23 julho 2009

Barroco Tropical,de José Eduardo Agualusa


Este livro, o último de José Eduardo Agualusa, "Barroco Tropical", conta-nos não uma história, mas muitas, e, à sombra de Jorge Luís Borges, vão-nos aparecendo todas as personagens fantásticas, quase irreais, que povoam uma Luanda meia enlouquecida, do pós-guerra, da pós-independência, do pós-tudo.
..."O centro de saúde mental Tata Ambroise recebe apoio governamental, de instituições privadas e de familiares dos acorrentados. O governo entrega a Tata Ambroise não apenas os doentes mentais sem eira nem beira que vagueiam pela cidade e arredores, mas também um ou outro dissidente mais contestatário. O facto de alguém denunciar , com excessiva veemência, as políticas governamentais, ou a inexistência de políticas governamentais e de uma "verdadeira democracia", seja lá o que isso for, já indicia, na opinião dos nossos dirigentes, certa instabilidade mental."
Agualusa, usando a ficção, denuncia, com coragem, a corrupção, a violência, a injustiça.
No entanto, o seu livro, talvez o melhor, leva-nos numa viagem sentida a uma Luanda colorida, onde tudo pode acontecer, onde os melhores e os piores, os traficantes de armas, os estropiados, os terroristas, curandeiros, catorzinhas,pintores, cantoras e, até, um anjo negro se cruzam, num relato sentido, divertido, poético.
"...Lua é o diminutivo carinhoso, com que nós, os luandenses, nos referimos à nossa cidade. Acho um termo muito acertado. Luanda partilha com a Lua a mesma árida e agreste desolação, a mesma poeira sufocante. Todavia, como a lua, vista de noite, e de longe, parece bela.  Iluminada, seduz. Além disso, a sua luz tem o estranho poder de transformar homens simples em lobos ferozes".

1 comentário:

Marta disse...

Estou a ler Clara, estou a ler :)