21 maio 2009

Vergonha


O texto que se transcreve é da autoria de Rui Peres Jorge e foi hoje publicado no Jornal de Negócios.
A dimensão da falta de dignidade com que actua a elite que ocupa os lugares de decisão nos vários níveis do aparelho de estado e a prática de saque e delapidação dos bens públicos que sistematicamente executa em benefício próprio, terá consequências dramáticas para a maioria dos cidadãos deste país. Claro que esta gente, que sairá incólume de tudo isto, continuará a ser ouvida nos telejornais e dará mesmo inúmeras opiniões sobre a "crise" e a forma de sair dela ("são necessários sacrifícios", "redução de salários", "cortes nas despesas", dirão).
Vai ser preciso muito tempo, várias gerações, até que este país se torne um espaço habitável e limpo, até que haja uma consciência cívica e uma opinião pública fortes, que isolem e impeçam a sociedade de dar origem a este tipo de biltres.
Não o veremos nós.
Saúde-se entretanto o profissionalismo e a dignidade dos jornalistas que nos abanam as consciências.
Parabéns Rui Peres Jorge.

Vítor Constâncio e a sua equipa de administradores vão ser aumentados em cerca de 5% este ano, um aumento que também vai ser aplicado aos administradores da Anacom, liderada por Amado da Silva, e da Autoridade da Concorrência, liderada por Manuel Sebastião, ex-administrador do Banco de Portugal.
O aumento é justificado pelo facto de em 2008 estes reguladores não terem recebido qualquer aumento o que, em vez de uma opção, foi, afinal um lapso. Por essa razão estes conselhos de administração serão aumentados em cerca de 5% este ano, o que equivale aos aumentos da função pública de 2,1% de 2008 e de 2,9% em 2009.
A notícia é avançado hoje pelo jornal “i”, que afirma que o “lapso do Banco de Portugal deixou os reguladores sem aumentos”, isto porque os aumentos de entidades como a Anacom e a Autoridade da Concorrência dependem das actualizações salariais definidas para o Banco de Portugal.
Segundo o mesmo jornal, fonte oficial do banco central garante que o lapso de 2008 será agora corrigido, frisando que ao aumento de 5% este ano não se juntarão retroactivos pelo aumento de 2,1% de que não beneficiaram em 2008. A decisão de níveis salariais e aumentos no banco central é decidida pelo ministério das Finanças.
No ano passado, após a publicação pelo Jornal de Negócios de uma comparação de salários entre governadores de bancos centrais do mundo, Vítor Constâncio, em declarações à Lusa, afirmou que “já tenho dito que deveria haver uma redução [no salário do governador do Banco de Portugal]”, acrescentado: esse salário não depende de mim”.
O salário de Vítor Constâncio – e por arrasto de outros reguladores – é decidido por Teixeira dos Santos que, definiu para 2007, uma remuneração anual de 250 mil euros, cerca de 18 vezes o rendimento nacional per capita, o que, por esta medida, faz de Constâncio um dos banqueiros centrais mais bem pagos do mundo.
“Aumento de 2,9% na função pública não teria justificação neste momento”, afirmou Constâncio em Abril
Em Abril, após o Banco de Portugal ter revisto a previsão de crescimento da economia portuguesa para uma contracção de 3,7% este ano – confirmando a pior recessão de três décadas em Portugal – e de ter previsto uma deflação de 0,2% em 2009, Vítor Constâncio afirmou que "é evidente [que a actualização de 2,9 por cento para a função pública] não teria justificação perante uma previsão de inflação de -0,2 por cento".
A Comissão Europeia prevê que as remunerações médias reais por empregado, quando deflacionadas pela inflação, recuem 0,4% este ano, reflectindo o forte aumento do desemprego e o efeito de mecanismos de ajustamento salariais negociados entre empresas e trabalhadores, como por exemplo, o lay-off, onde se prevê uma suspensão temporária da produção, com consequente redução de horas de trabalho.

1 comentário:

Marta disse...

«Vai ser preciso muito tempo, várias gerações...»

Já é bom acreditar que sim!