11 novembro 2009

"Morrem cedo os que os deuses amam"

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Vírgula

Eu menino às onze horas e trinta minutos
a procurar o dia em que não te fale
feito de resistências e ameaças — Este mundo
compreende tanto no meio em que vive
tanto no que devemos pensar.

A experiência o contrário da raiz originária aliás
demasiado formal para que se possa acreditar
no mais rigoroso sentido da palavra.

Tanta metafísica eu e tu
que já não acreditamos como antes
diferentes daquilo que entendem os filósofos
— constitui uma realidade
que não consegue dominar (nem ele próprio)
as forças primitivas
quando já se tem pretendido ordens à vida humana
em conflito com outras surge agora
a necessidade dos Oásis Perdidos.

E vistas assim as coisas fragmentariamente é certo
e a custo na imensidão da desordem
a que terão de ser constantemente arrancadas
— são da máxima importância as Velhas Concepções
pois
a cada momento corremos grandes riscos
desconcertantes e de sinistra estranheza.

Resulta isto dum olhar rápido sobre a cidade desconhecida. Mais
E abstraindo dos versos que neste poema se referem ao mundo humano
vemos que ninguém até hoje se apossou do homem
como frágil véu que nos separa vedados e proibidos.

António Maria Lisboa

AML nasceu em Lisboa no dia 1 de Agosto de 1928 e aí faleceu em 1953.
Com Mário Cesariny escreveu Afixação Proibida, um importante manifesto do Surrealismo português que iniciou este movimento em Portugal. Apesar de inserida no Surrealismo, a obra de António Maria Lisboa apresenta uma faceta ocultista e esotérica que a torna particular. Morreu de tuberculose, a 11 de Novembro, com apenas 25 anos, mas a sua curta obra constitui indiscutivelmente um marco na literatura portuguesa. Durante a sua vida, António Maria Lisboa acreditou sempre no Surrealismo como liberdade e poesia totais, como se pode depreender da sua escrita.

* Philip Glass - Mad Rush
Imagem: quadro do surrealista H. Risques Pereira

1 comentário:

Bruce disse...

Aplaudo, recto, tamanha genialidade.