27 março 2009

Mário Sacramento

7/7/20 - 27/3/69
Mário Sacramento faleceu há 40 anos. Foi, desde a juventude, um combatente pelas causas mais nobres que o Homem pode ter.
A justa homenagem a Mário Sacramento, quiçá a que tarda, é o seu reconhecimento como pensador e militante antiprovinciano. Foi este, seguramente, o combate essencial de toda a sua vida.
Ancorado num antidogmatismo e numa disponibilidade total à aprendizagem, elegeu os jovens como seus interlocutores (" a adolescência, a juventude, são isso mesmo: o refazer intuitivo da experiência milenar do homem"), arrostou com incompreeensões e dificuldades, muitas vezes vindas de onde menos esperaria, mas permaneceu sempre livre.
Foi um paciente artesão da prática de abertura ao outro, da análise científica da realidade e da vida, da tolerância e do respeito, num tempo e num meio em que todas as regras eram contrárias a tal atitude.
Há quem insista em dar-lhe uma dimensão paroquial e restrita - nada mais injusto. Ainda em vida, contestou sempre com veemência os que lhe "insinuavam" a limitação que era viver no microcosmo aveirense.
O que o tempo se encarregará de mostrar é que Mário Sacramento fez da vida uma recusa constante desse estatuto, preferindo sempre ser visto como um cidadão do mundo, inquieto, irreverente e livre.

4 comentários:

clara disse...

Um grande abraço. Uma excelente síntese dessa luta que foi a sua.
A obra literária, que é urgente reeditar, está aí para sublinhar o que disseste.
O resto é paróquia, é o imediatismo que não fica .
Alguém se lembra dos políticos daqui a cinquenta anos? Só de dois ou três, dos maiores, inscritos indelevelmente na História.
Beijinho.

Anónimo disse...

40 ANOS DEPOIS DA SUA MORTE,VERIFICAMOS QUE É NECESSÁRIO CUMPRIR A SUA AMEAÇA;
"VOLTAR CÁ OUTRA VEZ"!

BEIJOS DO JOSÉ VASCO

Anónimo disse...

Também não quero deixar passar este aniversário. O "Dr. Mário" era o médico de família que me vinha examinar quando eu tinha um problema qualquer. Acho mesmo que foi o médico que me seguiu com regularidade desde o nascimento. Sabia, como é óbvio, que era um grande amigo do meu pai. Só mais tarde, dei valor ao seu trabalho intelectual e político, sobretudo à obra que, com abertura invulgar, trata do diálogo com os católicos. É bom lembrar que, no Portugal de então, isso era escasso, embora na Europa fizesse parte do debate político-cultural e político-filosófico. Só por isto Mário Sacramento foi, na verdade, um grande anti-provinciano num país pequenino e mesquinho. Paradoxalmente, ou talvez não, a sua tentativa de diálogo, séria e aberta, cobra uma estranha actualidade. É que será bom lembrar que o diálogo entre pessoas diversas, mas de boa vontade, voltadas para valores básicos da humanidade, como o são os direitos humanos, é mais urgente que nunca frente à cultura política dominante, sobretudo na sua deriva totalitária nascida do paradigma de racionalidade prevalecente: sistémico, tecnoeconómico, neoliberal, simplista e reificado.
Silvério da Rocha Cunha

Paulo disse...

Silvério, dizia, sobre o diálogo e o debate de ideias, M. Sacramento: "...aceitei dialogar, nestes últimos tempos, com os católicos. Se tivesse nascido um país protestante ou árabe ou budista, tê-lo-ia feito com esses." e mais adiante: "... não busco uma claque no mau sentido desportivo, regionalista ou político, mas um auditório de cidadãos responsáveis que dêem razão (crítica e esclarecida) a quem a tiver - seja eu ou outro. Diálogo é desprendimento de vaidades e sectarismos, e, sobretudo consciência clara de que o mundo somos nós -todos nós."
Se preciso fosse, este conjunto de ideias defendidas num tempo de completa ausência de liberdade, são a evidência cristalina de que a conquista das liberdades formais não tem significado na total ausência de um espírito de cidadania.
Acho que Mário Sacramento concordaria, com o que V. disse e com o que eu digo.
Cumprimentos.