11 maio 2009

A Conferência

Sábado houve festa na nossa agência. Um dos mais conhecidos e, seguramente, o funcionário mais bem sucedido, veio fazer-nos uma visita e integrar-se numa acção de formação prevista nos novos contratos individuais de trabalho.
Tratou-se de fazer uma breve palestra onde falasse das razões do seu sucesso. Tipo, façam como eu e vejam no que dá…
Foi da maior importância a preparação desta vinda, toda a agência se mobilizou e todos acharam necessário ter um ar engravatado e bem vestido. O sector feminino teve a ida ao cabeleireiro facilitada pelas chefias.
Era preciso que a assembleia tivesse um ar selecto, fino, que se mostrasse ser um target prestável e integrado nos objectivos da lógica gestionária da empresa.
E assim foi.
Sentados e alinhados na sala ampla e bem iluminada, alcatifa espessa abafando os passos, sentia-se no ar um cheiro a perfumes caros e a laca barata.
Em minha opinião, a participação do dito cujo na formação foi um sucesso.
Achei-o enfatuado, petulante e um tanto vaidoso. Mas eficaz no que nos propôs, isso sim.
E, além disso, foi, para os colaboradores da empresa, toda uma aprendizagem de como comunicar. Tudo pensado, desde a melena caída na testa até ao tira-e-põe dos óculos, sobretudo o “tira”, nos momentos chave, quando era preciso virar-se para a plateia com o olhar baço dos míopes, fazendo um estudado trejeito com o lábio superior….
O começo foi, logo, arrasador: “a partir de agora, nada de doutor ou senhor, usem só o meu nome, chamem-me simplesmente… Aníbal" disse, enquanto arregaçava as mangas da camisa.
Dali para a frente foi sempre a “subir”.
As mulheres ficam a olhá-lo extáticas, embriagadas das propostas que tem e que são, na sua opinião, a base de todo o sucesso. Os homens, querem todos ser como ele e as chefias sentem-se recompensadas e compreendidas. Afinal, se todos os funcionários o copiassem, outro retorno haveria nos balcões… sobretudo em época de crise.
Não ficou para o almoço. Ainda tentei um contacto, quando à saída me estendeu a mão com ar ausente e disse-lhe com o tom que tinha absorvido na conferência:
- Sabe,Aníbal, descobri hoje, consigo, que este é também o meu “cup of tea”…
Não respondeu, suponho que tinha de estar em breve numa outra agência.
O tempo para os excelentes é sempre curto.

8 comentários:

clara disse...

É o poder mediático que está na ordem do dia.
É o parecer em vez do ser.
Uma forma de poluição, como sair deste tentáculo?

Anónimo disse...

A quem parece ser, o que não è, mas, faz ser quem não è, portanto è válido, seremos o que parece.

Anónimo disse...

Já agora a resposta a Clara.
- SENDO.

Marta disse...

fez-se sorrir a sua ironia :) aqui e ali mordaz! e consegui ver perfeitamente o "filme"!

Unknown disse...

A AGÊNCIA NÃO FICOU ENRIQUECIDA, MAS FICOU DIVERTIDA !.........

clara disse...

Resposta a mim:

Ó senhor filósofo, não percebi nada, niet!
É o manto diáfano da fantasia?

Anónimo disse...

Como este senhor Anibal, há muitos para aí que se julgam senhores e donos da arte de seduzir através das palavras e dos gestos estudados e mecanicamente praticados ao longos dos dicursos...Cultivam a distância com forma de serem diferentes e de tão notáveis e vaidosos que são, não passam de serem ainda mais vulgares que os outros...
CM

A.Carvalho disse...

No Reino do Pavão
Embirro com todos os Pavões.
São do top da linha dos vaidosos
De peito estufado sacudindo as luminosas as assexuadas penas do trazeiro desde os USA ao mal frequentado local onde resido. Pensou Pavão
-Sou o mais Belo
Sou o mais inteligente..
Sou o Melhor
Que parvalhões, donde saiu este Povão
Pavoniou, irritou, e pouco mais.
Faltou um espelho, só um espelho para pavão se ver.
Vou pedir ao Rei deste local que decrete lei para o abate obrigatório dos Pavões.
A.C