terá sido beneficiado na adjudicação de concursos e consultas públicas, na área de recolha e gestão de resíduos industriais".
(Público 28/10/2009)
- A 10 de Fevereiro de 2009, Manuel Godinho e o advogado Paulo Penedos (filho de José Penedos, ex- Secretário de Estado e administrador da REN) falam ao telefone. Nessa altura, como consta dos mandados de busca ontem apresentados aos arguidos, Godinho oferece 270 mil euros a Penedos caso consiga 'concretizar a renovação do contrato de gestão global de resíduos'. Há ainda outro telefonema, cinco dias antes, em que Paulo Penedos já pedira 25 mil euros a Godinho.
(Correio da Manhã 29/10/2009)
-Presidente da REN também é arguido
(SOL 30 de Outubro)
-Testemunhos recolhidos pelo Ministério Público no caso dos submarinos indiciam que o ex-ministro da Defesa, Paulo Portas, não terá acautelado devidamente os interesses do Estado na negociação com o consórcio alemão German Submarine Consortium (GSC).
(SOL 30 de Outubro)
Trinta e cinco por cento dos portugueses que vivem numa situação de pobreza tem um emprego, segundo o estudo "Um Olhar Sobre a Pobreza - Vulnerabilidade e Exclusão Social no Portugal Contemporâneo", entregue pelo Presidente do Conselho Económico e Social ao Presidente da República em 2008.
É uma situação única na União Europeia, esta de se trabalhar e viver na miséria e diz bem do presente e futuro deste País. Entretanto os ministros transitam de e para as Empresas Públicas, que hoje se sabe serem o centro nevrálgico da corrupção e não do impulso económico. Este está reservado para a "classe empresarial" desde que haja garantia de baixos salários, subsídios da Europa e favores do Estado.
29 outubro 2009
os medos, a dor e os outros
O que aqui foi resumido em poucas linhas demorou milhares de anos a acontecer.(...)
Eduardo Punset, in Viagem à Felicidade, D. Quixote, 2008
Foto: Gregory Crewdson
26 outubro 2009
A plena liberdade na espontânea ordem das coisas
Trata-se de um objecto de estudo filosófico, matemático e das neurociências, desde finais do século XIX, com um interesse e aprofundamento muito significativos neste milénio.
Sempre se partiu do princípio de que todos os sistemas da natureza (ou de actividade humana) necessitavam de ordem e que essa ordem viria de um comando que lhes era interior. Hoje sabe-se (e investiga-se) que a existência de sincronismo é universal e que, em liberdade plena de organização, há uma evolução natural para uma qualquer forma de organização "espontaneamente ordeira" - algo resultante da acção e movimento dos homens, sem design prévio.
O video que se mostra procura mostrar a existência de autoregulação espontânea em inúmeros acontecimentos do quotidiano no planeta e na vida.
25 outubro 2009
A Ver Navios
24 outubro 2009
Uma nesga de luz
Foto:Paulo
A nave central do Museu de Arte Moderna de S. Francisco (SFMOMA) permite observar um fantástico jogo de luz e sombras aproveitando uma clarabóia cuja configuração, curiosamente, faz lembrar a cobertura da Bibliteca de Alexandria.
É um projecto dos anos 80 do século XX, do aquitecto italiano Mario Botta e é considerada uma das obras "pós modernas" mais marcantes da Costa Oeste dos EUA.
23 outubro 2009
22 outubro 2009
21 outubro 2009
...depois vêm estes com a conversa do costume
O eurodeputado Mário David não gostou do que ouviu, sente-se insultado, e por isso escreveu no blog da Internet, tendo-o repetido depois à TSF, que Saramago devia renunciar à nacionalidade portuguesa. (aqui)
Um dos embustes mais marcantes da nossa democracia é a confusão entre liberdade e cidadania. A ideia de que, uma vez derrubada a ditadura, haveria uma democracia porque se votava e não havia censura, excluiu a noção de cidadania dos valores fundamentais que guiam o comportamento e as escolhas dos homens e mulheres deste país.
Temos, assim, guindados aos mais altos cargos do regime gente com uma absoluta falta de valor. Estão onde estão, representam os seus concidadãos e o país, mesmo em areópagos internacionais, com o nível e a elevação que a sua formação, feita a abrir portas nos corredores dos ministérios, lhes deu.
Depois, olhem, dá nisto.
Gravura: João Abel Manta
20 outubro 2009
A Cegueira de Saramago
As declarações de Saramago,durante a apresentação do seu novo livro "Caim", são inusitadas, violentas, intemporais.
Numa altura em que o Mundo anseia por pontes de diálogo ecuménico, quando se extremam posições acéfalas conducentes à manipulação política de crenças religiosas, quando Obama se compromete na esperança, na paz, eis que Saramago pontapeia o assunto da fé, num radicalismo serôdio e insensato.
Assim, vai contra todos os esforços da diplomacia mundial, opõe-se, na prática, a Mandela, Luther King, Gandhi e tantos outros construtores da convivência dos povos.
É assim o nosso Nobel, mas, quando foi receber o dito prémio, não o vimos radical, ao fazer, de fraque, a vénia reverencial aos monarcas suecos.
18 outubro 2009
Indignação
Vieram-me as lágrimas aos olhos e rapidamente os tapei com a mão como se pudesse esconder as lágrimas ou empurrá-las para dentro com os dedos.
"Podes chorar, Markie. Não é a primeira vez que eu te vejo chorar".
"Eu sei que não. Eu sei que posso. Mas não quero. Só que estou tão feliz..."
"Claro que sim", disse ela em tom tranquilizador.
"Obrigado, mãe. É um grande alívio para mim. Não conseguia imaginá-lo a viver sozinho. Só com o talho e o trabalho e nada à sua espera ao regressar a casa à noite, sozinho aos fins de semana... era inimaginável".
"Era pior do que inimaginável", disse ela, "por isso nem imagines.
"O pulso", disse eu. "Só cortou um pulso".
"Um chega. Só temos dois, e um já é de mais. Markie, eu vou ficar com o teu pai e em troca vou pedir que a largues antes que te enterres nisto até à ponta dos cabelos e não saibas como hás-de sair. Quero fazer um contrato contigo. Tu fazes esse contrato comigo?"
"Sim", respondi eu.
Philip Roth, in Indignação, D. Quixote (2009)
O 27º livro de Roth rompe com as suas recorrentes narrativas sobre o envelhecimento e a decadência. Ambiente de campus universitário do interior rural dos Estados Unidos, no início dos anos 50. O narrador, jovem judeu numa perturbante experiência de conquista da autonomia, da busca de caminhos para idade adulta em luta com a família, a universidade, o ambiente social, as convenções e com ele próprio. Uma estória de aprendizagem, descoberta e desilusão.
Foto: My son John (Filme, 1952)
16 outubro 2009
Uma História Radical
Tinha-lhe dito - não te esqueças, é preciso pactuar com os anjos. Ele sabia-o, melhor do que eu, melhor do que ninguém.
Naquele último domingo de Setembro, o vento estava favorável a Sul, como convém ao desporto do parapente.
Em pouco tempo, Leonardo conseguiu arrastar atrás de si todo aquele enorme pano colorido e, com a ajuda dum motor, levantou voo, passando sorridente sobre a minha cabeça. Depois, ganhou altura por cima das casas, afastando-se para nascente. Deixei de o ver e, como era minha tarefa, comecei a cronometrar o tempo da sua ausência; sete minutos, quarenta e três segundos. Quando voltou a aparecer, deu-se ao prazer de planar ao longo da praia, paralelo à linha do horizonte.
Um homem feito Deus, pensei.
As gaivotas de pedra, espalhadas pela areia, acordaram por um instante da sua melancolia, depois voltaram a apodrecer. Parecia que tinham os corpos envenenados pela corrosibilidade daquele áspero salitre. As pessoas passeavam-se, tristonhas e arrepiadas - haviam sido apanhadas desprevenidas por um súbito Outono. A época balnear tinha chegado ao fim, mas mantinha intacta a mácula de todos os detritos. Até os gestos estavam poluídos. Seria necessário um Inverno rigoroso para que os pensamentos pudessem ficar lúcidos de novo.
Leonardo era um pássaro vermelho e amarelo - tinha o corpo coberto por fios de arame. A partir de certa altura, a orientação começa a ser instintiva. Voava às cegas e, apesar disso, continuava a desenhar um círculo quase perfeito. O que lhe importava era melhorar o seu próprio tempo e eu não me podia esquecer dessa exigência.
As pessoas iam de um lado para o outro, enfastiadas e sem qualquer tipo de entusiasmo. Às vezes apetecia-me gritar - ELE VOA! - , mas há muito que o homem aprendeu a voar e nisso já não existe novidade nenhuma.
Eu nascia ali, a cada instante, e por isso os meus olhos espantavam-se. Mal podia acreditar na mecânica daquele sonho - de concrecto só conhecia a queda dos corpos e a natural superioridade das aves.
Desenhou mais uns círculos e melhorou seis segundos. É tudo uma questão de treino. E de agilidade.
Mas a tarde estava a ficar demasiado cinzenta, havia um nevoeiro que crescia do mar e ameaçava engolir tudo.
Naquelas condições, o melhor seria desistir, mas Leonardo tinha subido às alturas e nem queria ver os sinais dos meus braços.
Era um Deus que se negava a voltar a ser homem. Subir é melhor que descer, nisto faz-se a semelhança entre Deus e o homem.
Leonardo usou e abusou dessa semelhança.
O vento virou a Norte, eu já não via um palmo à minha frente e gritava, mas era demasiado enigmático, o meu grito. Dir-se-ia um sorriso. Um sorriso de quem sabe que nos sonhos não há limites, de quem conhece a sublimação de todos os abismos.
Em menos de cinco minutos, desapareceu a linha do horizonte. Desapareceram as casas, as pessoas, os cães, as trelas, a monotonia, a praia, as gaivotas...
Leonardo!... eu gritava, mas o meu rosto ficou preso dentro de um quadro.
... chacun pour soi...
Um emigrante português morreu, há dois anos, na sua casa, nos arredores de Paris. Mas só na passada segunda-feira, 12 de Outubro, foi encontrado.
Sentado num cadeirão e "literalmente mumificado”. Foi assim que os bombeiros encontraram o homem, de 62 anos, morto desde 2007, num apartamento dos arredores de Paris, para onde emigrara. Apesar do cheiro do corpo em decomposição, ninguém (ali) deu pela sua morte. A identificação do corpo foi possível pelo número de série da prótese auditiva.
José Macedo, parece que tinha 4 irmãos (quatro), 4 filhos (quatro), vários sobrinhos e ex-mulher (com quem continuava legalmente casado). Parece que no frigorífico havia iogurtes de 2007.
Dois anos, mais de setecentos dias. Noite, dia, natais, páscoas e aniversários....
Um vizinho, interrogado por um jornalista, diz que, aos poucos, se foram habituando ao cheiro e, de toute façon, ici, c'est chacun pour soi...
Imagem aqui
15 outubro 2009
Sonhos, matéria obscura
La patria es estar lejos de la patria:
una nostalgia de la infancia en noches
en que te sientes viejo, una nostalgia
que sube a tu garganta como el agrio
sabor del vino en las resacas duras.
La patria es un estado: pero de ánimo.
Un viejo invernadero de pasiones.
La patria es la familia: ese lugar
en el que dan paella los domingos.
Una patria es la lengua en la que sueñas.
Y el patio del colegio donde un día
bajo una lámina de cielo oscuro
decidiste escapar por vez primera.
Mi patria está en el cuerpo de Patricia:
mi himno es su gemido, mi bandera
su desnudez de doce de la noche
a ocho de la mañana. Tras la ducha
mi patria va al trabajo, yo me exilio.
14 outubro 2009
Vertigem
13 outubro 2009
Horror na Dinamarca
Escrevo este texto com a cor do sangue derramado dos golfinhos Calderon.
momentos
Não ouças o rouxinol. Ou a cotovia.
É dentro de ti
que toda a música é ave.
Eugénio de Andrade, in Branco no Branco
Foto: Paulo
12 outubro 2009
11 outubro 2009
10 outubro 2009
Design português no Guggenheim NYC
Agradeço ao Paulo Mendes a partilha desta excelente informação. Com um abraço.
09 outubro 2009
As mãos e os donos delas
Os cirurgiões, enquanto grupo, aderem a um igualitarismo curioso. Acreditam na prática, não no talento.
As pessoas frequentemente presumem que temos de ter grandes mãos para sermos cirurgiões, mas não é verdade. Quando fui entrevistado para entrar em programas de cirurgia ninguém me mandou coser, ou fazer um teste de destreza, ou verificar se as minhas mãos eram firmes. Nem sequer é preciso ter os dez dedos para se ser aceite. (…). Os professores dizem que a cada dois ou três anos vêm uma pessoa verdadeiramente dotada – alguém que atinge capacidades manuais complexas invulgarmente depressa, vê o campo operatório como um conjunto, apercebe-se de problemas antes que eles aconteçam. Mesmo assim, os Cirurgiões Assistentes dizem que o que é mais importante para eles é encontrar pessoas meticulosas, diligentes e suficientemente teimosas para continuarem a praticar uma coisa difícil dia e noite, anos a fio. Como me disse um professor de cirurgia, se tivesse de escolher entre um doutorado que tivesse clonado um gene com muito esforço e um escultor de talento, escolheria o primeiro. (…) A competência, acreditam os cirurgiões, pode ser ensinada, a tenacidade não. É uma estranha abordagem ao recrutamento, mas é sempre assim, até nas categorias profissionais mais altas, mesmo em serviços cirúrgicos excelentes. Pegam em alguns favoritos sem nenhuma experiência cirúrgica, passam anos a formá-los e depois estabelecem a maior parte da sua competência a partir dessas fileiras criadas por si.
E resulta. Actualmente, já existem muitos estudos sobre executantes de elite – violinistas internacionais, grandes mestres do xadrez, patinadores no gelo profissionais, matemáticos e por aí fora – e a maior diferença que os investigadores encontram entre eles e outros executantes de menor qualidade é a quantidade de prática que eles acumularam deliberadamente. Na verdade, o talento mais importante poderá ser o talento para a própria prática. K. Anders Ericsson, um psicólogo cognitivo e perito em desempenho, comenta que a manifestação mais importante do papel dos factores inatos pode ser a motivação que alguém tem para se lançar numa formação contínua. Descobriu, por exemplo, que os executantes de topo gostam tão pouco de praticar como os outros (é por isso que os atletas e os músicos desistem de praticar depois de se reformarem), mas possuem uma força de vontade para continuar a praticar superior à dos outros.
Atul Gawande, in A mão que nos opera, Lua de Papel, 2007
08 outubro 2009
Nobel
A escritora alemã, de origem romena Herta Müller recebeu o prémio Nobel da Literatura 2009.
Herta Müller nasceu em 1953 e, segundo a Academia Sueca tem uma escrita onde se "retrata o universo dos desapossados".
Müller está publicada em Portugal com “O homem é um grande faisão sobre a terra”, editado pela Cotovia, e “A terra das ameixas verdes”, publicado pela Difel.
Nascida na Roménia, aldeia de Nitzkydorf, que hoje já se declarou em festa, estudou alemão e literatura romena na sua terra natal e trabalhou depois como tradutora numa fábrica de Timisoara, antes de ser demitida das suas funções em 1979 por se ter recusado a colaborar com a polícia política de Nicolae Ceaucescu.
Vive na Alemanha desde 1987.
Pessoalmente teria preferido Roth ou Auster, mas isso sou eu que não estou na Academia Sueca. Agora, há que ler e conhecer Herta Müller.
Outra medalha ... (assim, ficamos vaidosos)
Quanto às Perguntas, aqui estão, com as respectivas respostas:
Punha-o no deserto mais próximo e fazia uma nova praia.
Procurava o dono para lho devolver. Deve ser péssimo perder um sonho.
A escolha não é fácil. Acho que começo por rejeitar essa obrigação de escolher. Por que não ir por aqui até um certo momento e depois passar a ir por ali, até acharmos que está na hora de ir por acoli... afinal, não é isto que fazemos sempre na vida?
07 outubro 2009
28, 968192 Km de livros
Uma manhã solarenga de Outono em Nova Iorque convida a andar.
Descendo a Broadway em direcção a Greenwich Village, no cruzamento com a rua 17, desembocamos na Union Square onde, à 2ª, 4ª 6ª e ao sábado, decorre um esplêndido mercado de rua que permite comprar produtos alimentares trazidos do campo e ali vendidos directamente pelos produtores. É também um espaço aproveitado por artistas "alternativos" para exporem e venderem as suas obras.
...
À distância de um olhar, imersa na confusão do trânsito, mas distinta pela cor do toldo , está a Strand Bookstore.
O nome foi-lhe dado a partir da rua que, em Londres, alberga dezenas de livrarias, alfarrabistas e editoras.
A Strand de Nova Iorque foi fundada em 1890 e é a sobrevivente de uma fileira de 48 livrarias que ocupavam todo aquele quarteirão. A publicidade define-a como a loja com 18 milhas (de livros)...
O que se nota é que é um sólido espaço de cultura, ancorado numa experiência recheada de modernidade, onde apetece estar e ficar, misturando-nos com as centenas de visitantes e compradores que deambulam pelos corredores recheados de livros até ao tecto.
A consulta posterior que fizemos ao site da Strand trouxe-nos a informação de que se pode comprar livros pela net , como em qualquer outra livraria actual, mas aqui existe uma outra modalidade (quiçá fruto do seu subtítulo...): pode-se comprar livros "a metro de estante" - meio metro de livros de arte, ou de História ou 1 metro e meio de Culinária, Ficção, Biografias...
No melhor pano cai a nódoa.
05 outubro 2009
The White Ship, de Hector Lemieux
Glória aos grandes hérois da pesca à linha. Em memória desses ilhavenses.
Quando chegava à Terra Nova ou Gronelândia, o navio ancorava e largava os botes. Os pescadores saíam do navio às quatro da manhã e só regressavam à mesma hora do dia seguinte, com ou sem peixe e uma mínima refeição: chá num termo, pão e peixe frito. No navio, o bacalhau era preparado até às duas ou três da manhã. Às cinco ou seis horas retomava-se a mesma faina. Isto, dias e dias a fio, rodeados apenas de mar e céu.
Teresa Reis, "A pesca do bacalhau"
A pesca do bacalhau realizada pelos pescadores portugueses na Terra Nova e Gronelândia, encontra-se intimamente associada à saga das navegações e descobertas, datando do séc. XIV. Há registo da partida, da ilha do Faial, de Diogo, de Teive em 1452. A partir da viagem dos Corte-Real, em meados do século XVI, foi elaborado o Planisfério de Cantino, onde se divulgava um primeiro mapa menos fantasioso dessas regiões (Terra Nova e Labrador) e com o qual a navegação se tornou mais segura e maior a presença portuguesa na pesca do bacalhau.
Em 1504 havia na Terra Nova colónias de pescadores de Aveiro e de Viana do Minho. Em 1506 um dos principais portos bacalhoeiros era Aveiro. Entre 1520 e 1525 existiu, na Terra Nova, uma colónia de pescadores de Viana do Minho que se dedicava à pesca sedentária - pescavam e secavam o peixe ali mesmo. A permanência ia de Abril a Setembro.
No reinado de D. Manuel I (1465-1521) Aveiro foi o porto que mais navios enviou para a Terra Nova (cerca de 60 naus) e em 1550 saíram cerca de 150 naus. O período de dominação dos Filipes (1580-1640) levou quase à extinção da pesca do bacalhau (em 1624 não havia qualquer barco nos portos de Aveiro). A recuperação da Pesca do Bacalhau só se faz no séc. XIX. Até lá, 90% do consumo interno do bacalhau é importado. Em 1830 foram criados incentivos à pesca com a extinção do pagamento dos dízimos e com a construção de 19 barcos.
Sem alterações notórias, através dos séculos, a tripulação dos Bacalhoeiros era composta por:
· Capitão
· Piloto
· Marinheiros (pescadores)
· Cozinheiro
· 1 ou 2 moços (mais recentemente passaram a ser 6, 8 ou 10) conforme a capacidade do navio.
Entre os marinheiros - pescadores, a divisão era:
Escalador
Salgador
Simples pescador
"Os verdes" (os que se iniciavam na faina)
Havia tripulantes com funções específicas: troteiro, cabeças, porão, garfo, celhas, etc. E muitos estão enterrados num cemitério em St. John's, do qual ninguém fala, e que nem sequer atrai visitantes.
As iscas usadas eram amêijoas, lulas.... Só na década de 20, apareceu a assistência aos barcos feita por 2 barcos a vapor - Carvalho Araújo, em 1923, e Gil Eanes, em 1927.
O atraso português no processo de industrialização determinou que esta pesca se prolongasse pelo século XX (até 25 de Abril de 1974) com base numa tecnologia ultrapassada: pesca à linha de mão, munida dum único anzol, a bordo dos dóris, pequenas embarcações individuais de fundo chato e tabuado rincado, com um comprimento de 4 a 5 metros e 80 a 100 Kg de peso, apoiando-se nos tradicionais veleiros de madeira. Tratava-se, contudo, de uma técnica de pesca bastante menos agressiva dos recursos dos que as redes de emalhar ou de arrasto.
Em 1934 foi feita a organização corporativa da Indústria Bacalhoeira. Planeou-se uma grande reorganização da Pesca do Bacalhau, através de:
Empréstimos do Estado a armadores portugueses
Criação da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau e da Cooperativa dos Armadores de Navios de Pesca do Bacalhau entre outras.
Renovação da frota
Desenvolvimento da Pesca do Arrasto
Mas em Portugal continuou-se a insistir na pesca à linha. Os últimos grandes veleiros foram construídos em 1937: Argus, Santa Maria Manuela e Creoula, mas poucos anos se mantiveram nesta faina. A última viagem dum lugre - o Gazela Primeiro - ocorreu em 1969. As capturas tinham começado a diminuir e em 1974 a situação estava num caos. Era difícil recrutar pescadores, que preferiam emigrar, o que lhes proporcionava menos sofrimento e melhor perspectiva de vida. O total de barcos era então de 55, sendo 5 de pesca à linha, 13 com redes de malha e 37 de arrasto.
Créditos: texto parcialmente adaptado de História da Pesca do Bacalhau
Foto de Henri Lumieux
Quem tiver curiosidade, pode seguir os links que salpicam o texto.
04 outubro 2009
Richard Avedon no SFMOMA
O trabalho de Avedon é quase exclusivamente constituído por retratos que transmitem de forma acentuada o seu olhar pessoal.
Avedon dizia que, como fotógrafo, não era um observador, mas um criador e isso é patente na sua obra. Sobre fundos quase sempre brancos ou cinzentos,sem qualquer fundo natural, as pessoas são fotografadas em planos grandes ou médios, num intencional contraste entre a simplicidade do fundo com a complexidade do "objecto".
03 outubro 2009
Uma casa com histórias e mulheres dentro
Em entrevista a Melanie Roberts, por altura de uma exposição colectiva que reuniu oito pintoras inglesas em torno do tema "From the Interior. Female Perspectives on Figuration", disse a artista:
02 outubro 2009
Resistir ou não resistir... às tentações
Casa dos Livros
*
Localizada numa esquina da Broadway com a Columbus Avenue, depois de se passar por imensos cafés italianos com esplanadas cheias de gente, na zona de North Beach, em S. Francisco fica a City Lights Bookstore. São 3 pisos cheios de livros, cultura e afectividade.
Por entre estantes e mesas cheias de livros há cadeiras confortáveis - na cave há mesmo 2 ou 3 bancos de jardim - e, nas paredes, cartazes convidam Have a seat and read a book. Do piso térreo chega-se por uma escada a uma sala ampla no 1º piso, com uma secretária junto a uma janela por onde entra luz a jorros. Na secretária um dístico: Poetry Room.
A City Lights Bookstore foi fundada pelo poeta Lawrence Ferlinghetti em 1953.
É considerada uma das poucas editoras independentes dos Estados Unidos, mas o seu maior mérito foi ter sido o local de convívio da que ficou conhecida por geração Beat.
Jack Kerouac, amigo de Ferlinghetti publicou nela a sua obra On The Road e todos os autores ligados àquele movimento tiveram aqui acolhimento.
Ao lado da livraria, atravessando uma rua estreita, fica o café Vesúvio, espaço único de convívio e tertúlia, com paredes forradas de fotografias, pinturas e textos poéticos. A rua (que separa / liga) chama-se Jack Kerouac.
* Bob Dylan (frequentador da City Lights) Blowin' In the Wind
01 outubro 2009
Postais de Viagem
* Scott McKenzie, If You Go to S. Francisco (1967)