Há que discutir, ensinar, reprovar, condenar por todos os meios este nojo. Sem contemplações, sem desculpas nem justificações ou encolher de ombros. Trata-se de uma questão civilizacional que respeita a todos.
30 novembro 2009
Maria Manuela Rama Costa
Há que discutir, ensinar, reprovar, condenar por todos os meios este nojo. Sem contemplações, sem desculpas nem justificações ou encolher de ombros. Trata-se de uma questão civilizacional que respeita a todos.
Vozes da minha memória
28 novembro 2009
"infância é um antigamente que sempre volta"*
- Podemos ficar já aqui, não? - ela.
- Não, aqui não podemos, tia... Vamos lá mais para o pé da rotunda.
- Mas não podemos ficar aqui, nesta praia tão "verzul"? - ela sorriu para mim.
- Não, tia, aqui não se pode. Esta tão praia verzul é dos soviéticos.
- Dos soviéticos?! Esta praia é dos angolanos!
- Sim, não foi isso que eu quis dizer...É que só os soviéticos é que podem tomar banho nessa praia. Vês aqueles militares ali nas pontas?
- Vejo sim...
- Eles estão a guardar a praia enquanto outros soviéticos estão lá a tomar banho. Não vale a pena ir lá que eles são muito maldispostos.
- Mas porquê que essa praia é dos soviéticos?- agora sim, ela estava mesmo espantada.
- Não sei, não sei mesmo. Se calhar nós também devíamos ter uma praia só de angolanos lá na União Soviética...
Ondjaki, Bom dia Camaradas, Ed.Caminho, 2001
27 novembro 2009
花样年华 (ou a inspiradora realidade)
Conclusions: Sexless is prevalent among certain subgroups of urban Chinese couples in Hong Kong and the large discrepancy in sexless between married men and women in each age strata suggests a high prevalence of extramarital relationships. Contrary to commonly held beliefs, there was a stronger association between sexlessness and poorer phycological symptoms among females than males. Sexless marriages are an underppreciated phenomenon among urban Chinese individuals.
Sexlessness among married Chinese adults in Hong Kong: Prevalence and assotiated factors. J. of Sex Med 2009;6:2997-3007
26 novembro 2009
25 novembro 2009
e é assim que nos sentimos de alma lavada
Reconciliados com a vida.
24 novembro 2009
"It's a hard life"
Freddie Mercury (5/09/46 – 24/11/91)
Podemos não gostar dos efeitos de alguns clips, mas acho, sinceramente, que o poder interpretativo e a excentricidade, aliados ao dinamismo e carisma da sua estrela maior, fazem dos Queen um marco incontornável da história do rock.
A banda já vendeu mais de 300 milhões de cópias no mundo inteiro e é liderada actualmente por Brian May (guitarrista) e Roger Taylor (baterista). Precursora do rock tal como hoje o conhecemos, Queen foi uma das mais populares bandas britânicas dos anos 70 e 80, com concertos e videoclips magnificamente produzidos. Embora nunca tendo sido levada a sério pelos críticos da sua época, que consideravam a sua música “comercial” (a crítica de hoje considera os Queen como uma das melhores bandas de rock de todos os tempos), a banda tornou-se uma das mais famosas entre o público, justamente graças à conjugação única das complexas e elaboradas apresentações ao vivo e do potencial vocálico de Freddie Mercury.
O vídeo que seleccionei traz-nos nas palavras, a ideia de que, também em matéria de amor, é sempre mais fácil desistir.
It's a hard life
To be true lovers together
To love and live forever in each others hearts
It's a long hard fight
To learn to care for each other
To trust in one another right from the start
When you're in love
Este post é dedicado a um jovem fã incondicional dos Queen que, de vez em quando, se passeia cá por casa (e a cantar "Mama, carry on, carry on").
22 novembro 2009
Estação De Santa Apolónia
Já foi assim: Reparem na estrutura de ferro, tão expressiva.
21 novembro 2009
O corpo como objecto de design
O tema tem ali algumas intervenções muito interessantes, como a de Leonel Moura: Criatividade Artificial; Miguel Chevalier: Flores Fractais ou Philip Ross: Plantas Cibernéticas, todas em torno da utilização dos avanços tecnológicos na criação artística.
Outras obras são, no mínimo, inquietantes, como a de Sterlac, defensor da ideia de que o corpo já não é só um espaço de expressão de ideias ou intervenção social, mas passou a ser também uma estrutura modificável ("the body not an object of desire but an object of designing"). É dentro deste conceito que surge a sua última obra, ainda inacabada, de criação duma terceira orelha no antebraço esquerdo. Quando terminada, esta orelha terá um equipamento que, por bluetooth, coloca na internet todos os sons por ela "ouvidos".
All together now, "to make it better"
Após o sucesso dos primeiros flashmobs , a T-Mobile, sob o mote Life’s for Sharing, convocou centenas de pessoas para comparecem, no dia 30 de Abril de 2009, na Trafalgar Square, em Londres. À hora marcada, 13.500 pessoas estavam lá, receberam os microfones e cantaram o melhor que puderam o tema (já tão esgotado) Hey Jude, dos Beatles.
A faixa parece que ganha, então, uma nova vida e o resultado é emocionante.
Mais uma aposta na ideia de que a propaganda do século XXI não é tanto sobre produtos e serviços, mas sobre pessoas.
Desejo a todos um excelente fim de semana.
20 novembro 2009
O Meu País
O que fizeram ao meu país?
19 novembro 2009
reflexão em torno de pandemias e outras exaltações
Neste início do século, sobretudo nas sociedades ocidentais, a doença e a morte são acontecimentos estranhos, misteriosas e, em larga medida e qualquer circunstância, inaceitáveis. Abrimos uma excepção para as doenças terminais em que aceitamos, às vezes exigimos, a morte como forma de alívio ao sofrimento (sobretudo o nosso).
Construiu-se um conjunto de expectativas em torno da saúde e do corpo que se tornaram dominantes na sociedade: esperamos sentir-nos bem, sem incapacidades, dores ou desconforto até muito tarde. Sempre, se possível.
É intolerável a morte de uma criança e espera-se que todas tenham uma infância sem doenças, que as mulheres tenham filhos sem complicações e que qualquer intervenção cirúrgica seja sempre bem sucedida.
O facto de, quase sempre, estas expectativas se concretizarem faz com que a "verdade" de reforce.
A saúde, o bem estar e a ausência de sofrimento tornaram-se uma forma de religião em que o falhanço e o inexplicável não é aceite, justamente porque a Medicina se tornou uma crença.
E não é.
18 novembro 2009
Duas extraordinárias mulheres, um momento único.
Alison Balsom (1978), trompetista, Sarah Connolly (1963), mezzo-soprano, George Gershwin (1898 – 1937), a Orquestra Sinfónica da BBC, os Concertos Promenade e a prova (se preciso fosse) de que só existem dois tipos de música, a boa e a má.
Apreciem, ou, como diriam no Royal Albert Hall, enjoy!!.
O Violoncelo De Sarajevo
Autor:Steven Galloway
16 novembro 2009
muito louco de ser feliz
Os arquivos do programa Radiola, da TV Cultura são importantes registos da história do Brasil e da sua música.
O YouTube tem os mais importantes: Elis Regina, Chico Buarque, Caetano, Luis Gonzaga e tantos outros.
Este que aqui fica é, na minha opinião, um dos mais significativos. Pela beleza da filmagem e pelas palavras, ditas e cantadas, deste homem extraordinário.
15 novembro 2009
"...mas se a gente quiser, sei que vai dar pra mudar o final"
14 novembro 2009
Pedro Alvim (As Cheias em Novembro de 1967)
Um bombeiro, uma pilha nas mãos, tentava auxiliar a minha leitura, uma leitura triste, sincopada, hesitante de quando em quando. Eu sabia que tinha os mortos todos atrás de mim, indiferentes, quietos, não se importando absolutamente nada que lhes trocasse os nomes. Mas eu não queria cometer o mínimo erro, o mais pequeno deslize.
“Se tu és João” – dizia para mim – “és João. E se o teu nome é Mário, o teu nome será Mário. E caso te chames Rosa, não te chamarei Lucília.”
E teimava, teimava em ser exacto, pedia, pedia ao bombeiro que mantivesse o foco da pilha sobre o papel em que tinha escrito os nomes dos mortos. E carregava nas moedas de cinco tostões, mantinha a ligação telefónica, identificava-os um a um.
O tempo passava, o tempo passava sem luz eléctrica, e eu estava sempre ali ao telefone, e os familiares dos mortos iam entrando, (que longa bicha!), identificavam os mortos, os nomes dos mortos eram-me dados, e eu dava os nomes dos mortos ao jornal.Ouvia o choro dos vivos, ouvia o silêncio dos cadáveres, ouvia a noite lá fora – Depressa! Depressa! – diziam-me do jornal – Depressa que é para a terceira edição!
Iam-me faltando as moedas de cinco tostões, sentia-me aflito, pedia que me trocassem moedas de cinco, dez escudos.E os nomes dos mortos continuavam na minha boca, lidos um a um, o mais exactamente possível.
Como um preito de homenagem.
Como um choro.
Chegavam aos meus ouvidos pormenores da tragédia, da chuva, da lama.Eu carregava nas moedas de cinco tostões, afligia-me com o seu desaparecimento contínuo e, automatizado já, ia lendo os nomes dos mortos à luz da pilha.
Escuridão total.
– Acabou-se a carga! – disse o bombeiro.
O suor tomou-me o corpo todo – e os meus dedos amarfanhavam o papel com os nomes dos mortos ainda não transmitidos.
E agora? E agora? Agora que a pilha tinha dado de si – que fazer?
– Acendam fósforos! – gritei – Estes fósforos!
E assim foi: à chama tremida do enxofre, dos fósforos, acesos um a um, fui lendo o nome dos mortos que restavam, que estavam ainda no papel, sem o mais pequeno deslize.
“Se tu és João” – dizia para mim – “és João. E se o teu nome é Mário, o teu nome será Mário. E caso te chames Rosa, não te chamarei Lucília“.
Quando, finalmente, abandonei o telefone, ganhei a rua, respirei a noite, apeteceu-me loucamente um cigarro, um cigarro que me turvasse, um cigarro para esquecer aquilo tudo.Meti, os pulmões ansiosos, um cigarro na boca – mas não pude, não pude fumar, não pude acender o cigarro: os mortos tinham queimado todos os meus fósforos.
PEDRO ALVIM
Foto:Aqui
Os livros são objectos transcendentes
(...)
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
(...)
Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas .
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um
(...)
Vale a pena ler aqui uma concisa mas enriquecedora abordagem ao álbum "Livro", de 1998.
13 novembro 2009
entre dois sorrisos, uma declaração de amor
...Um labirinto de corredores e estantes repletas de livros subia da base até à cúspide, desenhando uma colmeia tecida de túneis, escadarias, plataformas e pontes que deixavam adivinhar uma gigantesca biblioteca de geometria impossível. Olhei para o meu pai, boquiaberto. Ele sorriu, piscando-me o olho.
- Bem-vindo ao Cemitério dos Livros Esquecidos, Daniel.
Salpicando os corredores e plataformas da biblioteca, perfilavam-se uma dúzia de figuras. Algumas delas voltaram-se para cumprimentar de longe, e reconheci os rostos de diversos colegas de meu pai do grémio de alfarrabistas. Aos meus olhos de dez ano, aqueles indivíduos afiguravam-se uma confraria secreta de alquimistas a conspirar nas costas do mundo. O meu pai ajoelhou-se ao pé de mim e, sustendo-me o olhar, falou-me com aquela voz leve das promessas e das confidências.
- Este lugar é um mistério, Daniel, um santuário. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte.(...) Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, os que conhecemos este lugar, os guardiães, asseguramo-nos de que chegue aqui.(...) Na loja nós compramo-los e vendemo-los, mas na realidade os livros não têm dono. Cada livro que aqui vês foi o melhor amigo de alguém. Agora só nos têm a nós, Daniel. Achas que vais poder guardar este segredo?
O meu olhar perdeu-se na imensidade daquele lugar, na sua luz encantada. Fiz um sinal de assentimento e o meu pai sorriu.
Carlos Ruiz Zafón, A Sombra do Vento, Dom Quixote, 2008
Foto: Trinity College Old Library, Dublin
A Sombra do Vento é um livro maravilhoso. Uma fantástica narrativa sobre livros, o encanto mágico que têm e nos trazem. No excerto, destaco a maravilha que é ser-se levado a amar os livros desde que se começa a olhar o mundo e os homens.
Julgamento de Zé do Telhado
11 novembro 2009
Os loucos...e os outros
Arno Gruen, in A Loucura da Normalidade, Assírio & Alvim, 1995
"Morrem cedo os que os deuses amam"
Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças — Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.
A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.
Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
— constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.
E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
— são da máxima importância as Velhas Concepções
pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.
Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida. Mais
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como frágil véu que nos separa vedados e proibidos.
António Maria Lisboa
* Philip Glass - Mad Rush
Imagem: quadro do surrealista H. Risques Pereira
10 novembro 2009
Rosas de Portugal
D. Isabel, a mulher de D. Dinis, ocupava todo o tempo que tinha a fazer bem a quantos a rodeavam, visitando e tratando doentes e distribuindo esmolas pelos pobres.
Conta a lenda que o rei, que tinha muito mau génio apesar de ser também bondoso, se irritou por ver a rainha sempre misturada com mendigos, e proibiu-a de dar mais esmolas.
Certo dia, viu-a sair do palácio às escondidas, foi atrás dela e perguntou-lhe o que levava escondido por baixo do manto. Era pão para distribuir pelos pobres. Mas ela, aflita por ter desobedecido ao rei, disse:
- São rosas, Senhor!
- Rosas? Rosas em Janeiro? - duvidou ele - Deixai-me ver!
De olhos baixos, a rainha Santa Isabel abriu o regaço e o pão tinha-se transformado em rosas, tão lindas como jamais se viu.
09 novembro 2009
tudo isto ruiu com o Muro
No mês anterior fora construído o Muro de Berlim (...) Ainda mais recentemente, o parlamento alemão oriental aprovara uma lei que criava o serviço militar obrigatório, integrado no Exército Nacional Popular. Mas ninguém podia ter previsto as repercussões que se seguiram a este pequeno acto de rebeldia.
Rainer, de dezassete anos, foi acusado de traição e condenado a cinco anos de prisão. Outro "cabecilha" também foi preso e condenado. Outros foram expulsos da escola e deste modo impedidos de fazer o exame final, um requisito para entrar na universidade. Alguns professores foram despedidos. Os pais viram-se obrigados a fazer autocrítica e a admitir as suas limitações na educação política dos filhos.
O Politburo recebeu um relatório sobre a actividade "contra - revolucionária" na escola. Cópias pessoais do relatório foram enviadas ao líder do partido, Walter Ulbricht, e ao seu futuro substituto, Erich Honecker. A organização do Partido no interior da escola foi obrigada a admitir que falhara, a FDJ local foi criticada pelo seu papel "politicamente negativo" e as ligações entre alguns professores e o antigo regime nazi vieram a lume. (...) mas para Rainer o desastre foi pessoal e não nacional (...)
Velhos Muros
Na net encontrei este texto, bastante sugestivo.
As autoridades de segurança de Israel insistem, no entanto, que a barreira foi erguida para evitar ataques de homens-bomba em Israel e que seus limites foram ditados pela segurança.
Em casos anteriores, a Corte já havia apoiado peticionários palestinos e grupos de direitos humanos no esforço de redesenhar os limites, levando-os para perto da situação antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Atualmente, grande parte da barreira engloba assentamentos israelenses que estão fora do estabelecido em 1967. "In blog hebreu.
08 novembro 2009
aqui está um texto que eu subscrevo sem hesitar
2009-11-02
Agora, o despacho judicial que descreve a rede de corrupção que abrange o mundo da sucata, executivos da alta finança e agentes do Estado, responde-me ao que Silva Pereira fugiu: Que sim. Havia esse ambiente. E diz mais. Diz que continua a haver. A brilhante investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária de Aveiro revela um universo de roubalheira demasiado gritante para ser encoberto por segredos de justiça.
O país tem de saber de tudo porque por cada sucateiro que dá um Mercedes topo de gama a um agente do Estado há 50 famílias desempregadas. É dinheiro público que paga concursos viciados, subornos e sinecuras. Com a lentidão da Justiça e a panóplia de artifícios dilatórios à disposição dos advogados, os silêncios dão aos criminosos tempo. Tempo para que os delitos caiam no esquecimento e a prática de crimes na habituação. Foi para isso que o primeiro-ministro contribuiu quando, questionado sobre a Face Oculta, respondeu: "O Senhor jornalista devia saber que eu não comento processos judiciais em curso (…)". O "Senhor jornalista" provavelmente já sabia, mas se calhar julgava que Sócrates tinha mudado neste mandato. Armando Vara é seu camarada de partido, seu amigo, foi seu colega de governo e seu companheiro de carteira nessa escola de saber que era a Universidade Independente. Licenciaram-se os dois nas ciências lá disponíveis quase na mesma altura. Mas sobretudo, Vara geria (de facto ainda gere) milhões em dinheiros públicos. Por esses, Sócrates tem de responder. Tal como tem de responder pelos valores do património nacional que lhe foram e ainda estão confiados e que à força de milhões de libras esterlinas podem ter sido lesados no Freeport.
Face ao que (felizmente) já se sabe sobre as redes de corrupção em Portugal, um chefe de Governo não se pode refugiar no "no comment" a que a Justiça supostamente o obriga, porque a Justiça não o obriga a nada disso. Pelo contrário. Exige-lhe que fale. Que diga que estas práticas não podem ser toleradas e que dê conta do que está a fazer para lhes pôr um fim. Declarações idênticas de não-comentário têm sido produzidas pelo presidente Cavaco Silva sobre o Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre o BPN, sobre a SLN, sobre Dias Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo o mais que tem lançado dúvidas sobre a lisura da nossa vida pública. Estes silêncios que variam entre o ameaçador, o irónico e o cínico, estão a dar ao país uma mensagem clara: os agentes do Estado protegem-se uns aos outros com silêncios cúmplices sempre que um deles é apanhado com as calças na mão (ou sem elas) violando crianças da Casa Pia, roubando carris para vender na sucata, viabilizando centros comerciais em cima de reservas naturais, comprando habilitações para preencher os vazios humanísticos que a aculturação deixou em aberto ou aceitando acções não cotadas de uma qualquer obscuridade empresarial que rendem 147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem traduz-se na simplicidade brutal do mais interiorizado conceito em Portugal: nos grandes ninguém toca.
Mário Crespo , Jornal de Notícias
07 novembro 2009
Quando se consegue estar sentado numa cadeira, em silêncio, sozinho num quarto, teve-se uma grande educação
Elogio da Transmissão: O Professor e o Aluno, George Steiner e Cécile Ladjali, Lisboa: Dom Quixote, 2005.
05 novembro 2009
Rasoiras, rebarbadoras e tiros no pé
Foto: tentativa improvisada de um grupo de alunos para protecção contra a gripe A H1N1. (net)
04 novembro 2009
caminhando sozinha pela berma da estrada
Ilusão ( Ou o Que Quiserem), o romance de Luisa Costa Gomes, é a esplêndida narrativa de uma viagem de busca de projectos e de procura de sentido para a vida; de uma separação e de uma paixão. Afinal, um relato do quotidiano. Uma leitura necessária.
02 novembro 2009
À Espera De Godinho
Enquanto estamos à espera de Godinho, porque nos faz muita falta, nomeadamente,para animar os telejornais, para incentivar o fabrico de luvas em fábricas à beira da ruptura, para distraír os juízes que têm férias a mais, para animar lixeiras a céu aberto de resíduos tóxicos, para apressar a construção do TGV, já que vai recolhendo carris envelhecidos tão úteis à alta velocidade,para melhorar a recolha de inertes nas praias, a fim de, numa jogada genial, aproveitar o buraco resultante e construir piscinas radioactivas ecológicas, com vista à construção de resorts de luxo para o Vale De Azevedo poder ser importado de Londres, porque temos cá falta de larápios com pinta, enquanto esperamos ansiosamente por Godinho, eu ando a caçar um rato que me entrou pela varanda e se escondeu atrás de um sofá. Já pensei em chamar a Protecção Civil, mas tenho medo que me apareça de Vara em punho e, assim, queira assassinar o pobre ratito, ou atirá-lo pelos Penedos e provocar mais um desastre incontornável.
Instigante
01 novembro 2009
E o velho Tejo beija a cidade enamorada
O inquérito do Marquês do Pombal, enviado a todas as paróquias do país para apurar a ocorrência e efeitos do terramoto, foi a primeira iniciativa de descrição objectiva no campo da sismologia, razão pela qual o estadista português é considerado um precursor dessa ciência.
**as ruas passaram a ser largas, com um traçado geométrico e com passeios calcetados;
O terramoto provocou um efeito ciclópico também ao nível das mentalidades. Por um lado, assistiu-se à tendência generalizada para interpretá-lo como uma determinação divina, provocando na população um sentimento de expiação perante um castigo do Altíssimo. Por outro lado, defendidas por algumas correntes do pensamento iluminista, surgiram outras interpretações, que encontraram nas causas naturais a justificação para tão terrível acontecimento, considerado como um dos que tiveram maior impacto mediático em todo o mundo.