20 março 2009

Onde está o futuro?

«O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades.»
(Almada-Negreiros)

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Depois de uma discussão acesa sobre os destinos da educação (que não temos) em Portugal, resolvi ouvir o que me faltara da entrevista que o ex-ministro das Finanças de Soares deu à SIC, no passado dia 9.
Ok, os depoimentos catastrofistas de Medina Carreira têm alimentado uma certa cultura do pessimismo que nos é familiar e que acentuam a apagada e vil tristeza em que o país anda mergulhado. As soluções que apresenta – não o são. São queixas, cuja principal característica é o facto de constituírem dificuldades. E ao que parece sem soluções à vista. É claro que diz verdades insofismáveis - a da falta de rigor, exigência e discplina na educação, e aqui foi bastante assertivo quanto ao tamanho do pedregulho na bota do governo - a base de tudo é, sem dúvida, a educação.

Mas nada do que o sr. ex-ministro disse foi novidade. Assumindo o papel de pessimista de serviço, Medina Carreira veio enfatizar o que todos nós, de forma rumorosa ou em altos berros, dizemos pelo menos uma vez por dia, cinco vezes na semana (os que têm sorte).
Todavia, sublinhou não só os problemas que ele sabe que nós sabemos que o governo sabe; não só o nosso espírito infantil ao encarar os destinos do país como uma brincadeira; não apenas o nível rasteiro (sic) da economia actual, equivalente ao dos últimos anos da monarquia.

O que o sr. ex-ministro disse é que a colectividade não tem a noção dos problemas.
O que o sr. ex-ministro quis dizer é que 9.900.000 portugueses não pensam.

Se só existisse o que é susceptível de ser pensado, poderíamos descansar: se os portugueses não pensam é porque os problemas não existem, portanto os portugueses não têm problemas, porque ninguém pode ter uma coisa que não existe.
Ó senhores, os portugueses andam iludidos – os problemas não existem!
Excepto quando Medina Carreira é entrevistado na SIC por um grande Mário Crespo de fraco contraditório. E que ainda ouviu o remoque: quando os senhores arranjarem um programa de uma hora para a gente conversar...

(Com mais meia hora de entrevista e tinhamos engolido a tal noção em dose dupla. Depois, era ver quem chegava primeiro à Boca do Inferno, lá para Cascais, para mergulhar nas ondas. Ao menos tinhamos a certeza de morrer com alguma finesse.)

2 comentários:

clara disse...

O mais intrigante foi quando ele sugeriu como remédio um regime presidencialista-sempre o velho sebastianismo!
Claro que diz verdades, mas se não aponta caminhos a não ser o tal presidente...então para isso vamos buscar o sr. D.Duarte, sempre tem mais glamour.

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

Não ouvi a entrevista , enviaram-ma transcrita, li-a cuidadosamente , aliás, como te li , logo que publicaste , e fiquei-me a interrogar sobre o dispositivo que existe em mim , que me leva a regozijar-me com tudo o horrível que disse de Portugal e dos Portugueses... Devia ficar triste ?
Abraço
___________ JRMARTO