20 outubro 2009

A Cegueira de Saramago


As declarações de Saramago,durante a apresentação do seu novo livro "Caim", são inusitadas, violentas, intemporais.

Numa altura em que o Mundo anseia por pontes de diálogo ecuménico, quando se extremam posições acéfalas conducentes à manipulação política de crenças religiosas, quando Obama se compromete na esperança, na paz, eis que Saramago pontapeia o assunto da fé, num radicalismo serôdio e insensato.

Assim, vai contra todos os esforços da diplomacia mundial, opõe-se, na prática, a Mandela, Luther King, Gandhi e tantos outros construtores da convivência dos povos.

É assim o nosso Nobel, mas, quando foi receber o dito prémio, não o vimos radical, ao fazer, de fraque, a vénia reverencial aos monarcas suecos.

9 comentários:

A disse...

Nem calcula o bem que me fez ler este seu post.
Eu até sou agnóstica mas a ligeireza com que Saramago reduziu a um objecto complexidades ancestrais, enraizadas em milhões de pessoas, ao longo dos tempos, não faz sentido, sobretudo vinda de alguém do campo das letras.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Sim Paulo, essa é uma prespectiva , mas Saramago não está cego , fez muito bem em ter dito o que disse num país que não está habituado a pensar e a questionar as insttuições e os poderes públicos . Além disso , há muitas ideias recebidas que armadilham o pensamento quando se fala de Saramago, È importante que se saiba que neste episódio do fratricídio, está apenas uma ponta do véu da grande desumanidade que está escrita no Livro e que atravessa os tempos . Ao longo dos séculos as religiões monoteistas não criaram universais de interdição suficientemente importantes que permitissem encontrar nelas referências humanas que não redundassem nos fundamentalismos, que também assistem aos católicos . Quanto às ofensas à fé naõ te preocupes , elas têm sido inabaláveis.
Abraço amigo
______ JRMARTO

Paulo disse...

ZÉ Marto, o post é da Clara e ela, seguramente, terá algo a dizer aos comentários aqui feitos. Eu farei o meu próprio comentário tão breve quanto possível. Abraço..

Ana Paula Sena disse...

Também gostei de ler, sobretudo porque discordo do radicalismo de Saramago patente nas suas afirmações mais recentes.
No entanto, considero que tem direito a fazer tais afirmações, num contexto de liberdade de expressão como é e deve ser o nosso.
O mais positivo é que ao fazer tais afirmações, nos pode incitar à reflexão.

De facto, faz lembrar um pouco uma declaração de guerra. E isso não posso aceitar como sensato.
(Ando eu a fazer ver aos meus alunos que também se luta com a paz...!).

Muito obrigada, Clara.

Bruce disse...

A bíblia é susceptível das mais variadas interpretações, nós vemos nela o que quisermos tal como conseguimos desvendar praticamente todos os grandes eventos da história mundial nas profecias de Nostradamus, bastando para isso vergar as palavras à nossa vontade.

Neste caso a bíblia assemelha-se e muito.

Se o Saramago considera o Livro um manual de maus costumes é porque quis ver nele esses mesmos devaneios (assumindo claro que tudo não se trata de um simples e puro golpe de marketing).

Quanto às demais declarações: podiam ser perfeitamente confundidas com as de um fundamentalista ateu, que nada ficar a dever em ignorância ao fundamentalista religioso, ou qualquer outro tipo de pessoa que se considere ela própria um dogma.

Concluindo não dou demasiada importância às suas palavras; elas sempre foram relativamente contraditórias e, se por um lado, a sua escrita me merece alguma atenção, já a sua pessoa atrever-me-ia a dizer que vai estando cada vez mais transparente.

Paulo disse...

Não senti nas posições (sensatas) que têm surgido contestando as opiniões de Saramago que alguém tenha contestado o seu direito a dá-las.
Nem acho que haja nisso referência à sua obra escrita, designadamente o último livro que, presumo, pouca gente já leu. Essa será outra discussão. O que se tem discutido são as suas opiniões sobre a Bíblia.
Para mim, que nunca a li, mas que conheci ao longo da vida gente "boa" e gente muito "má" que me disse falar em seu nome, a questão sugere-me as seguintes observações: Saramago não é uma voz qualquer, portanto a sabedoria e a sensatez da maturidade deveria estar presente no seu discurso e não está. Atacar o Livro como ele o faz, coloca-o numa posição de radicalismo tão frágil como a daqueles que, fazendo uma leitura literal e descontextualizada,o tornaram, de facto, num manual de maus costumes. Porque todo o texto é datado e fazer de qualquer livro um "escrito na pedra" definitivo, final e dogmático é um prícipio que dá no que deu, a quem o defende cegamente e a quem o contesta com um idêntico olhar.

Paulo disse...

(A Clara está sem ligação à net. Estará aqui logo que possa):):)

Marta disse...

Clara,
terminei ontem, já noite alta, CAIM :)
Não gostei. Este livro, na minha opinião, tem parágrafos que nem sequer me soam a SARAMAGO.
E, devo dizer, sou sua leitora.
Não me refiro às suas declarações, nem tão pouco às posições que defende. Nada disso. Saramago, como todos nós é livre de dizer o que pensa.
Partilho da sua opinião no que de "excessivo" e "amargo" há no seu discurso.
Não é o que diz, é a forma como o diz.
............................
Este ano gostei muito mais de ler o Prémio Saramago! "As 3 Vidas" de João Tordo.

beijinhos,
a correr :)

clara disse...

Pois é, uma leitura um pouco imediatista do Antigo Testamento, livro de que ninguém gosta, nem mesmo o Papa, digo eu.
O livro "Caim" não tem nada a ver com as declarações do seu autor, essas sim controversas. Estou a lê-lo com todo o gosto e darei aqui testemunho quando terminar.
Saramago gosta de polemizar, faz-nos pensar, isso é bom.
Um grande autor, uma obra imponente.
Não partilho da sua visão do mundo,contudo, acho-a destrutiva das nossas esperanças. Nem Pandora foi tão longe.
Um abraço.Em breve darei notícias dessa estimulante leitura.