07 março 2009

Remakes

As recentes cartas de demissão de dois destacados dirigentes cubanos, Carlos L. Dávila e Felipe Pérez Roque , após críticas públicas de Fidel, são, numa leitura objectiva, uma reedição de outras cartas de abjuração, cujo significado foi há muito condenado pela História. Pelo significado e interesse político, ético e social destes comportamentos, aqui se assinala e recorda.
No final da II Guerra Mundial, Arthur Koestler publicou em França um romance (O Zero e o Infinito) que se torna um sucesso imediato e que tem um impacto tremendo na sociedade francesa e europeia. A obra teve como inspiração os Julgamentos de Moscovo que, nos anos 30, tinham "julgado" e condenado inúmeros homens íntegros em processos forjados.
No livro, narra-se a história de um velho e honesto revolucionário, preso e forçado a confessar uma culpa que nunca teve, mas que aceita fazê-lo como uma última tarefa para o seu Partido...
Atente-se ao diálogo final, antes da confissão, entre Rubachov e o seu verdugo Gletkin, que, aliás, fora seu discípulo.

"- a sua facção, cidadão Rubachov, foi vencida e destruída. Queria provocar uma cisão no Partido, sabendo embora, que uma cisão no Partido significaria a guerra civil...... a imperiosa necessidade de união dentro do Partido. Deve estar como fundido num molde - cheio de disciplina cega e confiança absoluta. Você e os seus amigos, cidadão Rubachov, abriram uma brecha no Partido. Se o seu arrependimento é real, tem de nos ajudar a colmatar a brecha. Já lhe disse, é o último serviço que o Partido lhe pede.
Camarada Rubachov, espero que tenha compreendido a tarefa que o Partido lhe confia.
Era a primeira vez que Gletkin chamava a Rubachov "camarada". Rubachov ergueu rapidamente a cabeça......o queixo tremia-lhe ligeiramente enquanto punha a luneta de mola.
- Compreendo
- Estava errado e terá de pagar camarada Rubachov. O Partido só lhe promete uma coisa: depois da vitória, um dia, quando isso já não for prejudicial, o material dos arquivos secretos será publicado. Então o mundo saberá o que estava por trás deste espectáculo de "robertos" que temos de fazer, de acordo com os manuais da história..."

Arthur Koestler, O Zero e o Infinito, Europa América 1973

... e já o soubemos. Afinal, não foi preciso esperar pela vitória (que não veio...) e, talvez por isso mesmo, conhecemos como o fizeram. Os porquês, continuaremos a descobri-los.

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