05 maio 2009

O começo

"...Se não existe uma árvore suficientemente fiável para a origem de todas as línguas, também não é seguro que tenha havido uma só origem para a linguagem. A maior parte dos linguistas considera este último problema insolúvel. É um pouco como o problema de saber se houve uma só origem para a vida na Terra; muitos biólogos pensam que sim, uma vez que existe um único tipo de aminoácidos sintetizados pelas células vivas, quando poderiam existir dois, de estrutura química oposta. De qualquer modo, Greenberg chamou a atenção para o facto de existir pelo menos uma etimologia comum a todas as famílias linguísticas: trata-se da raíz tik, que pode indicar quer um dedo, quer o número um (uma variação semântica que não precisa ser explicada, se pensarmos o modo como indicamos o número um com um gesto); nalgumas línguas encontram-se outras mudanças semânticas que ainda parecem aceitáveis, por exemplo mão ou até braço. Em França tem-se doigt, que vem da raíz latina digit, em italiano dito, em português dedo.
Com base neste exemplo, dois linguistas americanos (Bengston e Ruhlen) propuseram outras raízes universais ou quase. Mas será, indubitavelmente, necessário muito tempo para que estas recentíssimas investigações tenham o aval de outros linguistas. Infelizmente, o número de palavras com que se pode contar para estas investigações é limitado. Geralmente, trata-se de palavras que indicam partes de corpo, pronomes pessoais, alguns advérbios, os números um, dois, três e poucas outras. Não é surpreendente que sejam os nomes altamente conservados na evolução linguística, o que se aprende primeiro (a mãe ensina ao filho: olhos, nariz, boca, etc)..."
Luigi Luca Cavalli-Sforza in Genes, Povos e Línguas

5 comentários:

manuela disse...

Esta pintura do Brüghel lembra-me sempre o Mont Saint-Michel. Sei não...

Paulo disse...

... e cá andamos às voltas com o Cavalli-Sforza e os genes e os povos e as línguas...obrigado, Manuela!

Paulo disse...

...será que um dedo esticado para cima,"insulto" comum a muitas linguas e muitos povos é prova do tal tronco comum das várias famílias linguisticas?:):)

Anónimo disse...

E nos tempos que correm, a digitação cada vez mais substitui a oralidade :)

lmss

manuela disse...

Talvez, Paulo, e vais direitinho ao Chomsky e aos princípios gramaticais inatos que todas as línguas terão recebido como herança.

Um excêntrico, este Chomsky. :)))

É um assunto fascinante e quase mágico.